Ser ateu está na moda!

No intervalo do curso de alemão que faço em Roma, meus colegas e eu, nos dirigimos ao bar para tomar um café. Talvez porque sou sacerdote, na fila do café, começaram a falar de religião. Conversa vai, conversa vem, um colega diz em alta voz:
“Io sono um non credente!” Ou seja, eu não creio, ou traduzindo literalmente, eu sou um não-crente.

Não pude deixar de dar uma de estrangeiro que não entende e lhe disse: Não-crente é a mesma coisa que ateu? Ele me disse que sim, mas completou: “Ah, Padre, ateu é uma palavra muito forte!” Não obstante a gravidade da afirmação eu brinquei dizendo-lhe que talvez ele fosse como aquele comunista que repetia sempre: “Sou ateu, graças a Deus!”

Caros leitores, cada dia que passa tentamos mascarar nossas idéias ou até defeitos recorrendo a subterfúgios por causa de nossa “sensibilidade moderna”. Os favoráveis ao aborto, por exemplo, dizem que simplesmente lutam pelo direito de escolha da mãe; os indiferentes aos ensinamentos de Cristo dizem que são pessoas de mente aberta e não apegados aos dogmas da Igreja; os ateus preferem ser chamados de não-crentes.

A sensibilidade é realmente um dom de Deus. As pessoas sensíveis conseguem enxergar o que os mais rudes não vêem. O problema está em como usar a sensibilidade. Bem que todos nós poderíamos usá-la não para buscar subterfúgios que justifiquem nossas escolhas equivocadas, mas poderíamos transformá-la em delicadeza de alma para ver os sinais de Deus presentes neste mundo.

Ultimamente tenho tido contato com algumas pessoas ótimas, porém, se dizem não-crentes, ou que questionam muitos pontos que são pacíficos aos “crentes”.
Uma dessas pessoas disse publicamente que preferia ler certas fábulas de escritores modernos a respeito do cristianismo a ler o Evangelho. E foi dizendo longa lista de livros que leu ultimamente. E eu lhe perguntei se já havia lido os Evangelhos. Respondeu-me que não porque são contraditórios. Não é necessário nenhum comentário. O leitor pode concluir sozinho.

Não quero colocar estas pessoas em má situação. São meus amigos. Alguns estão tomando o caminho de volta à fé. Merece elogio a sua sinceridade ao dizerem que duvidam. Começam a entender que a dúvida serve para nos aproximarmos mais do Senhor e não para nos afastarmos.

Muitos ateus atualmente começam a ter uma outra impostação diante da fé. Um autor espanhol “não-crente”, escolheu para um de seus livros o sugestivo título “Creio que creio”. O ministro italiano Pera reconheceu os valores do cristianismo na formação da sociedade ocidental.

Vejo que tinha razão minha sábia avó nonagenária que sempre dizia que ateus não existem. Sim, pois os próprios ateus querem ser qualificados com palavras mais brandas.