Jesus, na cruz, ensina-nos um grande segredo para a cura do ressentimento: declarar o perdão
Para perdoar os outros, devemos sempre nos lembrar de como Deus nos perdoou em Cristo. Devo perdoar quem me ofendeu, não porque eu seja bom ou a pessoa seja boa, não porque a pessoa mereça ser perdoada; afinal de contas, se formos tentar saber se a pessoa tem ou não tem culpa, se fez aquilo consciente ou inconscientemente, acabaremos por cair no murmúrio, pois, naquele momento, nosso coração está ferido e machucado pelo erro do outro. Numa situação assim, ninguém consegue pensar corretamente. Logo, para evitarmos qualquer possibilidade de alimentar a mágoa, o segredo é perdoar imediatamente, assim como o Senhor nos perdoa. Para isso é preciso nos revestirmos da caridade.
Caridade não é dar alguma coisa a alguém. Isso é filantropia. Caridade é dar-se inteiro a alguém que não merece! Foi isso que Jesus fez por mim e por você, foi isso que Ele fez pela humanidade inteira. Ele se ofertou, inteiramente, a todos, inclusive àqueles que estavam sendo usados para crucificá-Lo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
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Declare o perdão
Independentemente do fato de o outro merecer, eu preciso perdoar e declarar o perdão. Ao rezar ao Pai, pedindo que perdoasse aqueles que o estavam matando, Cristo nos ensinou uma oração de cura do ressentimento, para ser usada em todas as circunstâncias, inclusive naquelas em que não estamos conseguindo perdoar. Ao pedir ao Pai que perdoasse aquelas pessoas, Jesus nos ensinou a contar com Ele nas situações mais difíceis de nossa vida.
Ele nos mostrou que o Pai está sempre pronto a nos ajudar a perdoar. Ensinou-nos também que, quando não conseguimos perdoar, devemos pedir ao Pai que perdoe em nosso lugar. Mas está implícita também, na oração do Senhor, a verdade de que toda ofensa dirigida a alguém sempre termina por acertar no coração do Pai. Tudo o que fazemos de mal a alguém atinge também o coração do Pai, pois Ele nos ama e nos fez imagem e semelhança d’Ele.
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Como imagem e semelhança que somos de Deus, precisamos dar um passo a mais e nos transformar em filhos do Pai do Céu. Só nos tornamos verdadeiramente filhos de Deus quando passamos a agir como Ele. Quando não perdoamos, assemelhamo-nos ao encardido e, aos poucos, tornamo-nos filhos dele, quando o reproduzimos em nossos sentimentos e atitudes. O filho deve ter a cara do pai, pois traz consigo o sangue dele. Se fizer um exame genético no filho, acaba-se por descobrir o pai. Por isso tanta gente faz o exame de DNA.
Quando cheguei a Nagoya, uma das maiores cidades do Japão, vi um jovem com uma camiseta na qual estava estampada a sigla DNA, e sobre ela algo que um dia eu disse num acampamento da Canção Nova: “Deus, nosso Autor!”. Fiquei tão feliz em ver uma frase que tive a inspiração de dizer estampada naquela camiseta! Imagine, então, a alegria de Deus quando vê estampado em nosso coração o amor que Ele semeou em nós! Somente pelo perdão vivido explicitamente é que nos tornamos, de fato, filhos e filhas de Deus. Enquanto não perdoamos, estamos vivendo como se fôssemos adotados pelo encardido. Aliás, muitas vezes, comportamo-nos assim.
É preciso perdoar sempre e perdoar especialmente os que não merecem nosso perdão. Esse é o segredo que nos faz agir como filhos de Deus.
Trecho extraído do livro “A Cura do Ressentimento” do saudoso padre Léo, scj