Um Sinal de Vida

Nossa vida é feita de pedaços interessantes e não existe nenhuma peça nesse quebra-cabeça que não tenha o seu devido lugar para se encaixar.

Passamos bons minutos pedindo algum sinal ou uma espécie de mensagem do céu e venha a nos confortar por esses dias, tão atribulados. E sequer percebemos que tudo o que precisamos compreender está à nossa volta, frente aos nossos olhos.

De uns tempos para cá eu vim repensando a minha vida e percebi que eu deveria mudar algumas coisas. Eu precisava nascer de novo e reencontrar certos caminhos esquecidos. E quantas vezes, meu Deus, eu pedi um sinal. Mas a intensidade dos meus pedidos era tanta, que mesmo se eu tivesse uma visão não seria suficiente, porque na verdade eu não queria um sinal, mas sim saciar este egoísmo que existia dentro de mim. Como se apenas eu tivesse o direito de ver Jesus. E então a vida me pregou uma peça. Uma boa peça…

Dois acontecimentos foram suficientes para eu perceber o quanto sou pequeno e ao mesmo tempo o quanto Deus se alegra por eu existir. Os “sinais”, que tanto pedi, finalmente aconteceram. Não foi nenhuma luz vinda do céu ou algum tipo de sonho, nada disso…

Esta semana perdi todos os meus documentos, e ao dar falta deles, percebi então que estava realmente “nascendo de novo”, afinal de contas, não tinha mais um nome, um número de registro, um endereço, nada. Percebi, contudo, que mais do que “renascer” para a sociedade, eu precisava renascer por dentro, sair da minha pose de auto-suficiência, do meu pedestal.

A vida é uma onda, que às vezes te leva às vezes te traz. E eu precisava voltar. Foi nessa hora que tive meu segundo sinal. Andando com meu pai pela cidade, encontramos um velho amigo dele. Um senhor já de idade avançada e com a cabeça bem branquinha. Ele perguntou ao meu pai se eu era filho também. Meu pai respondeu que sim, que eu era o “caçula” e acrescentou: “estamos numa correria, porque ele perdeu todos os seus documentos”. O amigo de meu pai então nos disse em seguida: “e esse mês eu perdi meu segundo filho…”

A dor que ele nos transmitia era tamanha, que eu pude sentir uma fisgada no peito. E me segurei para não chorar. Senti-me a última pessoa da Terra, percebi que não tinha problemas em minha vida ou do quê me queixar. E quando aquele “vovozinho” segurou em minhas mãos sem querer soltar, (certamente se lembrando do filho que morreu), eu percebi que Deus dá tantos sinais quanto os que você pode compreender.

Entendi que nessa caminhada que chamamos de vida, não precisamos de mais sinais. A nossa existência é o próprio sinal. Somos às vezes egoístas, nem um pouco humildes, mas mesmo assim Deus, em Sua infinita Misericórdia, nos dá diariamente a chance de renascer.

“-Mostra-nos o Pai e isso nos basta – disse Felipe.
-Há tanto tempo que eu estou com vocês e não me conhecem ainda?… Creiam ao menos por causa das obras que faço.” (Jo 14, 8.9.11)