Namoro na adolescência

A experiência de namoro, assim como os demais relacionamentos da adolescência, deve ser colocada dentro de um contexto mais amplo.

Isto porque existe uma série de profundas mudanças que o adolescente começa a descobrir nessa fase e que, embora todas elas possam ser fascinantes e positivas, devem ocorrer dentro de um ritmo de normalidade e sem qualquer agressão ou violência sobre o seu processo de crescimento global, sob pena de graves e irremediáveis conseqüências.

O adolescente, por óbvio que possa parecer, não é ainda um adulto. Não tem os seus sentimentos e as suas emoções sujeitos a um saudável e necessário controle, mas pelo contrário, exatamente por estar iniciando e descobrindo a sua trajetória de vida, é mais induzido a fantasias e impulsos que escapam da sua razão ou moderação.

E nessas fantasias e impulsos entra, sem sombra de dúvida, um fator muito forte que é o afeto. Afeto do qual todos os seres humanos sentem a falta, em maior ou menor escala, em qualquer etapa de suas vidas, mas que pode e deve ser administrado segundo um critério de oportunidade e conveniência. Por exemplo, se falta afeto a um homem casado em determinado momento de sua vida, deve ele procurar compensação fora da vida conjugal? Não é o caso. Ele deve acolher aquela fase como uma oportunidade de crescimento pessoal e do próprio casamento, esforçando-se, a começar por ele mesmo, a gerar e desenvolver o afeto do qual sente a ausência.

Situação semelhante é a da adolescência, ocasião em que a carga afetiva é ainda mais impetuosa e forte. Como administrá-la? Procurando, antes de mais nada, ter uma vida saudável, por exemplo com a prática de esportes que permitam descarregar a energia naturalmente existente. Ao mesmo tempo, desenvolvendo ao seu redor um clima de harmonia, solidariedade e amor para com todos e para com tudo, a começar pela natureza.

Na verdade, atualmente os adolescentes — assim como todos os que vivemos em sociedade, independentemente de sexo, idade, raça, cor ou categoria — recebem uma violenta carga de permissividade vinda de todos os lados, que objetiva manipular as consciências e torná-las mais submissas a interesses escusos e lucrativos.

A televisão é uma das grandes responsáveis pela banalização dos relacionamentos humanos, entre os quais o namoro. A moda, que deveria ser expressão de beleza e harmonia, se identifica com a ousadia e com os apelos sensuais, resultando na degradação sobretudo da mulher. Isso sem falar nas revistas e jornais, que circulam livremente. Os out-doors expostos a todo canto nada mais são que insinuações ao desenfreado e ilimitado prazer.

O homem está em crise. Os relacionamentos sociais estão em crise. Entre eles, o coleguismo, a amizade, o casamento e o namoro não escapa.

Por que isso, se hoje como nunca, os homens têm à sua disposição recursos, inimagináveis no passado, que poderiam contribuir largamente para a sua felicidade?

É porque todos esses recursos externos, embora importantes alguns deles, não são essenciais para a vida feliz. A grande lacuna na vida do homem moderno é a falta do verdadeiro amor. E esta ausência gera conflitos interiores e sociais de graves conseqüências, bastando lembrar a onda de criminalidade entre jovens americanos, num país onde não faltam recursos materiais os mais sofisticados.

Especificamente o namoro entre um e uma adolescente — embora reconhecendo toda a pressão que você mesmo menciona na pergunta —, com suas características particulares de troca de afeto, pode e deve ser substituído por uma amizade especial entre os dois. Amizade que não deve ser oprimida ou reprimida, mas respeitada e inserida numa maior abertura e participação na convivência com os pais e na vida normal e cotidiana da sociedade, nunca num fechamento obsessivo a dois. Amizade que pressupõe a arte do verdadeiro diálogo, maiores oportunidades de encontros, de convivência e de relacionamento, mas que é, sobretudo uma ocasião de grandes descobertas. Seja na vida pessoal, como na vida do outro. Estas descobertas devem ser respeitadas, acolhidas e jamais banalizadas. Devem ser objeto de construção da verdadeira personalidade que se desenvolve em cada um e nunca motivo de vulgarização ou de humilhação. O outro nunca é um ser descartável. Ele ou ela tem sentimentos… afetos… é um ser humano.

Essa atitude prepara o adolescente para um discernimento maduro sobre a sua futura vocação, sendo a melhor preparação para um namoro sadio e enriquecedor — se for este o seu caminho —, em vista de um matrimônio com chances de ser duradouro e feliz.

O namoro, quando chegado o momento, assim como toda experiência na vida tanto do adolescente como do adulto, pode e deve ser uma ocasião de crescimento e desenvolvimento de toda a potencialidade existente e muitas vezes adormecida. A atenção e o cuidado, no entanto, devem estar voltados para o desvirtuamento das propostas, circunstância hoje tão difundida na sociedade e da qual os adolescentes são talvez os primeiros a sentir o peso. A sugestão é não se deixar manipular por instrumentos e/ou pessoas que têm interesses na difusão de certa mentalidade permissiva, mas lutar e agir para que prevaleça o amor verdadeiro. Amar ao próximo como a si mesmo.

Fonte: Revista Cidade Nova