Saxofone – Paixão a primeira vista

Lembro-me perfeitamente quando vi e escutei bem de perto pela primeira vez aquele instrumento com seu som maravilhoso. Parece que foi ontem, mas aquela imagem e som ficaram gravados para sempre em meus olhos, ouvidos e coração.

Era verão de 1986, num lindo anoitecer de sábado no mês de janeiro. Como na maioria dos jovens, eu também tive aquela fase de querer e buscar lugares e coisas diferentes, eu tinha 17 anos e já levava “não” por escolha, mas por opção de uma vida independente, morava sozinho em um pequeno quarto, no fundo da casa de um amigo, na cidade de Linhares-ES. Coisa que não recomendo a nenhum(a) jovem, a casa dos nossos pais sempre foi e sempre será o melhor lugar do mundo para vivermos até a hora certa de largarmos por motivo certo e social, ou seja: estudo, trabalho ou casamento…

Como era verão, e eu estava desempregado, todos os finais de semana tentava fazer algo diferente para ganhar uns trocados para o sustento. Foi quando tive a maravilhosa idéia de passar a virada de ano trabalhando como garçom em alguma casa noturna na praia de ITAÚNAS, na Vila de Itaúnas em Conceição da Barra, uma cidade do interior ao norte do estado do Espírito Santo.

Infelizmente não consegui arrumar nenhum lugar que me desse serviço naquele final de semana, então acabei ficando ao “DEUS dará”, e Ele deu.

Eu estava meio triste e decepcionado com a situação que eu me encontrava, ou seja, sem nenhuma reserva no bolso, sem rumo e disposto a qualquer proposta. Foi quando tive a maravilhosa idéia de andar pelas dunas adentro beira a praia. Lá estava eu meio perdido e brigando com DEUS mesmo na minha ignorância (a gente sempre quer culpar DEUS por tudo que nos acontece). Confesso que até hoje eu ainda não entendo, mas de uma forma ou outra eu sempre conversei com DEUS, desde os tempos da “ignorância”.

Lembro-me que eu falava assim com Ele: “Pó, DEUS, acho que Você não existe ou se existe Você não me conhece, ou se conhece nunca está de acordo com que eu faço ou quero fazer. Tu sabes que se as coisas continuarem assim eu vou acabar roubando, virando um traficante ou coisa parecida. Deus, não quero virar um bandido ou coisa parecida… Então porque você não muda o rumo da minha vida?”

Pela minha ignorância, mal sabia eu que estava fazendo uma linda prece ao Senhor e Ele estava respondendo.

Foi como se do nada eu escutei um som tão diferente e ao mesmo tempo tão belo que por um instante achei que estava pirando, pois eu havia acabado de fumar um “baseado” (cigarro de maconha) naquela hora.

Comecei a escutar um som que vinha do alto das dunas, e o que eu ouvia era nada mais nada menos que o som de um sax tenor interpretando de uma maneira bem blues, a oração de São Francisco que um homem tocava tão profundamente que parecia vir do céu.

Lembro-me como se fosse hoje, e me veio na memória o tempo em que quando criança eu ia no catecismo e lá a “tia” ensinou-me esta música que naquele momento me vinha na memória e cujo o refrão era assim.

“Ó mestre fazei que eu procure mais,
Consolar que ser consolado.
Compreender, que ser compreendido.
Amar que ser amado
Pois é dando que se recebe
E perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna.”

Fui me aproximando e quando cheguei bem perto fiquei ali parado vendo e escutando o que se tornaria minha paixão para sempre.

Foi amor á primeira vista, nunca tinha escutado e visto um saxofone de perto. Só sei que de repente o homem parou de tocar e me perguntou:

– Quer tocar um pouquinho?

Eu sorri e falei:

– Hoje não, mas se DEUS quiser, um dia vou fazer essa cena se repetir antes de eu morrer.

Ele perguntou:

– Você conhece música?

– É a oração de São Francisco né?…

E ele rindo da minha cara disse:

– A música que eu tocava era, mas a pergunta que eu te fiz não.

Então eu entendi que ele estava me perguntando se eu entendia de música.

– Ainda não entendo muito! – eu disse sorrindo – Mas um dia também vou entender.

– Essa música é de igreja né?

– Mas ou menos isso, é uma música abençoada – disse o homem. Gosto muito dela, me traz paz.

– Então, por favor, toco outra vez – eu pedi a ele.

E com muito carinho ele tocou bem pausadamente e bem blues a oração de São Francisco. E quando acabou ele falou assim:

– Se você quiser, um dia você poderá tocar assim para DEUS. Faça isso por mim…

Não sei por que, mas seus olhos naquele momento se encheram de lágrimas e o porquê até hoje eu não entendi…

Só sei que alguma uma coisa aconteceu em mim naquele momento, foi amor à primeira vista por este instrumento, e ao virar as costas me vi e imaginei com um saxofone pendurado no pescoço tocando em algum lugar a Oração de São Francisco.

Muitas coisas aconteceram em minha vida depois daquele final de semana. Os anos se passaram e desde aquele dia, ficou viva em mim a vontade de me tornar um saxofonista.

O tempo foi passando e eu nunca me esqueci daquele dia, dia em que talvez DEUS falou comigo e eu achava não ter escutado.

Hoje sou um saxofonista profissional e a música que mais gosto de tocar no saxofone tenor é a oração de São Francisco, e se um dia DEUS permitir vou gravá-la do jeito que escutei aquele abençoado homem tocar e que até hoje meus ouvidos a escutam quando fecho os olhos e sinto o vento no entardecer.

Esta foi só uma das várias vezes em que DEUS se fez presente em minha vida, mesmo eu achando que Ele nem existisse.

Escrevi isto para confirmar a você que agora está lendo que realmente DEUS EXISTE e sempre nos fala, pergunta, responde. Ele sempre está por perto.

O problema é que insistimos em não querer vê-lo, escutá-lo, ou queremos que Ele apareça em forma de um esplendor apoteótico e nos esquecemos que Ele tem predileção pelo simples, pelo silêncio e pelo pouco.

Ah! Uma coisa em especial: Ele tem preferência, nossa realidade. Lembra da minha conversa com Ele?…

Aquelas palavras que falei a Ele eram a minha verdade naquele dia.

Após me tornar um músico profissional, acabei me esquecendo que em nossa primeira conversa Ele me falou assim.

Faça isso por mim, e eu não prestei muita atenção no que Ele me pedia quando falou.
Não por mérito, mas por graça, e hoje, após muitos anos como músico profissional, posso dizer que escutei e estou obedecendo a voz de DEUS. Sou um saxofonista, toco exclusivamente para ELE e por ELE, e ELE cuida de mim, pois somos há tempo grandes amigos.

Fique atento, Ele pode ter falado com você ontem ou estar falando agora e quando for falar com Ele fale somente a verdade.

Mesmo se você hoje sente sua vida como se fosse uma peça de teatro de comédia ou tragédia…

Mesmo se você estiver mergulhado na profunda solidão ou tristeza e está precisando falar aos outros de alegria…

Se você se sente abandonado e mergulhado na mais profunda escuridão e continua falando aos outros de luz…

Lembre-se, meu cara ou minha cara, isto não é uma peça de comédia de tragédia, é cristianismo do mais legítimo grau e não ficará sem uma resposta concreta de DEUS.

Ele nunca vai perguntar o que você fez, vai perguntar-te assim:

Meu filho(a) o que queres que eu faço por você agora?

Isso aconteceu comigo.

Ah! Recomeçar e refazer qualquer coisa, em DEUS é possível.

Eu acredito nisso…

Diante das inúmeras vozes que o mundo quer nos atrair, vivo hoje o PHN e coloco toda minha vida à escuta da voz de Deus. É um desafio constante em qualquer situação e em qualquer tempo, e o segredo é lutarmos sem desanimar, mesmo que o pecado nos cerque nos tempos em que vivemos, mas a partir da nossa disposição em escutar unicamente a Deus, alcançaremos a vitória, alcançando dia a dia a santidade.