Vamos alinhar as luzes

“Como são interessantes essas pessoas que não conhecemos muito bem…” (Baltazar Gracián)

Até nós mesmos… Como está seu íntimo? O que passa pela sua inteligência? Que pensamentos surgem de repente em sua cabeça? Quantas vezes você olha sua face no espelho e não se reconhece? Encontra ali uma pessoa agressiva, dura, que acabou de cometer uma besteira. Talvez tenha falado demais, gritado, ofendido alguém.

Diante dos fatos da vida não sabe o que fazer. Sem saber que atitudes tomar, que caminho seguir, qual o melhor gesto ou palavra…
Que pessoas nessas horas você atropela com seu temperamento… Tímido, omisso, explosivo ou grosseiro?

Nesse momento você mergulha em sua vida íntima e descobre que tudo aconteceu por causa de suas feridas interiores.
Elas estão aí… Precisam ser curadas.

A vida íntima é uma força primitiva do espírito, avaliadora e criadora de valores, intensiva, capaz de atingir os graus mais variados.
A decisão de apertar ou não o botão que explode uma bomba nuclear, a decisão de assinar aquele divórcio, aquele cheque, fazer um crediário ou comprar aquela casa…

A decisão de xingar alguém, de acelerar o carro e fugir… a decisão de levantar e fazer ou não a mamadeira para o bebê que chora… a decisão mais difícil que você precisa tomar…

Todas as decisões passam por sua vida interior. São decididas primeiro dentro de seu coração, nos movimentos mais profundos de sua alma.

É a luta pessoal para resolver os problemas da vida íntima. É um tribunal de consciência que acontece em nossos pensamentos, nos quais somos os juízes de nossos atos e, ao mesmo tempo, o réu, o júri, o advogado de defesa e de acusação.

Nesse tribunal levantamos provas a favor e contra nós mesmos, nos julgamos inocentes ou culpados e nos enxergamos pelas lentes de nossa auto-imagem. É nesse tribunal que decidimos se nossa consciência vai pesar ou não, diante de nossas atitudes e pensamentos concretos, do dia-a-dia, quando paramos nossos trabalhos, quando nos aquietamos, quando nos encontramos sozinhos.

Mesmo em meio à confusão de ruídos que a presença ou a ausência de sua família faz, ruídos que são escutados na saudade de um amor, na decepção com outra pessoa, no centro de sua cidade… Você começa sempre a conversar consigo mesmo.

Os jovens pensam no futuro; os velhos no passado… E a cabeça não pára… A alma não se aquieta, sempre quer fazê-lo pensar,e em sua cabeça flui pensamentos, aos quais você precisa dar uma resposta, uma satisfação.

Somente Deus pode responder a essa alma que não se cansa de buscar algo maior, que justifique o seu existir. Nas horas de isolamento, a luta pessoal para resolver os problemas da vida íntima recomeça. É o próprio movimento de Deus em nós.

“Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco.”

Foi o que Jesus disse aos Seus apóstolos, e essa palavra está no Evangelho segundo Marcos, no capítulo sexto, versículo 31.

Quantas vezes você gostaria de interromper esse processo, mas não pode? Sua cabeça não pára de pensar.

“Nosso coração vive inquieto, na insatisfação, enquanto não repousa em Vós.”

Porque somos feitos para o Deus vivo e porque nossa alma só pode repousar nEle. E nessa hora é necessário alinhar as luzes, alcançar o porto seguro.

Quando um navio vai se aproximar de um cais para aportar, o prático ou o timoneiro tem de ser muito preciso e usar muita perícia para levar o navio com segurança até o lugar certo, no ancoradouro.

Não é qualquer lugar, mas o lugar certo. Para ajudar o responsável por “dirigir” aquele navio, evitando os perigos das águas litorâneas e rasas, o porto tem uma série de luzes instaladas na água e no litoral, a fim de orientá-lo e informá-lo, a cada momento, sobre sua posição.

Para saber que está na direção certa, livre de todos os perigos, o timoneiro tem de estar sempre numa posição tal que todas as luzes estejam enfileiradas.

Quando se olha para aquelas luzes e se enxerga uma só, é porque elas estão todas alinhadas. Enquanto as luzes estiverem assim ele sabe que o navio está percorrendo a trajetória certa. E seguindo dessa forma, mantendo sempre a sua direção por meio das luzes, o navio chegará seguro, sem perigo de naufrágio.

Vamos alinhar as luzes?

Do livro: “A luta pessoal para resolver os problemas da vida íntima”