Medida de Misericórdia

Você se sente só? Nunca passou por esta experiência? Podemos estar cercados de pessoas exteriormente dizendo e, no entanto, permanecer só dentro de nós mesmos, sem ter com quem desabafar, partilhar nossas dificuldades e sofrimentos. Se você se sente só, o Senhor tem algo a lhe dizer: (Diga seu nome). Eu estou perto de você, que me invoca, que me invoca lealmente. Abraço-lhe com minha ternura. (Cf. Sl 145/144)

O Senhor está perto de você! Busque-O, convide-O para participar de sua vida. Não se perca em meio às ocupações do cotidiano. A solidão pode e deve ser cheia da Presença de Deus em nós. Se você se distanciou de Deus pelos seus erros e pecados, não tenha medo. Volte-se para o Senhor e Ele terá piedade, perdoará toda suas faltas. (cf. Is 55 6-8). Não importa o que tenha feito, importa é que se volte sinceramente para Deus. Não se preocupe: nosso Deus não é castigador, não nos julga como nós muitas vezes julgamos a nossos irmãos. Muitas vezes não compreendemos os acontecimentos e julgamos que até mesmo o Senhor nos está sendo injusto, não é mesmo?

No Evangelho de Mateus 20, 1-16 encontramos a parábola dos operários da vinha. Esta parábola narra a história de operários, que começaram a trabalhar em horários diferentes, tendo combinado o mesmo salário. Na hora do pagamento os que haviam começado a trabalhar primeiro questionaram, achando injusto receber a mesma quantia recebida por aqueles que começaram a trabalhar mais tarde…

Você já ouviu frases como essas: “Como o padre deixa este menino fazer isto? Ele é muito novo! Como pode já saber fazer as coisas?!”. Ou então assim: “Esta pessoa começou a participar do grupo nestes dias! Como já está participando assim, à frente?” Não há uma semelhança com a parábola dos operários da vinha? “Mas quem és tu que julgas o teu próximo?” (Tg 4, 12) “Quem vos constituiu juiz? (Cf. Atos 7, 27)

Quem somos nós para julgar se os primeiros operários eram mais merecedores? Não sabemos dos sofrimentos e angústias que passaram os últimos operários, sem conseguir emprego. Não sabemos todo sentimento de incapacidade que sentiram, assim como não sabemos se os primeiros operários trabalharam fielmente na vinha do Senhor. Não temos uma visão da realidade como um todo, julgamos por aquilo que vemos e a Palavra do Senhor nos diz “não julgueis pela aparência” (Jo 7, 24).

Temos o exemplo de São Paulo: “…nem eu julgo a mim mesmo” (I Cor 4, 3) Como podemos julgar se o outro é digno ou não de receber ou fazer isto ou aquilo?
Quantos começam “quentes”, fervorosos e, depois, permanecem mornos na Igreja e sem dar espaço àqueles que após uma radical mudança, buscam com todas as forças uma nova vida!

Parece que paramos no Antigo Testamento: “Olho por olho, dente por dente”. Eles achavam que eram muito justos porque deveriam se vingar devolvendo a ofensa em dobro ou mais. Esta não é a justiça que Jesus nos trouxe e São Mateus insiste em nos mostrar: “Ele faz cair a chuva tanto sobre maus como sobre os bons e faz chover sobre os justos e sobre os injustos” (Mt 5,45).

“Nossa justiça não é como a de Jesus, assim como nossos pensamentos e caminhos não são os pensamentos e caminhos do Senhor” (Cf. Is 55, 8). Somos muito condescendentes quando julgamos a nós mesmos. Encontramos mil justificativas. Mas será que agimos com misericórdia ao olhar para nosso irmão? Esquecemos o Evangelho que nos diz: “Não julgueis e não sereis julgados, não condeneis e não sereis condenados… com a mesma medida que medirdes, sereis medidos vós também…” (Lc 6,37).

Há tantos que lutam uma vida inteira pelo céu, enquanto o Bom Ladrão conseguiu isto no último momento de sua vida: pelo seu sincero arrependimento ouviu a promessa do próprio Jesus: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Mas é necessário cuidado para não deixarmos nossa conversão para a última hora e não dar tempo! É melhor buscar o Céu desde já para não corrermos o risco de ser pegos de surpresa, sem tempo para o arrependimento.

O Senhor vem nos ensinar uma nova medida de justiça: a Misericórdia. “Senhor, que possamos trazer cada pensamento cativo, em obediência a Ti” (Cf. II Cor 10,5) e assim podermos pensar e agir como Te convém e ter Misericórdia como medida de justiça.