Pequena História da Vida Consagrada

“A vida consagrada, profundamente arraigada nos exemplos e ensinamentos de Cristo Senhor, é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espirito. Através da profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus – casto, pobre e obediente – adquirem uma típica e permanente “visibilidade” no meio do mundo, e o olhar dos fiéis é atraído para aquele mistério do Reino de Deus que já atua na história, mas aguarda a sua plena realização nos céus.

Ao longo dos séculos, nunca faltaram homens e mulheres que, dóceis ao apelo do Pai e à moção do Espírito, escolheram este caminho de especial seguimento de Cristo, para se dedicarem a ele de coração “indiviso”. Também eles deixaram tudo, como os Apóstolos, para estar com Cristo e colocar-se, com ele, a serviço de Deus e dos irmãos. Contribuíram assim para manifestar o mistério e a missão da Igreja, graças aos múltiplos carismas de vida espiritual e apostólica que o Espírito Santo lhes distribuía, e deste modo concorreram também para renovar a sociedade.

O papel da vida consagrada na Igreja é tão notável que decidi convocar um Sínodo para aprofundar o seu significado e as perspectivas em ordem ao novo milênio, já iminente.

Cientes, como estamos todos, da riqueza que constitui, para a comunidade eclesial, o dom da vida consagrada na variedade dos seus carismas e das instituições, juntos damos graças a Deus pelas Ordens e Institutos religiosos dedicados à contemplação ou às obras de apostolado, pelas Sociedades de Vida Apostólica, pelas Institutos Seculares, e pelos outros grupos de consagrados nas novas formas de vida comunitária e evangélica, como também por todos aqueles que, o segredo do seu coração, se dedicam a Deus por uma especial consagração.

No Sínodo, pôde-se constatar a expansão universal da vida consagrada, tornando-se presente nas Igrejas de toda a terra. Ela estimula e acompanha o avanço da evangelização nas diversas regiões do mundo, onde não apenas são acolhidos com gratidão os Institutos vindos de fora, mas constituem-se também novos e com grande variedade de formas e expressões.

E se os Institutos de vida consagrada, em algumas regiões da terra, parecem atravessar momentos de dificuldade, em outros prosperam com vigor surpreendente, demonstrando que a opção de total doação a Deus em Cristo não é de forma alguma incompatível com a cultura e a história de cada povo. E não prospera só dentro da Igreja Católica; na verdade, a vida consagrada acha-se particularmente viva no monarquismo das Igrejas ortodoxas, como rasgo essencial da sua fisionomia, e está começando ou ressurgindo nas Igrejas e Comunidades eclesiais nascidas da Reforma, como sinal de uma graça comum dos discípulos de Cristo.

A presença universal da vida consagrada e o caracter evangélico do seu testemunho provam, com toda a evidência – caso isso fosse ainda necessário -, que ela não é uma realidade isolada e marginal, mas diz respeito a toda Igreja. No Sínodo, os Bispos confirmaram por diversas vezes: “é algo que nos diz respeito”. Na verdade, a vida consagrada está colocada mesmo no coração da Igreja, como elemento decisivo para a sua missão, visto que exprime a íntima natureza da vocação cristã “e a tensão da Igreja-Esposa para a união com o Esposo. Diversas vezes se afirmou, no Sínodo, que a função de ajuda e apoio exercida pela vida consagrada à Igreja não se restringe aos tempos passados, mas continua sendo um dom precioso e necessário também no presente e para o futuro do Povo de Deus, porque pertence à sua vinda, santidade e missão.

Como não recordar, cheios de gratidão ao Espírito, a abundância das formas históricas de vida consagrada, por ele suscitadas e continuamente manifestadas no tecido eclesial? Assemelham-se a uma planta com muitos ramos, que assenta as suas raízes no Evangelho e produz frutos abundantes em cada estação da Igreja. Que riqueza extraordinária! Eu mesmo. No final do Sínodo, senti a necessidade de sublinhar este elemento constante na história da Igreja.

O Sínodo recordou esta obra incessante do Espírito Santo, que vai explanando ao longo dos séculos, as riquezas da prática dos conselhos evangélicos através dos múltiplos carismas, e que, também por este caminho, torna o mistério de Cristo perenemente presente na Igreja e no mundo, no tempo e no espaço (JOÃO PAULO II, Vita Consecrata).

“Desde os começos da Igreja Houve homens e mulheres que, pela prática dos conselhos evangélicos, propuseram-se a seguir a Cristo com mais liberdade e imitá-lo mais estreitamente e, cada um a seu modo, levaram vida consagrada a Deus. Dentre eles, muitos, pela inspiração do Espirito Santo, viveram vida solitária ou fundaram famílias religiosas que a Igreja recebeu e aprovou de bom grado com sua autoridade. Daí nasceu, por divina providência, uma admirável variedade de grupos religiosos, a qual muito contribuiu para que a Igreja não apenas esteja aparelhada para toda boa obra e organizada para as atividades do seu ministério em vista da edificação do Corpo de Cristo, mas apareça também ornamentada com os vários dons de seus filhos, como uma esposa adornada para o seu esposo e por ela se manifeste a multiforme sabedoria de Deus” (Vaticano II,, PC 1).