Nada se constrói sem bases firmes e duradouras. Elas são a garantia de que o projeto se concretize sem temores ou incertezas. Para facilitar a nossa compreensão, Jesus nos propõe os exemplos da casa edificada sobre a areia e de outra erguida sobre o rochedo resistente (cf. Lc.6, 48-49). A primeira ruiu às investidas das intempéries comuns e previsíveis, enquanto que a segunda não deu atenção às tempestades nem às chuvas que desabaram torrencialmente. Manteve-se firme e inabalável em sua sólida estrutura. Este tempo de Advento nos estimula a busca de projetos de vida mais fundamentados e convicções mais firmes se pretendemos garantir as manifestações festivas de nosso povo. As Sagradas Escrituras apresentam um contraste bem definido entre as alegrias messiânicas proclamadas pelo profeta Isaías (cf. Is. 35, 1-2) e todo o sofrimento de João Batista, agora preso, pelos incômodos que causara ao fracote e podre Herodes, um reizinho tirano, manipulado pelo poderio romano (cf. Mt. 11, 2-11). Não bastasse a prisão, João também estava em sérias dúvidas sobre a pessoa de Jesus, se ele era mesmo o Messias ou se devia aguardar um outro… Afinal, as alegrias tão proclamadas nos tempos antigos ainda não havia chegado à tona, desvelando o seu esplendor. Jesus tranqüiliza João, afirmando que as profecias estão se cumprindo, começando pelo mais urgente: curando os doentes, abrindo os olhos dos cegos, fazendo os coxos andarem, os surdos ouvirem e os leprosos participarem da vida comum… Iniciava-se a abolição da exclusão e da marginalidade. Os novos tempos estavam dando seus primeiros passos e, como a casa bem construída, os alicerces estavam sendo cavados na rocha e sedimentados com extremo cuidado. João Batista e os profetas que vieram antes, podiam ficar descansados: a pregação e o sofrimento deles não foram em vão!
O apóstolo Tiago, homem de pé no chão, não se precipitou como João Batista e nos deu a entender que a esperança se realiza com as mãos, que a paciência não é passividade, mas a arte de edificar com detalhes e solidamente. A imagem que ele usou do agricultor, que aguarda a colheita, é perfeita para todos nós: não basta plantar, é preciso cuidar da plantação se quisermos experimentar as alegrias da abundante colheita (cf. Tg. 5, 7-10).
O profeta Isaías não quer que desanimemos na espera, porque o nosso Deus é fiel em suas promessas. Chega de tremedeira nas pernas, de coração perturbado e de mãos vacilantes (cf. Is. 35,3-7). Sabemos, no entanto, que os medos também fazem parte das mudanças, afinal todo nascimento acontece entre as dores de parto. Todavia, temos que subjugar as inseguranças porque estamos todos prenhes, trazemos em nós a Criança que já está causando muito rebuliço em nossa casa, mesmo antes de chegar! Imaginemos o que não acontecerá depois… Certamente, a vida não será mais a mesma. Será melhor, com muito mais sabor.
Entendo que, cabe hoje a cada um de nós, assumir essas dores de parto dos gestos proféticos, para que as alegrias que se anunciam, aqui cheguem e permaneçam para sempre.
Fonte: ASJ