Por que os peixes estão desaparecendo?

Certa vez, um barco pesqueiro estava em seu trabalho de rotina, ou seja, pescando no litoral, um lugar já explorado. Todos já conheciam a qualidade do peixe que haveriam de pescar. Sabiam os locais exatos e os caminhos seguros que haveriam de percorrer. Não havia nenhuma novidade, tudo era muito conhecido e seguro.

O equipamento usado era o mesmo, algumas redes, linhadas lançadas ao mar e alguns pescadores que tentavam pescar com varas.

O filho mais novo percebeu que seu pai, o capitão do barco, não estava feliz. Contemplava o alto mar e deixava transparecer a tristeza de não conhecer suas riquezas.

Vendo isso o garoto perguntou: ‘Pai, por que você está triste e pensativo olhando para águas distantes?’ O pai então respondeu: ‘É que não estamos mais encontrando peixe. Dizem que o mar esconde maravilhas que não podemos ver. Sei também que nesta imensidão, deve haver muitos peixes a serem pescados e variedades de cardumes para capturarmos.’

O garoto, então, ansioso para falar, disse ao pai: ‘Mas então o que estamos esperando para sair em alto mar? Vamos pescar peixes grandes e variedades de cardumes, desbravar novos caminhos e fazer novas experiências, pois papai, é caminhando pelo novo que ampliamos os nossos horizontes e crescemos na vida.’ O pai do garoto respondeu um pouco triste: ‘Filho para adentrar neste mar, é preciso que estejamos bem leves. Se o barco estiver muito pesado corremos o risco de afundar.’ O filho então perguntou ao pai: ‘O que faz com que o barco fique tão pesado?’ O pai suspirou e respondeu:‘O medo’.

O medo torna o barco do nosso ministério pesado. O vento do Espírito sopra, mas não encontra docilidade. O músico se esconde por de trás de seu instrumento, onde já não há novidade alguma, o caminho é seguro, não há nada de novo, contudo não se pega mais peixes, ou melhor, almas. O risco que tal músico pode correr, é de voltar para o porto seguro e desistir da pescaria, porque já não se pegam mais peixes.

‘O cão volta ao seu próprio vômito’; e ainda: ‘A porca lavada torna a revolver-se na lama.’ (2 Pd 2,22)

O novo em nossas vidas tem seu lado bom e seu lado difícil de administrar. O lado bom é que ele nos faz crescer, nos traz experiências novas que nos impulsiona a navegar tendo sempre um renovado sentimento de estar nascendo agora. A cada novo conquistado é um filho gerado. É exatamente na exploração do novo que se encontra o grande sentido para vida. Explorar nos leva a conquistar novos territórios, transcendendo os limites da rotina e do seguro. A coragem de ser protagonista nos faz olhar sempre para frente e nunca para trás.

Durante nossa caminhada pudemos conhecer muitos irmãos e acompanhar seu crescimento e amadurecimento na fé. Pudemos, também, acompanhar aqueles que sempre permaneceram no litoral, sempre com seu barquinho, percorrendo os mesmos caminhos, enfim, não cresceram e não tiveram a coragem de trilhar o caminho que Deus os chamou a seguir. Devemos dizer que muitos voltaram para o porto, uma vez que não tiveram a ousadia de desbravar o caminho do sacerdócio ou do matrimônio. Não existe decisão, porque o barco está pesado. O medo não permite que o músico construa uma história que só acontece quando desbravamos o desconhecido.

Quando permanecemos dentro de nossos limites, não construímos uma história e sim uma rotina. A conseqüência disso é que muitos músicos se frustram pelo resto da vida. A verdade é que jamais poderemos ser felizes, se não seguirmos os caminhos que Deus tem preparado para nós, ou seja, nossa vocação. Nenhum ser humano encontra sentido para sua vida fora dos caminhos traçados por Deus. Jamais conseguiremos dar tudo de nós para Deus, mas podemos oferecer algo todos os dias de nossa vida. Nosso caminho a ser desbravado jamais terá um fim, pois Deus a cada dia vai exigir um novo sim. Devo lhe dizer que a maioria deste ‘yes’ a Deus, significa navegar mares desconhecidos.

Entendemos um pouco o porquê de tantos ministérios voltarem atrás, isto é, a pescaria exige que o pescador, no decorrer do tempo, vá descobrindo novos caminhos; e, mesmo com o peso do medo, ele precisa arriscar. Muitos que não se arriscam, deixam de pescar. O nosso recado para os músicos é simples: Não tenham medo de adentrar no novo, não tenham medo de se entregar por Deus, de se desgastar por Deus , de se consumir por Deus. O Espírito Santo faz tudo novo todos os dias, e quem não aprende a conviver com o novo, não vive segundo o Espírito.

A raiz de todo medo está na desconfiança de Deus. A desconfiança é a pior inimiga da esperança. Muitos músicos têm medo porque desconfiam do poder de Deus. Podemos dizer então que encontramos aqui uma das causas do medo: a falta de fé.

Quando depositamos nossa confiança em nós mesmos e em nossas próprias capacidades, perdemos a ousadia de dar passos em direção à vocação, seja ela celibatária ou matrimonial, perdemos a ousadia de trilhar novos caminhos na evangelização, não temos a coragem, nem mesmo de pregar ou orar no grupo de oração. O medo nos impede de conhecer e experimentar maravilhas que só aqueles que navegam para o alto mar podem conhecer e experimentar. Quando Moisés fugiu para o deserto de Madiã, durante quarenta anos, construiu sua rotina e seus limites. Constituiu uma família se casando com a filha de Jetro. Contudo, Moisés nunca foi plenamente realizado, algo dentro dele o incomodava. O caminho que Deus havia traçado para Moisés jamais terminara ali no deserto de Madiã. Dentro dos limites que Moisés vivia não havia mais peixes para pescar, os peixes estavam em um oceano chamado Egito. A palavra relata que um dia Moisés teve a coragem de ir além do deserto, isto é, teve a coragem de dar passos concretos em direção ao novo, sair de sua rotina para encontrar Deus.

O encontro com Deus se dá quando caminhamos no escuro da fé, caminho jamais percorrido antes, pois é exatamente essa a pedagogia de Deus, retirar de nós toda segurança humana e isso só pode acontecer quando desbravamos o novo. Quando Moisés desbravou novos horizontes, teve um encontro pessoal com Deus e pôde enxergar o quanto estava navegando durante quarenta anos no mesmo mar.

Encontramos aqui um exemplo claro de que aquele que não vai além do deserto, se esconde por trás de uma realidade baseada em projetos humanos. Talvez hoje você esteja vivendo a mesma rotina de Moisés, isto é, alimentar ovelhas, construir um lar e deixar de conhecer todas as maravilhas que só o coração pode ver com os olhos da fé. A maior beleza do oceano não pode ser vista com os olhos da carne. É preciso ter coragem de mergulhar em alto mar para pescar peixes maiores. Sabe por que os peixes estão sumindo? Porque os pescadores estão com o barco pesado.

Eduardo Issa e Rosanildo Queiroz
Comunidade Totus Tuus
FONTE: ‘O músico e a arte de servir à Deus’
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