Vamos ser artistas?

A escuta é uma arte onde poucos são os artistas.
Escutar uma pessoa significa muito mais do que colher dela aquilo que ela está nos dizendo. É preciso que compreendamos o que está por detrás daquilo que ela está querendo nos dizer.

Um dia ouvi uma pessoa dizendo “que todos estavam perseguindo ela, e que não a estavam deixando em paz”.

Se eu parasse somente no conteúdo de palavras que esta pessoa me falou, logo acharia que ela estava exagerando, pois nem todas as pessoas estão perseguindo ela, e nem todas as pessoas lhe tiram a paz. Logo eu me inclinaria a duas coisas: achar que aquela pessoa não tem problema algum, que é tudo coisa da sua cabeça; ou logo eu já a aconselharia uma solução dentro daquilo que foi o meu ponto de vista para a situação que ela me apresentou.

Eu estaria errado nas duas situações. As pessoas quando nos procuram querem ser entendidas, compreendidas, acolhidas. Nem sempre quando as pessoas nos procuram elas querem saber das nossas soluções para os seus problemas. Muitas vezes elas precisam somente de pessoas que estejam dispostas a escutá-las.

E para que esta escuta não seja somente o ato de ouvir palavras, é preciso a arte da escuta.
E para que de fato eu compreenda aquilo que você quer me dizer, eu posso fazer algo a mais do que lhe dar os meus ouvidos. Posso sentir na pele o que você sentiu, tentar pensar como você pensa, enxergar com os teus olhos. Pois se eu assim não fizer, corro um grande risco de julgar que você não tem problema algum. Entretanto, se eu tivesse vivido tudo o que você viveu, de certo saberia o porquê se sente assim. Se eu fosse filho dos teus pais, crescido com os teus irmãos, sido educado por seus professores, crescido no seu bairro, logo saberia o “porquê” desta tua reação.

Quando tenho essa atitude de me colocar em seu lugar, sem dúvida você se sentirá mais compreendido, e eu não somente te ouvirei, mas te entenderei. Não me preocuparei somente em preparar as minhas respostas, mas me preocuparei em te acolher.

Foi assim que Jesus fez quando se deparou com aquela cena da mulher adúltera: Jesus em meio a multidão não se preocupou em saber o porquê dela ter caído em adultério, não pediu explicações a ela e nem começou a fazer sermões corretivos para aquela mulher. Jesus somente se inclinou ao chão para ficar à sua altura e a acolheu.

Quando acolhemos o outro pela sua partilha entendemos como é ser o outro. E a pessoa acolhida provavelmente manifestará este sentimento de gratidão: “Graças a Deus! Alguém sabe como é ser eu!”

Escutar o outro vai além do que ter ouvidos, é preciso escutar com o coração…

Vamos ser artistas?