Pssssiiiiiiiu! Silêncio!

Se um homem deixa o barulho e a agitação do mundo e procura no silêncio o seu descanso, Deus se manifesta para ele. Deus prefere se mostrar na suavidade da brisa a se mostrar no estardalhaço do trovão. Para tomar consciência de Sua presença que nos envolve e escutar Sua voz, é necessário acalmar a tempestade, fazer calar as vozes que ribombam em nossa cabeça. Na oração, Deus fala. Deus escuta, mas também tem o que dizer a você, a mim, a nós.

Um dia, na Missa, logo após a consagração, alguém começou um solo de violão e o sacerdote interveio dizendo: “Silêncio! Diante do Absoluto…” Deus é o Absoluto, quando Ele se manifesta, a melhor oração que podemos fazer é calar. Quando o homem cala, Deus fala.

Assim, em nossa oração, devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos colocar na presença de Deus, que já estava ali à nossa espera, e quando percebemos que nos aproximamos do Senhor e estamos diante dEle, devemos calar porque as palavras já não são necessárias; então podemos contemplar e
ser contemplados.

Não temos idéia do quanto Deus nos cura e liberta neste momento de silêncio, quando só o amor transita. Damos um amorzinho frágil, miserável e impuro e recebemos uma descarga avassaladora de amor inebriante que nos torna vencedores.

Ninguém mais do que Nossa Senhora ouviu a Deus, porque ninguém tanto quanto ela se calou. Muitos acham que Maria não é importante pois as Sagradas Escrituras mostram que ela quase não se pronunciou. Não percebem que é justamente aí que reside a sua importância. Ela deixou Deus ser Deus, calou para Ele falar… E por meio de Maria, Deus disse uma Palavra que de tão concreta se fez carne. Ela não precisava falar, outro falava em seu silêncio.

Na anunciação, a resposta de Maria foi basicamente um “sim”, com Isabel tudo o que fez foi cumprimentá-la. Quando ninguém deu lugar ao seu Filho para nascer, ela calou; entre os doutores, ela calou; na cruz, ela calou. Ela sabia que a vitória
que temos sobre o sofrimento está no silêncio. Quem se cala ante o sofrimento guarda só para Deus o perfume deste sacrifício; quem fala dissipa-o.

Podemos dizer que São Tomás de Aquino seguiu à risca este exemplo de Maria.

Conta-se que por São Tomás de Aquino ser muito gordo e por falar pouco puseram-lhe um apelido: boi mudo, era assim que o chamavam e procuravam atormentá-lo. Um dia, um de seus professores ouviu quando o chamaram de boi mudo e fez uma observação: “Quando este boi mugir, vai tremer o mundo”, e assim aconteceu. Ele é um dos santos que abalaram o mundo pela sabedoria que adquiriu no silêncio.
Nossa Senhora falou pouco, mas quando abriu a boca a criação estremeceu. João Batista foi só um exemplo do que aconteceu à humanidade.

Que o Espírito Santo nos ponha no coração o desejo de guardar o silêncio sagrado, o mesmo que Maria honrou e guardou tornando-se a mestra, a educadora de todos os que de longe perceberam a profundidade deste mistério e agora anseiam por penetrá-lo!

Dê-nos, o Senhor, um anjo para nos guardar neste bom propósito.

“Senhor, eu vos chamo, vinde logo em meu socorro; escutai a minha voz quando vos invoco. Que a minha oração suba até vós como a fumaça do incenso; que minhas mãos estendidas para vós sejam como a oferenda da tarde. Ponde, Senhor, uma guarda em minha boca, uma sentinela à porta de meus lábios” (Sl 140,1-3).

Para aprender com a Sagrada Escritura:
Eclo 2,2; Eclo 3,31; Eclo 6,33-37; Pr 22,17-21; Hb 3,7-15.

Vale a pena refletir: Eu mais falo do que escuto ou mais escuto do que falo? Consigo ouvir a voz de Deus? Por quê? O que pretendo fazer para ser mais atento ao que o Senhor tem a me dizer?

Observação: Faça seus propósitos e escreva-os para não os esquecer.
Escutar as pessoas, por amor, tem grande reflexo na escuta de Deus. Eis aí um bom exercício…

Do livro: “Quando só Deus é a resposta”
E-mail: marciomendes@cancaonova.com