Uma Páscoa pela Paz

É chegada a hora de prepararmos nossos corações para mais uma Páscoa. Festa Cristã que celebra a ressurreição de Jesus Cristo e que, por isso mesmo, está associada às idéias de renascimento, renovação e recomeço. O sentido da Páscoa é justamente nos fazer refletir sobre a vida e sobre a extrema capacidade de transformá-la para melhor. É como se renascêssemos em espírito. Como se recebêssemos, nesse período, uma luz adicional. Devemos entender que nessa época nos é concedida mais uma oportunidade de lançarmos olhares para o nosso interior, observando o que é possível aprimorar. E mais do que nunca é preciso que ampliemos esse exercício e possamos, assim, estender olhares à nossa volta, ao nosso município, ao nosso Estado, ao nosso País.

Não será surpresa se, nessa observação, depararmos com comunidades inteiras tomadas pelo medo da violência. É o caso de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, cada uma com seus milhões de habitantes. Pólos industriais e de turismo. Exemplos da riqueza nacional que, ao mesmo tempo, têm assistido a suas populações se tornarem reféns do terror e da insegurança generalizada.
Nesse contexto, na Páscoa de 2007, nossas orações, corações e mentes têm de estar voltados para levar todo o conforto possível às famílias daqueles que viram parentes e amigos vitimados pelo crime. O Brasil acompanhou, nos últimos meses, casos atrozes como o do menino João Hélio Fernandes – morto dia 7 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Na seqüência, vimos pelo noticiário a sucessão de informações sobre a morte de policiais militares e também de diversos brasileiros e estrangeiros vítimas de balas perdidas, assaltos e seqüestros.

Já em São Paulo, muitos são os casos de violência que, cotidianamente, também nos deixam atônitos, amedrontados. Vendo tudo isso à nossa volta, a pergunta que devemos nos fazer é: de que modo podemos aproveitar a Páscoa que se aproxima para fazer dela um instrumento de ação e de reflexão para e sobre a paz?
Podemos começar aceitando o fato de que grande parte da problemática da violência passa pela necessidade de criarmos oportunidades de ensino para crianças e jovens. Sabemos que existem pessoas que tiveram todas as circunstâncias favoráveis na vida e, mesmo assim, se entregam ao crime. Porém, essas representam exceções. A maioria abraça o banditismo por falta de um caminho melhor para seguir.

O mapa da violência divulgado pela Unesco/Datasul mostra que o homicídio é a maior causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos no Brasil. Com 16% da população brasileira, o Grande Rio e a Grande São Paulo concentram cerca de 42% dos crimes de morte registrados anualmente no País – cerca de 18 mil num total de 43 mil homicídios; 88% dos casos envolvem arma de fogo; a cada 25 mortes, 24 são de homens; e nos últimos vinte anos, o número de brasileiros assassinados aumentou 237%.
Nesse sentido, governo e sociedade têm de se unir na busca de soluções eficazes. Para isso, a sua participação na cobrança de programas e projetos voltados à educação é essencial. Como cidadão, é esse um dos principais exercícios de cidadania e, como cristão, é esse um grande ato de amor ao próximo. Paralelamente, você também poderá promover ou participar de debates que busquem soluções para o problema da violência em sala de aula, em grupos de discussão, na organização de campanhas em favor da paz no seu trabalho, na Igreja, nas associações e entidades de bairro.

Há tempos as nossas páscoas precisam ser esse misto de reflexão e também de ação. Lembremos que Cristo, nosso maior exemplo, teve uma vida de ação, de exposição de idéias, de peregrinação, de sacrifícios. Sua arma, entretanto, sempre foi a palavra. E é justamente dela que fazemos uso para lançar a todos vocês um convite: façamos em 2007 uma Páscoa pela Paz. E que ela nos leve a encontrar motivos suficientes para acreditar no sentido pleno desse renascimento, dessa transformação positiva capaz de favorecer a humanidade. E que, melhor ainda, tenhamos força e coragem para dar início às inúmeras mudanças necessárias ao mundo. Mudanças que, na maioria das vezes, têm início dentro de nós mesmos.