O amor justifica tudo?

É muito comum ouvir-se essa expressão sendo usada para “justificar” comportamentos que absolutamente não se justificam.

Afinal, o amor justifica tudo? É claro que sim, se estivermos falando do amor no seu sentido evangélico, se estivermos nos referindo ao amor à semelhança do amor de Deus por nós. Esse amor tem características muito próprias: é paciente, benigno, não é invejoso nem temerário; não se ensoberbece, não e ambicioso, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. Esse amor, sim, justifica tudo porque, num sentido bíblico da palavra justificar, torna tudo santo.

Quando perguntaram ao Mestre qual era o maior dos mandamentos Ele prestou uma informação na qual revela o que de mais importante Deus espera de seus filhos, ou, em outras palavras, a própria finalidade de nossa criação: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Note-se que a segunda condição se liga com a primeira pois quem ama a Deus sobre todas as coisas, ama ao Bem mais do que a tudo e, nesse caso, não se ilude quando se trata de identificar o próprio bem e o bem do próximo (a quem deve amar tanto quanto a si mesmo). São Paulo, vale lembrar, fala que o amor, entre outras coisas, é benigno (quer e/ou produz o bem).

Já se vê que a justificação que provém do amor tem nada a ver com os frutos da simples paixão, do desejo, da busca do interesse ou satisfação pessoal, nem com as conseqüências de algum sentimento que não se alinhe com a Verdade, que não perdoe, que não saiba esperar e que não se conforme com sofrimento, quando ele vem.
É tão difícil encontrar no vocabulário uma palavra adequada para expressar um sentimento assim que as pessoas o inscrevem sob a denominação genérica de “amor” (malgrado tratar-se de algo muito menor, desordenado e egoístico). Que, na prática, não se justifica nem justifica coisa alguma.

Sem as características de que fala São Paulo, qualquer afeto, amizade ou paixão é apenas paixão, amizade ou afeto mas não é Amor.