Um desafio permanente

No calendário da Igreja, neste domingo é o Dia Mundial das Missões. Faz lembrar os pontos avançados, onde os cristãos anunciam a mensagem de Cristo a quem ainda não a conhece. Os contextos onde a Boa Nova do Evangelho reproduz a mesma surpresa e o mesmo impacto dos primeiros tempos do cristianismo.

Na verdade, hoje, a palavra “missão” adensou seu significado e expressa a consciência da Igreja de que ela está a serviço de uma obra que a ultrapassa e a supera. A Igreja não existe para si, existe para a missão. Neste sentido, ela pode aplicar para si mesma as palavras de João Batista quando interpelado sobre seu relacionamento com Cristo: “importa que Ele cresça e que eu diminua”.

Depois de dois mil anos, a Igreja começa a perceber que as frentes de missão se diversificam. Antes eram definidas em termos territoriais: levar o Evangelho para onde não tinha ainda chegado. Agora, no mundo globalizado, ao alcance de qualquer meio de comunicação, a missão se “complexifica”.

Em primeiro lugar, existe o desafio da “inculturação”. A palavra é nova e foi forjada a partir da necessidade que a Igreja percebeu, de inserir o Evangelho no âmago das culturas, ao mesmo tempo respeitando-as e fecundando-as com a força de transformação inerente ao Evangelho. Nesse sentido, o campo de missão é permanente, se encontra em todo lugar, e se renova a cada momento, na medida que as culturas vão se transformando.

Outra frente de missão é hoje, o diálogo inter-religioso. Nas religiões a Igreja reconhece valores, que o Evangelho confirma e enriquece pela interação que pode ser feita através do contato, do apreço mútuo, e do diálogo para a superação de preconceitos. O relacionamento com as grandes religiões, sobretudo das tradições asiáticas, é hoje um fértil campo de missão para a Igreja. O acirramento do fundamentalismo, sobretudo de cunho religioso, torna este diálogo ainda mais urgente.

O relacionamento ecumênico entre os próprios cristãos é outro campo de missão. Depois de dois mil anos de história, os cristãos se vêem separados, distanciados, divididos e até às vezes confrontados na compreensão e na vivência da mensagem evangélica.

O ecumenismo se diversifica, na medida em que antigas divisões tendem a superar suas desavenças, com a lenta aproximação entre as “igrejas históricas”, ao passo que novas denominações pentecostais proliferam e acirram as divisões eclesiais. Por isto, uma frente desafiadora da missão é hoje, com certeza, a reconstrução da unidade cristã, condição prévia para a sua credibilidade, conforme o desejo de Cristo, que ao mesmo tempo é uma advertência: “que todos sejam um, para que o mundo creia”.

Mas a missão não pára aí. Pois o Evangelho não se limita a ser base para a articulação de uma religião. Ele é uma mensagem de vida. Ele se confronta com os desafios mais profundos, e permanentes, da humanidade. Num tempo de tantas transformações, de uma globalização que atropela as condições de vida da maioria da humanidade, os cristãos encontram a maior urgência missionária de nosso tempo: buscar no Evangelho a inspiração, e a força, de ordenar as transformações a serviço da vida de todos.

Portanto, há missão para todos. Este domingo nos lembra a urgência para cumpri-la.