Olhares de Deus

“Era preciso aprender a ver as pessoas e os fatos com os olhares de Deus, com a paciência, a sabedoria e a misericórdia de Deus”.

Entre as parábolas que Jesus contou, duas delas nos dão excelente orientação sobre a virtude da paciência e sobre a necessidade de sabermos discernir entre o bem e o mal, de modo prudente e sábio, com calma e caridade.

Essas duas parábolas encontram-se no Evangelho de Mateus. Trata-se do joio e trigo, conforme Mt 13, 24 a 43 e da rede lançada ao mar, que apanha todos os tipos de peixes, conforme Mt 13, 47s 52.

Supondo que nossos leitores do “Triunfo” já tenham lido e refletido essas parábolas, podemos partilhar nossa reflexão, apresentando algumas pistas.

Recordo-me de uma homilia dominical, em que o celebrante, comentando essas parábolas, contou a seguinte historinha:

– Certo dia, um cidadão morreu e foi para o Céu. Ao chegar, encontrou a porta aberta e foi simplesmente entrando e observando tudo. Qual não foi sua surpresa, ao ver que o céu estava vazio; ninguém por lá; nem Deus, nem Nossa Senhora, nem os anjos, nem os santos, ninguém, ninguém…

O cidadão achou muito estranho. Continuou olhando e, de repente, viu que sobre a mesa havia um par de óculos. Pensou que deveria colocar aqueles óculos e assim o fez. Qual não foi ses espanto ao perceber que, olhando através deles, via tudo de forma diferente. Entendia as pessoas e as coisas de outra maneira e exclamou: Não é assim que eu pensava, como julgava! … está tudo diferente! Que misterioso! Serão os óculos de Deus?…

Neste momento, olhou para a terra e viu seu colega de trabalho.Percebeu que esse colega estava prestes a cometer um grande erro, pois ia dar um golpe financeiro e prejudicar algumas pessoas na empresa. O cidadão ficou apavorado e queria avisar o colega para não cometer aquela loucura. Mas como poderia avisá-lo e evitar tamanho dano ao próximo? Olhando ao redor, viu um banquinho e disse: Ah! Vou atirar esse banquinho na cabeça do meu colega. Com isso poderei evitar que ele cometa o mal que está planejando. Mas quando estava para atirá-lo, ouviu os passos de Deus, chegando com toda a corte celeste. Assustado, colocou os óculos sobre a mesa, deixou o banquinho no chão e foi encontrar-se com Deus, que o abraçou e disse: – Meu filho, que bom é tê-lo aqui no Céu! Você chegou justamente na hora em que havíamos saído para um passeio. Sempre que saio, disse Deus, deixo meus óculos sobre a mesa.

As pessoas que chegam ao Céu colocam os meus óculos; assim começam a entender e a ver tudo de forma diferente; a olhar com os olhos do Amor, da Misericórdia, da paciência e bondade. Aprendem a discernir de maneira justa e sábia. E continuou: – Você, filho, estava querendo impor-se à liberdade de seu colega e impedir que ele aplicasse um golpe… Ia atirar-lhe o banquinho… Já pensou se eu agisse assim com você? Se eu atirasse objetos na cabeça de cada pessoa que irá cometer algo errado?…

O cidadão compreendeu. Era preciso aprender a ver as pessoas e os fatos com os olhares de Deus, com a paciência, a sabedoria e a misericórdia de Deus.

Foi o que Jesus quis ensinar com as parábolas do joio e do trigo, que crescem junto, no campo do mundo e que estão presentes também no coração de cada ser humano. O joio é identificado como o mal, as más inclinações, o pecado… O trigo, como o bem, a virtude, as boas obras. Cabe a Deus julgar o coração do homem. E no momento oportuno separar o joio do trigo. A paciência de Deus Pai é infinita, como também a sua justiça e misericórdia.

O mesmo se aplica aos peixes recolhidos na rede. Uns são devolvidos ao mar para terem oportunidades de amadurecimento, de mudança, de crescimento. No mar e no campo da vida do mundo e da sociedade, crescem joio e trigo, peixes bons e maus. A Deus caberá julgar e separar uns e outros no momento oportuno. Ele quer infundir em nossa consciência o seu Espírito, a fim de mudar o nosso coração, inclinado a julgar de modo precipitado e sem misericórdia. “Não atiremos o banquinho!”