Marcas do que se foi

Nem todos os fatos têm a mesma importância ou significado. Alguns deixam lembranças gostosas, saudosas, que nos dão prazer em recordá-los. Outros, porém, se pudéssemos, os colocaríamos num lugar bem profundo, bem escondido no esquecimento, como dizemos, para jamais termos de nos lembrar deles.

Marcas positivas e negativas formam em conjunto nossa história de vida.

Ouvindo as histórias de várias pessoas, muitas vezes vivi um misto de alegria e dor. Alegria por poder contemplar tantas riquezas e encontrar pessoas que foram verdadeiramente tocadas pelo poder de Deus; e dor porque cada um traz também em si marcas dolorosas da sua história. Meu coração ficou tantas vezes compadecido pelas histórias de tantas pessoas que pude conhecer. Em cada história, encontrei um pouco de mim, em cada pessoa vi um pouco de Deus.

Senti, muitas vezes, minha impotência diante de situações que não pude resolver; mas, por outro lado, pude entender ainda mais que só Deus é onipotente. Ele conhece-nos profundamente e sabe melhor que nós mesmos o que precisamos, assim pude ir experimentando o que diz o salmista:

“Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim…” (Salmo 138,1s)

Deus tudo sabe, conhece a nossa intimidade, por este motivo, Ele e somente Ele, pode penetrar no profundo da nossa história para realizar nela toda cura necessária.

A cura do interior e a cura das gerações são os meios maravilhosos de que Deus tem utilizado para nos manifestar Seu amor, apagando as marcas do que se foi.

Talvez, muitos de nós poderíamos testemunhar as marcas que se foram… marcas que já não causam mais dor. Continuam sendo marcas, cicatrizes, pois, permanecem para nos recordar do acontecimento, mas, as dores se foram da nossa lembrança.

Lembro-me bem de um fato da minha história que marcou-me muito:

Eu tinha seis anos, morava numa rua bastante central de minha cidade natal: Jacarezinho, que fica no estado do Paraná, era bem próxima de uma praça, onde costumava passar as tardes brincando ou andando de bicicleta. Numa tarde, quando ia para casa, atravessando a praça, fui surpreendida por um homem de meia-idade, que me seguia e perguntou-me onde morava. Inocentemente, dei-lhe todas as instruções do local onde era minha casa, até que chegando já bem próximo, ele convidou-me para ir fazer com ele um pequeno passeio. eu não quis, disse-lhe que não podia. Vendo minha resistência, segurou meu braço com força e tampou em seguida minha boca para que não gritasse. Ainda assim consegui gritar por minha mãe, que dentro de casa ouviu-me e imediatamente saiu para ver o que estava acontecendo. Ele soltou-me, fugindo e prometendo voltar para me levar.

Este fato teve singular importância na minha vida. Com o tempo, fui me dando conta do quanto minhas inseguranças estavam ligadas àquele acontecimento. Uma marca que carreguei de forma inconsciente durante muitos anos. Deus, em Sua infinita bondade, visitou minha história trazendo-me a cura desta marca.

Certamente, cada um de nós possui marcas que nos impedem de avançar. Marcas remotas, mas muito vivas, como a minha aos seis anos. Não importa a idade, o tempo que se passou, Deus pode e quer realizar hoje uma obra nova em você!

Vamos rezar juntos o Salmo 138, acreditando nesta promessa:

“Senhor, vós me perscrutais e me conheceis,
Sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto.

De longe penetrais meus pensamentos.
Quando ando e quando repouso, vós me vedes,
Observais todos os meus passos.

A palavra ainda não chegou à minha língua,
E já, Senhor, a conheceis toda.

Vós me cercais por detrás e pela frente,
E estendeis sobre mim a vossa mão.

Conhecimento assim maravilhoso me ultrapassa, Ele é tão sublime que não posso atingi-lo.”