O tempo do Advento é um convite solene da Igreja para a preparação do coração, um itinerário espiritual que nos conduz à celebração do Natal do Senhor. Não se trata apenas de uma festa externa, mas de uma profunda transformação interior. A liturgia do 2º Domingo do Advento (Ano A) nos oferece sinais claros e urgentes para essa jornada: a fragilidade da esperança e o imperativo da conversão pessoal.
A fragilidade da esperança e a virtude da humildade
A primeira leitura, extraída do profeta Isaías (Is 11,1-10), apresenta uma imagem poderosa e paradoxal: “Do tronco de Jessé sairá um rebento, e de suas raízes brotará um ramo” [1]. Jessé, pai do Rei Davi, representa a dinastia antiga, um tronco aparentemente cortado e sem vida. Desse tronco, brota uma haste modesta, frágil e pequena. Essa fragilidade é o mistério da nossa salvação.
Sobre esse rebento, repousará o Espírito Santo de Deus. O Senhor escolhe o pequeno, o frágil, para manifestar a Sua glória e salvar toda a humanidade. Essa imagem nos ensina a primeira grande virtude do Advento: a humildade. O humilde é aquele que reconhece a sua pequenez e a sua dependência de Deus. É a virtude que nos permite alargar o coração e crescer, pois, como ensina a reflexão, “somente aquele que reconhece que é pequeno é capaz de chegar a lugares mais altos.” A humildade é o reconhecimento de que tudo o que temos de bom é dom de Deus, e não obra de nossas próprias mãos.
A voz que clama no deserto, conversão pessoal
A voz de São João Batista, proclamada no Evangelho, ressoa com a mesma urgência de outrora: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3, 1-12). A mensagem é direta e pessoal. Não existe conversão familiar, comunitária ou mundial que não passe pela conversão pessoal. Muitas vezes, justificamos nossos erros pelos erros dos outros, mas a Igreja, como Mãe, nos pega pela mão e nos mostra a direção: é preciso preparar-se para a vinda do Senhor, e essa preparação é individual.
Leia mais:
.: A experiência de quem já fez o Retiro da Boa Morte
.: Viva o Advento como um tempo de espera e esperança
.: 1º Domingo do Advento | Preparando o coração para Cristo
A vinda do Senhor é iminente, e a conversão é o caminho para acolhê-lo. O orgulho e a soberba, que buscam a exaltação própria e se julgam “o rei da razão,” são os maiores obstáculos. A verdadeira conversão exige a humildade de olhar para dentro e reconhecer as próprias faltas.
O tribunal do perdão, o sacramento da confissão
A preparação para o Natal passa, necessariamente, pelo Sacramento da Confissão. O confessionário é o “tribunal do perdão,” onde a acusação de si mesmo é o caminho para a misericórdia de Deus. O sacerdote não está ali para julgar, mas para estender a mão e levantar o penitente, repetindo as palavras de Jesus: “Vai e não peques mais.”
A Confissão é o ato de devolver a Deus a caneta da nossa história, permitindo que Ele a reescreva. Nossos pecados, por piores que sejam, não mudam o amor de Deus por nós. A absolvição é como uma gota de água jogada no grande oceano da misericórdia, purificando-nos e nos deixando prontos para recomeçar.
O retiro da boa morte, organizar a casa do coração
O saudoso Padre Jonas Abib, fundador da Canção Nova, ensinava a prática do Retiro da Boa Morte, uma devoção que nos convida a organizar a vida, pois um dia morreremos. A morte é apenas uma passagem, a nossa Páscoa, e Deus nos preparou uma morada eterna. Pensar na morte nos faz viver melhor, pois nos afasta da ilusão de que “tudo se resume a estes dias” e nos alerta contra um coração ganancioso, voltado apenas para as coisas deste mundo.
O Retiro da Boa Morte possui duas dimensões:
- Ordem Externa: Organizar a vida material, as gavetas, o guarda-roupa, e praticar a caridade, doando o que não usamos mais. A ordem, segundo São Tomás de Aquino, é uma das provas da existência de Deus: “Onde o nosso Senhor está, tudo fica no lugar.”
- Ordem Interna: Fazer um bom exame de consciência, olhar para dentro de si e organizar a casa do coração. É a oportunidade de pedir perdão e se reconciliar.
Organizar a casa do coração é a finalidade para a qual fomos feitos. Somente assim seremos capazes de ser aquilo que Deus quer que sejamos, e a força do Evangelho atingirá todos ao nosso redor.
Que, neste 2º Domingo do Advento, peçamos a graça de alargar o coração e de viver a humildade e a conversão com urgência e profundidade.






