Mentir pra si mesmo...

Mentir pra si mesmo…
Mentira é uma palavra tão feia que de tão feia andam dizendo que ela nem é tão mentira assim…
“Não é pra tanto… mentira é algo pior… isso não é mentira… é uma outra forma de olhar…”

São coisas assim que vão cegando a gente de tal forma que um dia a gente vai ser o que decidir mentir melhor. Que triste.
É tão fácil a gente se imaginar uma pessoa forte, decidida, rápida de raciocínio, de forma tão convincente que ninguém jamais ousou pensar nos detalhes que passam desapercebidos, que a insegurança sempre é amiga de um olhar prepotente, que o medo é fiel escudeiro de quem sempre sabe tudo, e a tristeza fica nas entrelinhas de um coração que sempre encontra alguém mais feliz do que ele…

Andam tentando me dizer que mentir vale a pena, mas ainda não me rendi.
Não consigo acreditar, graças a Deus.

Dia desses recebi uma carta. Carta de amigo sempre desinstala alguma coisa dentro da gente.
Parece que a alma já se prepara pra qualquer coisa e sai abrindo espaço dentro do coração pra acolher, receber, amar, sofrer junto, reclamar, se indignar.
A gente muda.
Era a carta de uma amiga que está buscando a verdade. Receber esse tipo de carta está ficando cada vez mais raro…
Diante daquela carta tão sincera, tão confusa e com tanta vontade de acertar, eu não sabia se ria ou se chorava, se lutava com ela ou se a assistia, se falava o que os meus limitados olhos viam ou se me calava na esperança de que ela acreditasse no primeiro passo, primeira atitude de uma longa jornada.

Foram minutos, vários minutos de silêncio e profundo respeito por uma atitude tão simples e talvez tão insignificante pra muitos, mas pra mim era o céu visitando a minha alma, era um “e-mail” direto de Deus, me dizendo que ainda existe gente na busca de ser sincero consigo mesmo, que ainda dá pra viver sinceramente…

Parei num silêncio doído sem saber muito o que fazer. Às vezes o amor é tão frágil que pede silêncio, respeito e tempo, pra depois poder agir da forma mais sábia possível, pois a melhor só Deus é capaz.

Nessa hora creio que o amor se transforma e a única força que temos age na fragilidade de um risco sendo corrido.
Amar é correr riscos sempre.
Depois de pensar e pensar e pensar, vi apenas uma saída: amar. Amar a minha própria busca, não desistir dela e me agarrar a ela como criança assustada no colo da mãe.

E que minha busca da verdade seja forte o suficiente pra ser, ainda que fraquinha e pequena, uma chama de luz àqueles que amo, sem que eu precise dizer muita coisa.
Na verdade não sei dizer muita coisa. Sei estar do lado, olhar no olho, chorar junto e esperar contra toda esperança, sei escrever quando a garganta engasga e o olho enche d água e a alma fica pedindo colo justo na hora de ter que andar.
Sei pouco, mas ainda dá tempo de amar.
Li de novo a carta.
Amei mais um pouco.
Rezei como se fosse a última vez.
Apertei uma mão contra a outra esperando que algo surgisse em minha mente, mas nada aconteceu.

Ouvi o silêncio de Deus e, bem nessa hora, guardei a carta na minha alma, me alimentei da verdade e dei minha amiga para os Braços mais firmes do mundo…