Mutirão contra a fome

Um amigo que teve acento no primeiro escalão da República, num acesso de transparência, disse à Comissão de Filantropia do Rio Grande do Sul: “Vocês fazem bem em manter vivas as crianças miseráveis das periferias, acolher os velhos em asilos e cuidar de doentes endêmicos. Mas não é o que interessa ao governo. O governo precisa criar boa imagem no exterior e isto se faz através da elevação do nível de estudos. Por isso vocês devem garantir bolsas de estudo e terão o apoio do governo”.

Uma política educacional agressiva merece o apoio da nação. Lembro, porém, um ditado antigo: “É importante fazer isto, sem omitir aquilo”. Aliás, quando Jesus fala das obras de caridade, segundo as quais ele nos vai julgar, menciona primeiro os famintos: “Tive fome e me destes de comer”. Um documento recente dos Bispos católicos brasileiros vai além: “Por ser a fome e a desnutrição a dimensão mais pungente da miséria e também seu indicador mais visível, deve ser ela o primeiro alvo do mutirão que ora encetamos”.

“Mutirão”? Exatamente: mutirão contra a fome e a miséria. É uma campanha da Igreja Católica, a ser lançada na festa de “Corpus Christi” (dia 30 de junho). Esperamos a parceria das Igrejas cristãs e das várias instâncias do Poder Público. Superar a fome é desafio de todos.

A sociedade brasileira, sob a liderança carismática do Betinho, tinha iniciado uma “ação da cidadania contra a Fome, Miséria e pela Vida”. Infelizmente um decreto presidencial (janeiro de 1995) encampou a iniciativa, atribuindo-a à burocracia nacional sob o nome de “Comunidade Solidária”.

Agora a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) retoma a iniciativa, sem ranço e sem restrição, como desafio para a sociedade toda. Não é substituição da ação governamental, nem concorrência, mas ação subsidiária pela vida e a dignidade dos indigentes.

O mutirão contra a fome é pensado como o primeiro passo rumo a uma sociedade justa e solidária, onde todas as pessoas possam viver com dignidade. Supõe uma economia de comunhão, uma civilização do amor, como sonhos que brotam do Evangelho.