Estamos nos aproximando do período litúrgico da Quaresma, ou seja, dos quarenta dias em que a Igreja se prepara para as celebrações pascais. Li uma vez um livro de espiritualidade sobre este tempo litúrgico que se intitulava: ‘Quaresma, primavera da alma’. Justamente, nos países do hemisfério norte (inclusive Israel), a Quaresma coincide com a estação primaveril e isto tem um sentido profundo.
O número 40 nas Sagradas Escrituras é de grande importância. Por 40 dias e 40 noites, Deus fez cair o dilúvio sobre a terra (cf. Gn 7,12). Por 40 dias e 40 noites, Moisés ficou no cimo do Sinai para receber de Deus a Lei (cf. Ex 24,18). Por 40 anos, o povo de Israel se fez peregrino pelo deserto sinaítico até entrar na Terra Prometida. Por 40 dias e quarenta noites, Jesus ficou em jejum no deserto e depois foi tentado pelo demônio no deserto (cf. Mt 4, 2).
Podemos entrever algo de importante a partir destes eventos sagrados. Se bem os observamos, eles estão inseridos num contexto de Aliança. O Dilúvio tem como finalidade a purificação da humanidade e um novo nascimento a partir da aliança com Noé. A estada de Moisés no alto do Monte determina a recepção das cláusulas (o Decálogo) da aliança do Sinai. O longo caminho pelo eserto é o percurso para receber a promessa da aliança com Iahweh. E o período que Jesus passou no deserto preparando a sua vida pública que desembocará no Mistério Pascal, realização definitiva da Nova Aliança.
Portanto, o número 40 nas Sagradas Escrituras evoca uma preparação a um grande evento salvífico de Deus pela humanidade. Ou melhor, ele indica um caminho, um itinerário para a celebração de uma aliança sagrada. E a quaresma, dentro desta tradição bíblica e da tradição litúrgica da Igreja, alcança o seu pleno significado. Ela se compõe de quarenta dias que nos colocam às portas de um Encontro. O único encontro que sacia o coração humano, que preenche os seus anseios mais recônditos. O único encontro que procuramos com nossos desejos, às vezes desnorteados, e com nossos ideais, às vezes tão ilusórios. A Quaresma nos coloca às portas de um Encontro pessoal com a Nova Aliança. Um Encontro com Ele: o Ressuscitado.