A paz não é ausência de guerra. Ela precisa ser plantada com a semente da justiça e regada com o compromisso de cada um de nós. Em seu artigo da semana Pe. João Batista professor do CES da Companhia de Jesus de Belo Horizonte, vai nos despertar para as várias guerras que estão acontecendo diante dos nossos olhos e nos fará compreender que é preciso urgência na construção da paz.
Se ontem se pensava que a guerra poderia ser santa e justa, tornou-se nos hoje evidente que somente a paz é santa e justa. A guerra é sempre má e injusta. verdade de que se vai tornando consciência mundial, apesar do triste retrocesso por ocasião da declaração de guerra dos Estados Unidos, nominalmente ao terrorismo, mas de fato contra um país: o Afeganistão. A guerra tinha o freio do risco da vida de ambas as partes. Hoje a guerra das grandes potências é covarde e aparece cada dia mais hedionda e absolutamente injustificável. De dentro de um porta-avião a uma distância inatingível pelo inimigo ou enviando aviões pilotados automaticamente, a superpotências destroem e matam os outros, sem risco de morrer. Nem o limite do medo existe. É pura prepotência. Deixa transparecer o lado violento e animal do ser humano, movido por interesses de fundo econômico ou por paixões incontidas. Nada se resolve com a guerra; mais: tudo se torna seriamente comprometido pela guerra (João Paulo II).
No momento assistimos a dois conflitos violentos no Afeganistão e na palestina. As cenas de horror se repetem a ponto de embotar-nos a sensibilidade. Essas são as guerras maiores, de exércitos, clamorosas. Mas há outras guerras em curso. Duas afetam diretamente o povo brasileiro.
A guerra da violência urbana. Ela já causa mais mortes que muitos cenários de guerra convencional. As gigantescas concentrações urbanas fervem de assaltos a mão armada, de assassinatos, de tiroteios entre gangues da droga com a polícia e entre si. Esse mundo da violência marca os limites geográficos e de horário para as andanças das pessoas. Não se pode ir a certos lugares nas grandes cidades a determinadas horas. a cartografia urbana é traçada também pela linha do crime.
A guerra da fome. Corrói o país por dentro. Choca-nos ver tantas pessoas jogadas na sarjeta da miséria. Guerra que mata milhares de pessoas a curto prazo e compromete a vida de milhões de outras no futuro. São as crianças e adolescentes que não recebem os cuidados humanitários necessários para um desenvolvimento físico, psíquico e espiritual digno.
Paulo VI disse que o novo nome da paz é o desenvolvimento. Só há paz, onde não há guerra. Só há paz, onde há justiça. Só há paz, onde se vence a miséria com uma promoção integral de todos os seres humanos.
Natal, ano novo: duas datas que nos falam de paz convocam-nos para uma cruzada diferente da medieval não se quer libertar com armas o país de Jesus aposta-se,
sim, na libertação dos pobres, aqueles com quem Jesus se identificou, não pelas armas que matam, mas pelo amor que salva e dá a vida.
Só o exercício diário de consciência e de ação responsável por um Brasil justo construirá a paz. A raiz da guerra e da violência jaz no coração humano que não pratica o perdão, a reconciliação e o diálogo. Cada passo que se der nessa direção na família, na escola e no município estabelece elos de paz.
Felizes os construtores da paz porque eles serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9), ensina-nos o mestre Jesus, o príncipe da paz. E o profeta Isaías olhando para o futuro alvissareiro do Israel que deixava o cativeiro e se reconstruía, exclamou: quão belos são por sobre as montanhas os passos do mensageiro que nos faz ouvir a paz (Is 52,7). Carecemos de felizes construtores da paz e dos maravilhosos pés de seus arautos!
Redação: Renata Vasconcelos