O valor da amizade

Para os cristãos, a amizade é fundamental. Jesus nos mostra como a amizade é parte fundamental do tratamento para com o próximo e de nossa própria salvação.

‘Ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos (…). Já não os chamo servos (…), a vós chamo-vos amigos’, nos disse o Senhor no Evangelho.

Jesus é nosso Amigo. Nele encontraram os apóstolos sua melhor amizade. Era alguém que lhes queria, com quem podiam comunicar suas dores e alegrias, a quem podiam perguntar com eterna confiança. Sabiam bem o que desejava expressar quando lhes dizia: ‘amai-vos uns aos outros… como Eu vos tenho amado’. As irmãs de Lázaro não encontram melhor título que o da amizade, para solicitar sua presença: ‘teu amigo está enfermo, lhe mandaram dizer’. Esse é o maior argumento que têm nas mãos.

Jesus buscou e facilitou a amizade a todos aqueles que encontrou pelos caminhos da Palestina. Aproveitava sempre o diálogo para chegar ao fundo das almas e enchê-las de amor. E além disso, de seu infinito amor por todos os homens, manifestou sua amizade com pessoas bem determinadas: os Apóstolos, José de Arimatéia, Nicodemos, Lázaro e sua família… Até mesmo Judas não lhe negou o honroso título de amigo no mesmo momento em que este o entregava nas mãos de inimigos. Estimava muito a amizade de seus amigos; a Pedro lhe perguntava depois de suas negações: ‘Me amas? És meu amigo? Posso confiar em ti?’, e lhe entrega a Sua Igreja: ‘Apascenta minhas ovelhas!’.

‘Cristo ressuscitado é o companheiro, o amigo. Um companheiro que se deixa ver em seu mistério, mas cuja realidade plena de toda nossa vida, e que nos faz desejar sua companhia definitiva’. Ele, que tem participado de nossa vida, quer participar também de nossos pesos: ‘Eu vos aliviarei’, disse a nós todos. É o mesmo que deseja ardentemente: que participemos de sua glória por toda a eternidade.

Jesus Cristo é o Amigo que nunca trai, que quando vamos vê-lo, falar com Ele, está sempre disponível, que nos espera com o mesmo calor de boas vindas, ainda que de nossa parte haja esquecimento e frieza. Ele ajuda sempre, anima sempre, consola em todas as ocasiões.

A amizade com o Senhor, que nasce e se acrescenta na oração e na digna recepção dos sacrametnos, nos faz entender melhor o significado da amizade humana, que a Sagrada Escritura qualifica como um tesouro: ‘um amigo fiel (Cf. Eclo 6, 14s) é poderoso protetor, quem o encontrou, encontrou um tesouro. Nada vale tanto como um amigo fiel, seu preço é incalculável’. Os apóstolos aprenderam de Jesus o verdadeiro sentido da amizade. E os Atos dos Apóstolos nos mostram como São Paulo teve muitos amigos, a quem queria interiormente, sente saudades dos seus quando estão ausentes e se enche de alegria quando tem notícias deles. A antigüidade cristã nos tem dado testemunho de grandes amizades entre os primeiros irmãos da fé.

O tratamento diário e a amizade com Jesus Cristo nos levam a uma atitude aberta, compreensiva, que aumenta a capacidade de Ter amigos. A oração afina a alma e a faz especialmente apta para compreender aos demais, aumenta a generosidade, o otimismo, a cordialidade na convivência, a gratidão… virtudes que facilitam o cristão no caminho da amizade.

A amizade verdadeira é desinteressada, uma vez que consiste em dar do que em receber; não busca proveito próprio, mas o do amigo: ‘O amigo verdadeiro não pode Ter, para seu amigo, duas caras: a amizade, tem de ser leal e sincera, exige renúncias, retidão, intercâmbio de favores, de serviços nobres e lícitos. O amigo é forte e sincero na medida em que, de acordo com a prudência sobrenatural, pensa generosmente ao clima de confiança, que se estabelece com a verdadeira amizade; se espera o reconhecimento do que somos e, quando necessário, também na defesa clara e sem paliativos’.

Para que haja verdadeira amizade é necessário que exista correspondência, é preciso que o afeto e a benevolência sejam mútuos. Se for verdadeira, a amizade tende sempre a ser mais forte: não se deixa corromper pela inveja, não se esfria pelas suspeitas, cresce na dificuldade, ‘até sentir ao amigo como outro eu, pelo que diz Santo Agostinho: ‘bem diz de seu amigo, o que lhe chamou-se a metade de sua alma’’. Então se compartilham com naturalidade as alegrias e as tristezas.

A amizade é um bem humano e, por sua vez, ocasião para desenvolver muitas virtudes humanas, porque cria ‘uma harmonia de sentimentos e gostos elevados, e inclusive até o heroísmo, a dedicação de amigo a amigo. Acreditamos – ensinava Paulo VI – que os encontros (…) dão ocasião a almas nobres e virtuosas para gozar dessa relação humana e cristã que se chama amizade. O qual supõe e desenvolve a generosidade, o desinteresse, a simpatia, a solidariedade e, especialmente, a possibilidade de mútuos sacrifícios’.

O bom amigo não abandona nas dificuldades, não trai; nunca fala mal do amigo, nem permite que, ausente, seja criticado, porque sai em sua defesa. Amizade é sinceridade, confiança, partilha de alegrias e tristezas, é animar, consolar, ajudar com o exemplo.

Ao longo dos séculos, a amizade tem sido um caminho pelo que muitos homens e mulheres se tem achegado – estão se achegando – a Deus e tem alcançado o Céu. É um atalho natural e simples, que elimina muitos obstáculos e dificuldades. O Senhor tem em conta com freqüência este meio para dar-se a conhecer. Os primeiros que que o conheceram foram comunicar esta boa nova a quem amavam. André levou a Pedro, seu irmão; Felipe, a seu amigo Natanael; João levou ao Senhor ao seu irmão Tiago…

Assim se difundiu a fé em Cristo no primeiro cristianismo: através dos irmãos, de pais a filhos, de filhos a pais, de servos a seus senhores e o inverso, de amigo a amigo. A amizade é uma base excepcional para dar-se a conhecer a Cristo, porque é o meio natural para comunicar sentimentos, compartilhar dores e alegrias daqueles que estão juntos de nós, por razões de família, de trabalho, de afeições.

É próprio da amizade dar ao amigo o melhor que se possui. Nosso mais alto valor, sem comparação possível, é o Ter encontrado a Cristo. Não teríamos verdadeira amizade se não comunicarmos o imenso Dom da fé cristã. Nossos amigos devem encontrar em nós, os cristãos que querer seguir Jesus de perto, apoio e fortaleza e um sentido sobrenatural para sua vida. A segurança de encontrar compreensão, interesse, atenção, lhes moverá a abrir o coração confiadamente, com a segurança que se desejam, de que se está disposto a ajudá-los. E isso, enquanto realizamos nossas tarefas normais de todos os dias, procurando ser exemplos na profissão ou no estudo, fomentando sempre a amizade, estando abertos ao tratamento e afeto com todos, impulsionados pela caridade.

A amizade nos leva a introduzir nossos amigos em uma verdadeira vida cristã se estão distantes da Igreja, ou a que reaprendam o caminho que um dia abandonaram, se deixaram de praticar a fé que receberam. Com paciência e constância, sem pressa, sem pausa, irão se achegando ao Senhor, que os espera. Em ocasiões podemos fazer junto com eles um momento de oração, um ato de misericórdia, visitando um enfermo ou a uma pessoa necessitada, pediremos que nos acompanhem a fazer uma visita a Jesus Sacramentado… Quando for oportuno falaremos do Sacramento da Misericórdia Divina, a Confissão, e ajudaremos a preparar-se para recebê-la. Quantas confidências ao abrigo da amizade são caminhos abertos ao apostolado pelo Espírito Santo! ‘Essas palavras, deslizadas tão a tempo no ouvido do amigo que vacila; aquela conversa direcionada, provocada oportunamente; e o conselho profissional, que melhora seu exercício comunitário; e a discreta indiscreção que te faz sugerir inesperados horizontes do céu… Tudo isso é o ‘apostolado da confidência’.

A amizade todo pode com a ajuda da graça; ajuda que devemos implorar do Senhor com oração e mortifiação. Como nunca lhe temos ocultado nossa fé em Cristo, lhes parecerá natural que falemos a eles com freqüência do mais essencial de nossa vida, o mesmo que eles nos falem dos assuntos que consideram de mais importância.

O Senhor deseja que tenhamos muitos amigos porque Seu Amor é infinito pelos homens e nossa amizade é um instrumento para chegar a eles. Quantas pessoas que relacionamos todos os dias estão esperando, ainda sem saber, que a luz de Cristo chegue até elas. Que alegria nossa a cada vez que um amigo nosso se faz amigo do Amigo!

Jesus, que passou fazendo o bem, e que conquistou o coração de tantas pessoas, é o nosso modelo. Assim temos que passar nós pela família, no trabalho, para os mais próximos, para os amigos.

Hoje é um dia oportuno para que nos perguntemos se as pessoas que habitualmente se relacionam conosco sentem-se movidas por nosso exemplo e nossa palavra a estar mais perto do Senhor, se nos preocupa sua alma, se é possível dizer verdadeiramente que, como Jesus, ‘estamos passando pela sua vida fazendo o bem’!