Por Que A Igreja Não Muda?

A comemoração dos 25 anos do pontificado do Papa João Paulo II reuniu, na Praça de São Pedro, em Roma, 150 mil fiéis, os Cardeais da Igreja e Chefes de Estado. Pudemos ler tudo que se escreveu sobre o venerado ancião, que pastoreia a Igreja católica desde 16 de outubro de 1978. Revistas, jornais e canais de televisão abriram amplo espaço para Karol Wojtyla, unanimemente apresentado como um dos personagens mais importantes, senão o maior, do século XX.

Em geral, os que escreveram sobre João Paulo II reconhecem que, mudando o perfil do episcopado ele mudou, também, a própria Igreja, recolocando-a na grande disciplina que sempre foi uma das suas marcas nos dois mil anos de sua história. A comunhão dos cerca de cinco mil bispos entre si e com o Sucessor de Pedro, dos fiéis com seus Pastores, é uma das explicações da unidade e força da Igreja em seu passado e presente.

Os artigos e comentários que continuam tratando da personalidade do “Papa que não veio da Polônia, mas saiu das margens do lago de Genesaré”, feliz expressão do acadêmico e filósofo francês Jean Guitton, reconhecendo que ele, reafirmando a missão própria e intransferível da Igreja – a evangelização – o “anúncio de toda a verdade de Jesus Cristo, da Igreja, do Homem e da Mulher” (Puebla, 1979), o elogiam por sua ortodoxia na fé e por seu zelo de Pastor incansável. Ele se transformou, peregrinando pelo mundo, no grande missionário e evangelizador dos homens e povos de hoje.

João Paulo II, reconhecem todos, contribuiu para mudar os rumos da história. Sem o decidido apoio de Karol Wojtyla ao Sindicato Solidariedade, da Polônia, os seus claros posicionamentos contra o marxismo e o liberalismo, a sua insistente proclamação da dignidade humana – “o homem é o caminho, a via da Igreja” (Redemptor Hominis) – dos seus direitos inalienáveis, seu empenho na defesa da paz contra toda violência e guerra, todos o reconhecem, mereceram para o Sucessor do Apóstolo Pedro, o respeito e a admiração.

Mas há um ponto em que editoriais de grandes jornais como a “Folha de S. Paulo” (edição de 17 de outubro, página A-2), voltam a criticar João Paulo II: o seu claro posicionamento quanto à moral sexual. É público e conhecido que o atual Pontífice não perde ocasião para reafirmar os nobres fins da sexualidade humana, destinada não só à geração e educação dos filhos, mas ao cultivo do amor entre o homem e a mulher que constituíram família, comunidade de amor que deve estar sempre aberta ao dom da vida. É conhecido, também, que o Vigário de Cristo jamais condescendeu com o divórcio e os contraceptivos, o aborto, a eutanásia e o homossexualismo.

Nesses pontos da moral natural e cristã, João Paulo II não deixa qualquer dúvida: a Igreja católica jamais mudará. E não o faz por dois grandes motivos. Primeiro, porque ela proclama as exigências do direito natural e da dignidade humana. Depois, porque se trata de questões em que a revelação divina, no Antigo e Novo Testamento, exige um assentimento total dos que têm fé. Promiscuidade sexual e casamento, fecundidade e esterilidade, vida e morte são posições inconciliáveis para um cristão, pontos em que a Igreja não tem o direito de fazer concessões liberais e permissivas.

Muito interessante a Nota sobre a “popularidade do Papa João Paulo II entre os jovens”, enviada de Roma por Carlos Alberto Di Franco, destacada no “O Estado de São Paulo” de 17 de outubro passado, em página inteira dedicada à pessoa do Papa. “Embora idoso e doente, continua sendo um fenômeno de massas. Sobretudo entre os jovens, algo que intriga os estudiosos do comportamento. Afinal, o estereótipo do Papa conservador, obstinadamente apegado aos valores que estariam na contramão da modernidade, tem sido contestado pela eloqüência dos números. Durante o seu pontificado, ruas e praças de todo o mundo têm sido tomadas por barracas, mochilas e canções”.

O citado conceituado professor, jornalista e correspondente do grande jornal, transcreve alguns depoimentos de jovens que nos parecem mais que oportunos. Sandra Thomas, americana de 23 anos diz: “A gente dança e canta, mas não esquece o motivo principal por que estamos aqui: reavivar a fé”. Bruno Mastroiani, jovem filósofo italiano, afirmou: “Nestes meus 24 anos, João Paulo II sempre esteve presente. Lembro-me quando era criança, daquele homem vestido de branco, com aspecto de estrangeiro mas, ao mesmo tempo, tão familiar. Mais tarde, durante os anos de minha adolescência, virei rebelde. O Papa, contudo, estava sempre lá. Um pouco mais velho mas sempre forte”. Mário Nigro, também com 23 anos, estudante de Direito na cidade de Roma, mesmo afirmando não ter fé, disse: “Não concordo 100% com vários conceitos da Igreja católica. Não sou praticante mas tenho uma profunda admiração pelo Papa. Impressiona-me a sua coragem de assumir posições difíceis. Ele diz o que pensa e o que considera justo. Abertamente e sem hipocrisia”.

Os que esperam que hoje ou amanhã o Papa e a Igreja de que é o grande Pastor, aprovem o divórcio ou o aborto, os preservativos, o homossexualismo e a eutanásia, percam a esperança. A instituição divina fundada por Cristo continuará, irredutivelmente, proclamando “oportuna e inoportunamente” todos os valores da família e da vida, do amor e da justiça. Prosseguirá condenando tudo que atente contra a dignidade humana e o projeto salvífico divino que ecoou antes no Monte Sinai e há vinte séculos na Palestina, no Sermão da Montanha…