O amor humano na perspectiva do Reino

2. A partir da nossa adesão, pela fé, a Cristo Ressuscitado e da nossa união vital a Ele, pelo baptismo, toda a nossa realidade humana e, de modo particular, a nossa caminhada no amor, ganham sentido na perspectiva do Reino de Deus. É a “vida nova” segundo o Espírito que nos é dado.

São João no prólogo do seu Evangelho situa este horizonte novo em que passa a situar-se toda a vida dos discípulos de Jesus: “a todos aqueles que O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, àqueles que acreditam no Seu Nome, que nem o sangue, nem o querer da carne, nem o querer do homem, mas só Deus gerou” (Jo. 1, 12-13).

Esta é a novidade radical da vida cristã, que não anula a vida natural, mas a purifica e eleva a ponto de ser vivida com a radicalidade de Deus. No que ao amor e à sexualidade diz respeito, a sua vivência passa a ser a comunhão no amor de Deus pelo seu Povo, de Cristo pela sua Igreja. Quer seja vivida no sacramento do matrimónio, quer na virgindade consagrada, a capacidade humana de amar exprime-se em Cristo e no Seu amor pela Igreja. Ambos os caminhos são participação no amor esponsal de Cristo pela Igreja, cujo corpo integramos. Membros da Igreja, amada por Cristo como uma esposa, ao construirmos o nosso caminho de amor, somos amados por Cristo esposo, amamos naqu’Ele que nos amou.

Entre a virgindade e o matrimónio cristão, nas diferenças específicas de cada carisma, há algo de comum: fazer da nossa sexualidade, com a força do Espírito Santo, um caminho do amor-caridade. Descobre-se o sentido específico da virgindade, não numa oposição negativa em relação ao sacramento do matrimónio, mas numa convergência positiva e mutuamente interpelante e enriquecedora, pois ambos são caminhos em que aceitamos deixar transformar todas as nossas forças de amor pelo amor de Jesus Cristo. É bom lermos, a este respeito, um texto da Familiaris Consortio: “A virgindade e o celibato pelo Reino de Deus, não só não diminuem em nada a dignidade do matrimônio, mas antes a pressupõem e confirmam. O matrimónio e a virgindade são os dois modos de exprimir e de viver o único mistério da Aliança de Deus com o seu Povo. Quando não há apreço pelo matrimónio, não o há também pela virgindade consagrada; quando a sexualidade humana não é considerada um grande valor dado pelo Criador, perde o seu significado a renúncia pelo Reino dos Céus” 1.