Os Milagres

Com a pobreza de espírito, que é a verdadeira humildade, harmonizava a pobreza de todas as coisas.

Milagre do pão

Clara de Assis recebia muito alegremente as esmolas em fragmentos e os pedacinhos de pão levados pelos esmoleres. Parecia ficar triste ao ver pães inteiros e pulava de alegria diante dos restos.

A multiplicação do pão havia no mosteiro um só pão e já apertavam a fome e a hora de comer. A santa chamou a pessoa responsável pela despensa e mandou cortar o pão, enviando uma parte para os frades e deixando a outra em casa para as Irmãs. Dessa metade mandou tirar cinqüenta fatias, de acordo com o número das senhoras, para servi-las na mesa da pobreza.

A devota filha respondeu que iam ser necessários os antigos milagres de Cristo para que tão pouco pão desse cinqüenta fatias, mas a mãe a contestou dizendo: ‘Filha, faça com confiança o que falei’. Apressou-se a filha a cumprir o mandato da mãe, que foi dirigir a seu Cristo piedosos suspiros em favor das filhas. O pedaço pequeno cresceu por graça de Deus nas mãos de quem o cortava e cada uma da comunidade pôde receber uma bela porção.

Milagre do Azeite

O azeite dado por Deus Certo dia, acabou tão completamente o azeite das servas de Cristo, que não havia nem para o tempero das doentes. Dona Clara pegou uma vasilha e, mestra da humildade, lavou-a com as próprias mãos. Colocou-a lá fora, vazia, para que o irmão esmoler a recolhesse, e chamou o frade para ir conseguir o azeite.

O devoto irmão quis socorrer depressa tanta indigência e correu a buscar a vasilha.

Mas essas coisas não dependem de querer e correr, e sim da piedade de Deus. De fato, só por Deus, a vasilha ficou cheia de óleo, pois a oração de Santa Clara foi à frente da ajuda do frade, para alívio das pobres filhas. O frade, crendo que o haviam chamado à-toa, comentou num murmúrio: ‘Essas mulheres me chamaram por brincadeira, pois, olhe, a vasilha está cheia!’

A queda do portão

De vez em quando, Clara conseguia passar um tempo andando normalmente, porque a doença lhe dava alguma trégua. Então, aproveitava para ir dar um acerto em todas as situações do convento que estivessem precisando de uma atenção. Um dia foi ver uma porta enorme, do tempo dos beneditinos, porque as pesadas dobradiças estavam cedendo. Na hora em que ela tentou abri-la, a porta veio por cima dela, derrubando-a no chão.

A Irmã Angelúcia vinha vindo justamente para ajudá-la mas só chegou a tempo de ver a porta cair. Não se via nada de Clara por baixo daquela tábua enorme e nem se ouvia um gemido. Angelúcia começou a gritar por socorro. Daí a pouco, as Irmãs estavam todas lá. Mas nem juntas conseguiam levantar o peso. E tinham medo de acabar de esmagar Clara.

Alguém correu chamar os frades. Só quando os mais fortes pegaram todos juntos o portão por todos os lados, foi que deu para movê-lo. Para surpresa de todo mundo, Clara levantou-se com aquele seu sorriso de sempre e foi abraçá-las.

Elas mal conseguiam corresponder aos abraços, de tanto susto, mas Clara, que então já tinha mais de cinqüenta anos, disse:

– Não foi nada, Irmãs, até parecia um cobertor bem quentinho que estava me cobrindo.

Todo mundo ficou muito admirado, mas ninguém estranhou. Todos sabiam que Clara era uma mulher de Deus e estavam acostumados a ver como ela dava bom exemplo e curava muitas pessoas doentes fazendo um sinal da cruz na testa delas.