Preciso desaprender

Outro dia falava com a Rose (membro da Comunidade Canção Nova) sobre a pintura da sua casa. Pintura esta, que custara para acontecer, pois a parede anterior tinha cor escura e para cobri-la com nova cor, mais clara, eram necessárias muitas “mãos” de tinta.

Fiquei pensando se fosse raspada aquela parede, quantas outras cores certamente não seriam encontradas por detrás das muitas pinturas, que com o passar dos anos foram sendo acumuladas uma sobre a outra, de acordo com o gosto de cada morador.

Qual seria a cor original daquela parede? Tive curiosidade de saber. Tive vontade de descobrir a cor original, que aquela parede, ainda virgem, havia recebido.

Cada um pinta sobre nós a cor da sua preferência. Todos participam: nossos pais, avós, tios, educadores, patrões… Enfim, até a sociedade em que vivemos acaba participando deste processo de pintura.

Vão pintando sobre a nossa essência, aos poucos vamos perdendo a imagem original.
Porém não usam pincel ou rolo, usam palavras, conceitos, e aos poucos vamos ficando encobertos e a beleza do original, criado por Deus, vai desaparecendo. Vamos sumindo, ou melhor, assumindo uma nova imagem, às vezes, até uma nova identidade.

Aí nos perguntamos: quem somos?
Somos o que somos ou aquilo que nos fizeram ser?

Descobri que preciso desaprender…
Despir-me da pintura que foi colocada em cima do corpo, mas que penetrou a alma.
Raspar as paredes do interior, da inteligência, das emoções, dos sentimentos…

Lembro-me da passagem bíblica: “ninguém põe um remendo novo numa veste velha” (Mt 9,16). Não dá mais para remendar as paredes da vida, passar uma tintinha por cima, esconder o que está velho, sujo, cobrir o aspecto e cor que não me agradam.
Preciso, ao contrário, raspar a tinta que foi sendo acumulada pelas várias pinturas feitas na minha história, sem medo de descobrir o que está embaixo, sem medo de ficar descoberta, nua.
E depois de raspar encontrar lá a minha alma, meu jeito original de ser.