A verdade nos liberta e aproxima as pessoas de Deus
Acredito que um dos maiores desafios que travamos diariamente é assumir ou negar a verdade. Estamos no século da modernidade, e a tecnologia, cada vez mais desenvolvida, lança sobre nós as redes que nos penduram entre o social e o virtual, o real ou imaginário. Ter a coragem de optar pela verdade é um exercício que parte das pequenas escolhas e nos seguem até nos momentos mais importantes de nossa vida. Já sabemos que a verdadeira felicidade tem seu alicerce na verdade, portanto, só consegue ser feliz quem assume com coerência sua história, seja ela qual for.
Nos atendimentos de oração e aconselhamentos que realizamos na Canção Nova, tenho percebido que, cada vez mais, as pessoas têm dificuldades de assumir a sua verdade. Com isso, tornam-se infelizes, sentem-se presas às situações passadas e, em alguns casos, até ficam deprimidas, ou pior: entram no mundo das drogas e dos vícios, tentando mascarar a dor.
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Qual é o seu interior?
Outro dia, enquanto atendia uma senhora, percebi que ela falava de maneira superficial e não conseguia se expressar, o tempo passava e a partilha não fluía. Então, olhei bem nos olhos dela e perguntei: “Afinal, qual é a sua verdade? O que se passa em seu interior?”. Ela ficou surpresa diante da pergunta, desapontada talvez, mas tomou uma linda decisão: abriu seu coração. Em meio às lágrimas, aos poucos, foi revelando suas dores e medos ligados às situações vividas há mais de 20 anos. As lágrimas lavaram seu rosto e, certamente, o Espírito Santo também lavou seu coração, concedendo-lhe uma nova vida a partir daquela experiência. Não é uma tarefa fácil encarar a verdade, aliás, muitas vezes, isso é muito difícil, principalmente quando a história é marcada por grandes traumas e dores. No entanto, não há outra saída! Para sermos curados, precisamos assumir nossa história com tudo que ela traz, com dores e alegrias.
Jesus disse a Seus discípulos: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8,32), ou seja, a condição para sermos livres é conhecermos a verdade. Eu diria conhecermos e nos abrirmos ao processo de cura a partir do conhecimento. Não é o caso de parar na dor nem de levar a vida de qualquer jeito, pois Deus nos quer vivendo plenamente, e é por isso que Ele nos propõe a coerência como meio para a cura e a felicidade plena. Da nossa parte, precisamos ir além. Por exemplo: você já parou alguma vez para se perguntar quem você realmente é? Você conhece suas raízes? Qual é a sua verdade? São Francisco de Assis dizia que o homem vale o que é diante de Deus e mais nada, ou seja, vale a sua história.
Nosso valor
O valor que temos não está no carro que possuímos nem na profissão que exercemos, tampouco na imagem que tentamos passar para as pessoas. Nosso valor está no fato de sermos o que somos diante de Deus e mais nada.
Já temos uma identidade própria, somos filhos de Deus e não precisamos criar um personagem irreal para alimentar uma ideia a nosso respeito longe da realidade. Aliás, essa tem sido mais uma maneira de “fugir das dores da vida”, mas, como pode ser livre quem age assim? E se não é livre, como pode ser feliz?
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Como cristãos, temos uma responsabilidade dobrada com relação à verdade, e isso começa por assumirmos a nossa realidade e, a partir dela, testemunharmos a Misericórdia de Deus. Não tenha vergonha da obra que o Senhor já realizou na sua história. Ela, por mais difícil que tenha sido, é muito valiosa, pois é a partir dela que Ele quer agir. “Deus é luz e n’Ele não há trevas alguma“, diz a Sagrada Escritura, portanto, para que a luz de Deus Pai ilumine nossa vida, precisamos fazer as pazes com os acontecimentos que nos marcam.
Alcançar a felicidade
“Grande caridade é viver na verdade”, escreve o Papa Bento XVI em sua encíclica Caritas in veritate. É certo que precisamos dar mais atenção ao assunto, pois, querendo ou não, em nossos dias nós nos vemos cercados por superficialidades e disfarces. Desde a maquiagem aos relacionamentos, temos constantemente a oportunidade de fugir da realidade. Está claro que o desafio para viver a coerência é cada vez maior, mas se quisermos alcançar a felicidade, não podemos fugir dos desafios que aparecem em nosso caminho.
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” diz o Senhor; portanto, não tema romper com as trevas da mentira e acolha a luz que brilha a partir da verdade. Siga o exemplo da senhora, à qual fiz referência no início do texto, e tenha a coragem de abrir seu coração, mesmo que isso lhe seja custoso. Dessa forma, você verá, certamente, que aquela dor já não tem tanto poder sobre você.
Faça a opção pela verdade diante das oportunidades que tiver de escolher e não deixe que a falta de coerência roube a liberdade que o próprio Senhor já conquistou para você na cruz. Termino com um conselho da beata Madre Teresa de Calcutá: “Acenda a luz da verdade na vida de cada pessoa que encontrar, para que deste modo Deus continue amando e iluminando o mundo por meio dela e de você.”