“Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (Ap 21, 3-4).
Muitos podem ser os sentimentos que surgem diante da perda de alguém que você ama. Dor tristeza, raiva, interrogações. Tudo isso faz parte desse processo.
Vivemos um momento em que praticamente a humanidade está de luto, afinal, diariamente recebemos notícia do falecimento de pessoas próximas a nós.
Na busca por compreender esse tema, e quem sabe ajudar o próximo, tenho refletido e conversado com um amigo de longa data, especialista em luto, o padre Lício de Araújo Vale. Em nossas reflexões, temos percebido que apesar de fazer parte da vida, a morte nunca é vista como algo natural.
O luto envolve uma mistura de sentimentos
A finitude chega de diversas formas. Quem enfrenta ou enfrentou esse momento viu-se envolvido por sentimentos como dor, saudade, tristeza, revolta e interrogações.
Graças a Deus, a fé e o amor têm sido a grande força para reerguer quem enfrenta o vazio da perda de um ente querido. Muitos testemunham como a morte não tem a última palavra. O segredo para encarar a escuridão da morte é um intenso trabalho de amor. Na oração, nos unimos ao Senhor da Vida e podemos invocar desta maneira: “Meu Deus, clareia as minhas trevas!”. Em sua Ressurreição, Cristo não abandonou nenhum filho do Pai das Misericórdias. O Apóstolo Paulo afirma que é possível tirar o “ferrão venenoso” da morte (1 Cor 15, 55). Dessa forma, podemos impedir que a morte envenene a vida, estrague afeto ou nos jogue no vazio mais escuro.
Tomando por inspiração, a passagem bíblica do filho da viúva de Naim, o Papa Francisco comenta: “em seguida, Jesus foi a uma cidade chamada Naim. Os seus discípulos e uma grande multidão iam com ele. Quando chegou à porta da cidade, coincidiu que levavam um morto para enterrar, um filho único, cuja mãe era viúva. Uma grande multidão da cidade a acompanhava. Ao vê-la, o Senhor encheu-se de compaixão por ela e disse: ‘Não chores!’ Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o carregavam pararam. Ele ordenou: ‘Jovem, eu te digo, levanta-te!’ O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe” (Lc 7, 11-15).
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A experiência do luto e um laço de solidariedade
A comovente cena mostra a compaixão de Jesus por quem sofre e também o poder de Jesus sobre a morte. A passagem bíblica revela uma experiência familiar muito triste: uma viúva que perdeu o único filho. “Para os pais, perder o próprio filho é algo particularmente desolador, que contradiz a natureza elementar das relações que dão sentido à própria família. A perda de um filho ou de uma filha é como se o tempo parasse: abre-se um buraco que engole o passado e também o futuro. A morte, que leva o filho pequeno ou jovem, é um tapa nas promessas, nos dons e sacrifícios de amor alegremente entregues à vida que fizemos nascer”, com essas palavras que o Papa Francisco busca descrever essa experiência dramática.
A fé é o consolo que podemos levar ao próximo. Por isso, o caminho é fazer crescer o amor, tornando-o mais sólido, e o amor nos protegerá até o dia em que toda lágrima será enxugada, quando ‘não haverá mais morte, nem lamentação, nem dor’ (Ap 21, 4). Se nos deixamos apoiar por esta fé, a experiência do luto pode gerar uma solidariedade mais forte dos laços familiares, uma nova abertura à dor das outras famílias, uma nova fraternidade com as famílias que nascem e renascem na esperança. Nascer e renascer na esperança, isso nos dá a fé”, ensina o Papa.