Um nome para a dor

Muitas vezes, a vida é como uma corrida de obstáculos: existem provações e os mais diferentes tipos de sofrimento. Eis o motivo pelo qual devemos manter os olhos fixos em Jesus, ou melhor, em Jesus Abandonado.

Hoje eu gostaria de dirigir uma palavra principalmente àquelas pessoas – e tenho em mente algumas delas – que estão passando provações espirituais ou físicas e dizer-lhes: “Olhem para Jesus Abandonado e encontrarão a resposta”.

Jesus Abandonado, é na realidade o modelo a quem devemos olhar para ver como se superam as provações.

Um aspecto de Jesus Abandonado e talvez um dos mais dolorosos, é aquele de alguém que depois de ter permeado toda sua vida espiritual de fé no amor de Deus, passa a sentir-se, pelas circunstâncias, abandonado por Ele.

Também numa situação como esta devemos olhar para Jesus Abandonado. Não havia dito Jesus que todos o abandonariam, mas que o Pai estaria sempre com Ele? (cf. Jo 16,32).

Porém, no abandono verifica-se o contrário: o Pai parece abandoná-lo. É algo tremendo e trágico.

E o que faz Jesus? Emite aquele forte grito, mas depois se abandona novamente nas mãos do Pai.

Assim devemos fazer também nós nestas circunstâncias.

São momentos, penso eu, que valem muito diante de Deus.

Jesus, com o seu abandono, cumpriu a Redenção.

Nós, com o nosso abandono unido ao seu, realizaremos a nossa purificação. E ajudaremos quem sabe quantos irmãos!

Jesus Abandonado é realmente a solução de todos os problemas. Nele nunca teremos desilusões, mas pelo contrário, a explicação de todas as nossas provações.

E então, coragem! Olhos fixos nele para superar todos os obstáculos na corrida de nossa vida.

O que são esses obstáculos? Como podem ser definidos?

É sempre uma grande descoberta ver que a cada sofrimento ou provação da vida podemos, de certa maneira, dar um nome: Jesus Abandonado.

Somos tomados pelo medo? Jesus na cruz, no seu abandono, não parece transpassado pelo medo de que o Pai tivesse se esquecido dele?

O obstáculo que podemos encontrar diante de certas provações da vida é o desconforto, o desânimo. Jesus no abandono parece submerso pela impressão de que, na sua divina paixão, falta-lhe o conforto do Pai e parece estar perdendo o ânimo, a coragem para concluir a sua dolorosíssima provação. Mas em seguida acrescenta: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).

As circunstâncias nos deixam desorientados? Jesus, naquele tremendo sofrimento, parece não compreender mais nada do que lhe está acontecendo; tanto é que grita: “Por quê?” (cf. Mt 27,46; Mc 15,34).

Alguém nos contradiz? Por acaso, no abandono, não parece que o Pai não aprova a ação do Filho?

Somos censurados ou acusados? Jesus na cruz, no seu abandono, sentiu talvez a impressão de receber uma censura, uma acusação, também do céu.

E além disso, em certas provações que na vida podem ocorrer em insistente sucessão, não se chega até mesmo a dizer com desalento: “isto é demais”, “isto já passou dos limites”? Jesus, no abandono, bebeu um cálice amargo, não apenas cheio, mas transbordante. A sua prova foi além de qualquer medida.

E quando nos surpreende uma desilusão ou somos feridos por um trauma, ou por uma desgraça imprevista, ou por uma doença, ou por uma situação absurda, podemos sempre nos lembrar da dor de Jesus Abandonado que personificou estas e ainda uma infinidade de outras provações.

Sim, ele está presente em tudo aquilo que tem sabor de sofrimento. Toda dor tem o seu nome.

Costuma-se dizer que “quem ama, chama pelo nome”.

Nós decidimos amar Jesus Abandonado.

E então, para melhor conseguirmos isto, procuremos nos acostumar a chamá-lo pelo nome nas provações da nossa vida. Assim, diremos: Jesus Abandonado-solidão, Jesus Abandonado-dúvida, Jesus Abandonado-mágoa, Jesus Abandonado-provação, Jesus Abandonado-desolação e assim por diante.

E chamando-o pelo nome, ele se verá descoberto e reconhecido em cada dor, e nos responderá com mais amor. Abraçando-o, ele se tornará para nós a nossa paz, o nosso conforto, a coragem, o equilíbrio, a saúde, a vitória. Será a explicação para tudo e a solução de tudo.

Esforcemo-nos, então, por chamar pelo nome aquele Jesus que encontramos nos obstáculos da vida. Serão superados com mais rapidez e a corrida em nossa existência não conhecerá pausas.