Muros ou cercas: a escolha é sua!

Muros, muralhas e cercas fazem parte da história de uma humanidade sofrida, desnorteada e temerosa, sempre em busca de proteção e segurança. No mundo bíblico, ganharam notoriedade as “Muralhas de Jericó”, destruídas pelo “povo eleito”, ao avançarem contra as nações que ocupavam a Terra Prometida, e o “Muro das Lamentações”, onde ainda hoje os judeus ortodoxos choram as desgraças que, por sua vez, massacraram os vencedores de antigamente.

Dentre as muralhas antigas, a mais famosa é certamente a “Muralha da China”, com 6.000 km de extensão, iniciada no ano 220 antes de Cristo e concluída no século XV.

O avançar da civilização não conseguiu acabar com o medo e a desconfiança que o “outro” e o “diferente” nos inspiram. Os muros e as cercas estão em toda a parte, no campo e na cidade. São cada vez mais raras as residências que não dispõem de cerca elétrica. Os condomínios fechados, vigiados por guardas, já não são patrimônio dos grandes centros urbanos: chegaram às pequenas cidades do interior, onde, até ontem, as portas das residências permaneciam sempre abertas. Talvez nunca como hoje as companhias de segurança ganharam tanto dinheiro!

Se alguém pensou que, com a queda do Muro de Berlim, a 9 de novembro de 1989, a humanidade iniciasse uma época de paz e liberdade, enganou-se redondamente.

A construção de muros continua ostensivamente em vários países. Na fronteira entre os Estados Unidos e o México, o governo norte-americano está erguendo uma parede de concreto e aço, com oito metros de altura, que terá 1.127 km de extensão – quase um terço dos 3.141 km que separam os dois países. Serão investidos no projeto cerca de 7 bilhões de dólares. O motivo apresentado? Conter a imigração de clandestinos que, de todos os países da América Latina, se dirigem aos Estados Unidos em busca de melhores condições de vida.

No país que antigamente passava por “Terra Santa”, em junho de 2002 Israel iniciou a construção de um muro de defesa ao longo dos 650 km de fronteira com o Estado Palestino. A barreira, composta de arame farpado, fossas, cercas eletrônicas e 360 km de placas de concreto, com até 9 metros de altura, tem por finalidade – segundo as autoridades israelenses – defender-se dos atentados palestinos.

Mas não precisamos ir tão longe: até em Foz do Iguaçu está sendo projetado um muro de 1 km de extensão e três metros de altura, sob a ponte da Amizade, para tentar impedir o contrabando do Paraguai para o Brasil.

Com o progresso trazido pelo século XXI, os muros e as cercas começam a ser mais sofisticados, como acontece na Arábia Saudita: ela pretende construir uma barreira eletrônica com o propósito de vigiar seus 900 km de fronteira com o Iraque.

Mas, será que os muros e as cercas são a melhor maneira para se defender? A resposta só pode ser negativa. Apesar de todos os meios de segurança, os ladrões continuam assaltando e a violência aumenta em toda a parte. A verdadeira segurança é diferente, bem mais difícil e complicada, porque passa pela justiça social e pela solidariedade humana. É mais fácil construir presídios e armar a polícia do que mudar os corações!

É inútil buscar seguranças externas quando não temos a segurança interior! E a segurança interior é fruto de uma consciência serena, em paz consigo e com Deus.

Apesar de social por natureza, sempre em busca de afeto e apoio, o homem – tremenda contradição! – é levado a olhar para seus semelhantes com desconfiança, desdém e agressividade. Se se pudesse parafrasear São Paulo, diríamos que ele recorre a «armas ofensivas e defensivas, à direita e à esquerda», só que, diferentemente do Apóstolo, nem sempre em defesa da justiça (Cf. 2Cor 6, 7). Isso porque toda a estrutura social e até mesmo cultural – quando não somos alimentados pela fé se fundamenta sobre o confronto e a concorrência.

Precisamos aprender a construir pontes, ao invés de muralhas. Pontes na família, incentivando o diálogo entre marido e mulher, pais e filhos; pontes entre Igrejas e religiões, pois é muito mais o que nos une do que o que nos separa; pontes entre patrões e operários, fazendeiros e índios, partidos políticos e movimentos populares, pastorais e comunidades eclesiais. Quanto mais pontes, menos haverá lugar para os muros!

A opção pelas cercas demonstra que não estavam completamente enganados os antigos latinos ao moldarem um provérbio que fez época: «Homo homini lupus: o homem é lobo para o homem».

De fato, muitas vezes, as cercas e os muros que cercam nossos países e nossas propriedades nada mais refletem senão as cercas e os muros que mantêm enclausurados os nossos corações! Por isso, quando se sentir sozinho e chateado, saia de sua prisão e lance uma ponte com quem está ao seu lado!