Qual é o meu papel neste espetáculo?

O espetáculo a que me refiro é o processo da criação que engloba os quatro universos: animal, vegetal, mineral e cósmico, onde o homem tem um papel bem objetivo e definido e está capacitado a realizá-lo.

Quando a criatura humana decide, a partir do melhor de si, fazer parte da composição como um todo, está disponibilizando as potencialidades universais concebidas no momento de sua concepção, sem influência e sem interferência negativa condicionada. Podemos refletir aqui o profundo significado do “sim” de Maria no contexto cultural em que vivia, assumindo sobre si total responsabilidade pela decisão, acreditando que o objetivo era muito superior, que transcendia o seu momento de vida condicionada às convenções sociais e políticas da época. Ela compreendeu a magnitude do seu papel naquele instante e decidiu participar. A primeira pergunta é: porque o diálogo entre Maria e o anjo Gabriel foi iniciado? E a segunda é: porque encerrou-se com o sim de Maria?

O que mantém uma emissora de rádio ou televisão em funcionamento, é a certeza de que a emissora está sendo ouvida e vista. Porém, para que isso se confirme, é necessário que alguém utilizando um aparelho receptor o sintonize na mesma freqüência da estação emissora e permaneça ali o tempo que desejar. Assim acredito que tenha acontecido o inicio de tudo. É necessário que eu esteja em sintonia, pois esta é a única condição em que posso perceber qual é o meu papel neste espetáculo, que posso ter a certeza de que faço parte deste espetáculo. Se não estou desempenhando o meu papel, estou contribuindo para que o contrário se estabeleça, sem ficar neutro. Se ficou neutro, deixo que outro decida por mim.

O diálogo iniciou-se porque Maria estava em sintonia e encerrou-se com o sim porque Maria despojou-se de si própria e pelo amor incondicional a Deus que a projetou para além de si mesma, na certeza de proporcionar através da sua vida oportunidade de salvação a toda a humanidade. Maria desempenhou seu papel porque estava voltada para seu interior, em contato com o seu criador, a estação emissora donde tudo se iniciou.

O que preciso compreender é que a estação emissora é a mesma e sempre estará a irradiar e enviar mensagens. Quando me volto verdadeiramente e me coloco na mesma freqüência, a comunicação se estabelece e aí o milagre da criação se repete. Então eu vejo o que sou, para que fui concebido e como posso desempenhar o papel que me foi confiado. Cada um de nós tem em si todas as condições para dizer o seu “sim”: aqui estou, eu quero voltar a fazer parte desta construção.

Só serei plenamente feliz quando perceber que fui eu quem deu as costa ao Pai: Ele sempre esteve e sempre estará esperando que eu me volte para ele e receba a graça, que é para todas as suas criaturas. Eu é que faço o movimento de me afastar e mudar de direção. E somente eu posso voltar e corrigir a rota, porque me foi dado na concepção o livre arbítrio. Só eu posso voltar-me e buscar restabelecer a comunicação que eu havia interrompido.

Somente quando estou em sintonia, posso perceber que o amor do Pai sempre o coloca numa posição de espera paciente mas atenta a qualquer movimento que faço em sua direção, para me acolher e me fazer sentir-se filho amado capaz de amar, que é missão primeira de toda a criatura humana.

Por amor Maria disse “sim”, para que o amor nascesse entre os homens e resgatasse no homem a esperança e a certeza da possibilidade de voltar a comungar o amor do Pai. Eu fui concebido com potencialidades e dons que me capacitam a dizer o meu “sim”. Basta que eu esteja livre para querer. Esta liberdade está em mim, e só é preciso que eu veja, e para que eu veja é necessário que eu me volte ao Pai e receba sua graça, sua benção, por decisão minha.

Sou plenamente respeitado quando tomo uma decisão no mais profundo do meu ser. E esta decisão passa a ser uma verdade para mim, determinando o meu agir, o meu viver. Por isso devo estar atento com o que decido estabelecer como verdade para mim.