Tempo da quaresma

A Igreja, Mãe e Mestra, exorta, periodicamente, com mais intensidade e ênfase, a seus fiéis a rever sua condição de fragilidade humana em relação ao plano salvífico de Deus.

Um destes tempos, no decorrer do ano, é o tempo da Quaresma, que precede as comemorações do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo e à qual está intimamente ligado.

É um tempo penitencial forte neste contexto e no qual tem de ser vivido sob pena de não ter sentido. O mistério Redentor de Cristo tem de ser continuado por nós, que nele acreditamos, na construção do Reino até que Ele venha.

Assim, já na abertura, o profeta Joel nos concita a uma revisão de vida, antes que a qualquer penitência física ou corporal: “Rasgai vossos corações e não as vossas vestes”. E no Evangelho, o Senhor nos ensina que o jejum deve se dirigir à alegria interior da conversão, como comenta Santo Agostinho sobre o texto e não ser uma capa, uma pele de ovelha que encubra o lobo voraz que temos em nós.

Com efeito, qual o jejum que eu quero, fala-nos o Senhor pelo profeta Isaias, senão o desatar os laços da impiedade, o aliviar o fardo e o sofrimento dos irmãos no repartir o pão em nossas mesas e o teto aos desabrigados. Entramos, exorta-nos São Leão, num tempo instituído para purificar a alma e o corpo. Cuidemos, em obediência aos preceitos do Senhor, de nos purificar de toda a mancha do pecado, para que o homem espiritual transpareça em nós e o mundo possa “ver a luz de Deus em nós brilhar”, quando deixarmos de ofender a nosso irmão e o acolhermos com amor.
A Igreja de Deus que está no Brasil, vivenciando este tempo sagrado, unida em comunhão íntima de todos os irmãos que crêem em Cristo sob diversas denominações, propõe-nos, neste ano, a busca da solidariedade e da paz, lema da CAMPANHA DA FRATERNIDADE.

Também quer significar um tempo forte, intensivo, que nos vai exercitar na fé e que deve se prolongar vida a fora, como conseqüência do Batismo.
O mesmo S. Leão, comentando o texto de São Paulo: “Eis o tempo aceitável, eis o dia da salvação”, nos diz que, embora não haja tempo que não seja sempre pleno da misericórdia e da graça de Deus, há momentos em que somos convidados de modo especial a vivê-lo, qual seja a celebração do mistério da redenção.
É um tempo propício de revisão de nossas atitudes. Rompidos, pelo pecado, da amizade de Deus, nos desintegramos. Tornamo-nos inimigos de nós mesmos e do próximo. Somente pela graça que jorra do calvário, podemos retornar à unidade e conseqüentemente à paz.

A CAMPANHA DA FRATERNIDADE, nos propõe uma caminhada. Uma partida. Dom Helder Câmara, de saudosa memória, assim definiu: “Partir é, antes de tudo, sair de si. Romper a crosta de egoísmo que tende a aprisionar–nos no próprio eu. Partir não é rodar , permanentemente, em torno de si, numa atitude de quem, na prática se constitui centro do Mundo e da vida……Partir…é abrir-se aos outros, descobrir-los, ir-lhes ao encontro”.
Vamos romper os vínculos do pecado e partir para fazer um mundo melhor, mais justo e mais humano. Viver a solidariedade e a paz. Seja este o fruto de nossa quaresma.