Preparando a vinda de Bento XVI

De 9 a 13 de maio próximo, visitará o Brasil, o Santo Padre Bento XVI. Estará em São Paulo e no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida; abrirá a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe. Com os recursos atuais dos meios de comunicação social, os católicos, de modo particular pela televisão, poderão participar da riqueza espiritual que nos é oferecida em decorrência da presença do Sucessor de Pedro e seus ensinamentos, lembrar os rumos que ele nos indica através dos Bispos, nas visitas “Ad Limina Apostolorum” (“Aos túmulos dos Apóstolos”), que ocorrem, a cada qüinqüênio, em Roma.

Durante este período que antecede a vinda do Santo Padre, fazendo parte da preparação espiritual, recordemos esses ensinamentos e o cumprimento que temos dado a suas diretrizes.
Na visita “Ad Limina” de um grupo do episcopado brasileiro, a 31 de maio de 1990, disse o Papa João Paulo II: “um dos problemas que mais vigorosamente estão interpelando hoje sua solicitude pastoral de bispos no Brasil é o da evangelização e correto direcionamento dessa imensa riqueza do povo brasileiro, que é seu tão enraizado, mas às vezes confuso, sentido da religiosidade”.
O zelo pela integridade doutrinal o leva a dizer, em um discurso ao Episcopado brasileiro que “a comunhão com o Papa se exprime em acolhimento à sua palavra não apenas quando se pronuncia pessoalmente, mas também quando fala através de órgãos que com ele colaboram no governo pastoral da Igreja e falam em seu nome, com sua aprovação, senão com mandato seu”.

Na homilia da missa em Salvador, na Bahia, na visita de 1980, advertiu: “Somos guardiões da Palavra de Deus e, portanto, não temos o direito de mutilá-la em nossas pregações (…) nem se diga que a evangelização deverá necessariamente seguir ao processo da humanização”.
Na Favela do Vidigal, no Rio, no mesmo ano, ele afirmou que “a Igreja, em todo o mundo, quer ser a Igreja dos pobres”. E explicitou adiante: “Não é a Igreja de uma só classe ou de uma só casta (…). A Igreja dos pobres não quer servir a causa de tensões que faz explodir a luta entre os homens (…). Não quer servir a fins imediatos, políticos, às lutas pelo poder”.

Na primeira viagem ao Brasil, em 1980, o Papa João Paulo II, falou à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e declarou: “Formais hoje o corpo episcopal mais numeroso do mundo” (…). Por isso mesmo e pelas promissoras perspectivas de vosso País, o Episcopado de que fazeis parte assume um prestígio, mas também uma responsabilidade que vão bem além das fronteiras de vossas Dioceses e da própria Nação: responsabilidade perante a Igreja inteira”.

Ao aproximar-se mais uma vinda do Sucessor de Pedro ao Brasil, parece-me útil que os fiéis verifiquem o cumprimento das determinações dadas nas visitas pastorais. Os ensinamentos ministrados se destinam à Nação mais que à cidade onde são proclamados. Todos os discursos são objeto deste exame de consciência. O resultado de tal avaliação revela o grau de nossa adesão à Sé Apostólica.
No discurso aos sacerdotes reunidos na Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal, na segunda visita ao nosso país, a 13 de outubro de 1991, João Paulo II assim se expressou: “Como é bem sabido, em alguns ambientes (…) devido, com freqüência, a uma leitura errônea do Magistério do Concílio Vaticano II, ficou obscurecida a consciência da verdadeira identidade sacerdotal, e originou-se a tendência a “laicizar” as funções sacerdotais, paralela à tendência a “clericalizar” a figura do leigo.

As manifestações dessa tendência são diversas, desde a intervenção do presbítero em atividades próprias da ação política, atividades que fazem parte da missão livre e responsável dos leigos, ou o pouco apreço por tarefas especificamente sacerdotais ou pelos sinais externos do sacerdócio, até a praxe de confiar a leigos encargos cujo exercício corresponde aos presbíteros ou funções que só se justificam em caso de verdadeira necessidade, com caráter de suplência”.

Merece especial atenção as diretrizes dadas pelo Santo Padre João Paulo II, por ocasião de sua terceira vinda ao Rio de Janeiro, de 2 a 5 de outubro de 1997, para o II Encontro Mundial do Papa com as Famílias. Todos os eventos foram transmitidos pela TV através da cadeia Mundovisão. O Encontro teve como lema: “Família: Dom e Compromisso, Esperança da Humanidade”. No seu discurso aos Bispos e Delegados do Congresso Teológico-Pastoral sobre a Família, lemos: “Entre as verdades obscurecidas no coração do homem, por causa da crescente secularização e do hedonismo reinantes, ficam especialmente afetadas todas aquelas relacionadas com a família. Em torno à família e à vida se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem (…).

O Papa quis vir até ao Rio de Janeiro para saudar-vos de braços abertos, à semelhança do Cristo Redentor, que domina esta Cidade maravilhosa do alto do Corcovado. E veio para confirmar-vos na fé, para sustentar vosso esforço em testemunhar os valores evangélicos”. E assim terminou: “Ao mesmo tempo, quero encorajar todo esforço dirigido a promover adequadas estruturas organizativas, tanto no âmbito nacional como no internacional, que assumam a tarefa de tecer um diálogo construtivo com as instâncias políticas, das quais depende em boa medida a sorte da família e da sua missão a serviço da vida. Encontrar os caminhos oportunos para continuar propondo eficazmente ao mundo os valores básicos do plano de Deus, significa comprometer-se para salvaguardar o futuro da humanidade”.

A próxima vinda do Santo Padre Bento XVI ao Brasil é uma graça que nos é concedida. Deve ser devidamente preparada, para que produza muitos frutos. Assim, temos uma excelente oportunidade para recordar os ensinamentos nas visitas pastorais anteriores. Nada melhor do que uma leitura dos textos amplamente divulgados. Em caso de dificuldade, trago hoje alguns apontamentos. De modo particular, recomendo a leitura atenta do mais recente documento a Exortação Apostólica Pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, sobre a Eucaristia fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. Preparemo-nos espiritualmente e rezemos pelo êxito desta visita, particularmente oportuna no atual momento nacional.

Ao lado de um evidente florescimento da vida religiosa, surgem ataques aos ensinamentos da Igreja. Salvo exceções, seus detratores não têm fé ou não conhecem suficientemente sua doutrina e história bi-milenar. A visita pastoral de Bento XVI será uma válida contribuição à paz e a concórdia no Brasil, na América Latina e Caribe.

Canção Nova, voce mais perto do Papa