Liberdade que escraviza

Antes de responder essas perguntas é preciso entender uma coisa: Fomos criados para ser livres, mas não o somos verdadeiramente por causa da marca do pecado original em nós.

O pecado original foi a desobediência de Adão. Ele não quis subordinar sua vida a Deus, mas quis ser senhor da sua história e da sua vida, quis tomar o lugar de Deus. Assim o homem passa a ser governado pelos seus próprios instintos e necessidades. Contudo, como esses instintos, não estando submetidos a Deus, estão desordenados e acabam por escravizar o homem, levam-no ao egoísmo de satisfazer, custe o que custar , suas necessidades próprias.

Jesus, ao Se encarnar, assume a nossa humanidade e a redime. Pelos méritos d´Ele, no nosso batismo recebemos o perdão do pecado mas a desordem que o pecado causou ainda fica em nós. Nossos instintos ainda nos escravizam.
Há quem diga que ser livre é fazer o que se tem vontade na hora em que se tem vontade. Mas na verdade quem sustenta essa idéia não faz o que tem vontade de fazer e sim o que não é capaz de deixar de fazer, pois é escravo de seus próprios instintos. Por exemplo, a pessoa que fica enrolando na cama para levantar pela manhã, que fica só mais cinco minutinhos, no fundo é escrava da sua preguiça e só se levanta quando a preguiça lhe dá permissão. Ou aquele rapaz que precisa ficar com as meninas para provar sua virilidade, no fundo é escravo de seus instintos, pois não é livre o suficiente para não “ficar” com aquela garota por enxergar nela alguém que possui sonhos, sentimentos, alguém que, assim como ele, foi querida e sonhada pelo Pai para ser feliz. Ou até mesmo aquela pessoa que se sente o máximo, que acha que sempre tem a palavra certa na hora certa e que é mais engraçada e inteligente que todos, no fundo ela é escrava do seu orgulho e não percebe o quanto é inconveniente e que “ninguém merece” ficar ouvindo seus super comentários…

Por isso essa liberdade pregada pelo mundo de ‘faça o que te der na telha’ sem pensar nos outros e nas conseqüências, na verdade, escraviza, já que tranca o homem no egoísmo de satisfazer suas necessidades imediatas. Isso não é felicidade para o homem, pois ele foi criado à semelhança de Deus que é Amor e o Amor é doação, sair de si mesmo para chegar ao coração do outro, por isso São Paulo diz: “Não tomeis, porém, a liberdade como pretexto para servir a carne. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade” Gal 5, 13 Fazer-nos servos é, antes de satisfazer nossa necessidade, satisfazer a do outro e isso é Amor.

A verdadeira liberdade

A verdadeira liberdade é Amar, é controlar os próprios instintos e necessidades e só ‘dar ouvido’ a eles se realmente for bom para mim e para o outro. É submeter nossa vontade à nossa razão e esta ao domínio do Espírito Santo. Só os filhos de Deus vivem essa liberdade, pois quem a conquistou para nós foi Jesus. E Nele somos filhos. Foi Ele quem veio à nossa realidade nos ensinar a agir, a sentir, a pensar, enfim, a viver.

Foi Jesus quem veio nos libertar do nosso egoísmo, foi Ele quem nos libertou do pecado para que fôssemos homens livres.
Lembra-se daquela pergunta que fizemos a você? Se você entendia por que Jesus nos libertou? Ele assumiu toda a realidade humana para nos ensinar a viver como o Pai quis, ou seja, como homens livres. Jesus foi jovem e sabe dos anseios do coração de um jovem, Ele sabe da nossa busca de um grande ideal, de autenticidade de vida, sabe que somos atraídos pela beleza, que queremos fazer nossa vida valer a pena, que queremos um grande e verdadeiro Amor, sabe que queremos um motivo que nos faça desejar viver para sempre. E Jesus nos ensina a ser jovem. É Ele quem nos ensina a Amar.

E isso se faz em nós pela presença do Seu Espírito, do Espírito de Deus que nos foi dado no dia do nosso Batismo. É Ele quem vem ordenar nossa sede de liberdade para Deus. Ele vem dominar nossa carne marcada pelo pecado original. Assim nossa vontade de gritar pela nossa liberdade não desemboca na revolta, no egoísmo, na agressividade, na discussão, na irreverência e sim na alegria, na força da juventude, na vibração de ter uma vida inteira pela frente, de ter uma história a ser escrita com Cristo. A liberdade que o Espírito nos comunica desemboca no Amor – o grande anseio dos nossos corações.

“Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (II Cor 3, 17b)
Curta a presença do Espírito de Deus em seu coração, que leva você a escolher o Bem Maior, que desmascara toda a mentira do mundo.
Por isso, jovem, não cale a sede de liberdade do seu coração, antes, faça com que essa sede se encontre com Aquele que quer ver você livre, feliz, amando, cheio de vida. Tenha coragem de dizer não à ‘liberdade que escraviza’ que é a libertinagem. Não acredite nas mentiras que o mundo apresenta como verdade, dizendo para você ser mais você, não importando o que os outros pensem ou achem, mesmo que esse outro seja seu pai.

Nós, jovens, buscamos duas coisas para sermos felizes: Amor e Alegria. Onde existem essas duas coisas, o jovem está, mas é importante estarmos atentos a quais “amores” e “alegrias” estão nos oferecendo. Tenha certeza de que vale a pena ser um jovem que assume a força da liberdade dos filhos de Deus.

Nilton Dall´Oca Júnior e Isabella Mantovani Gomes
Noviços da Comunidade Católica El Shaddai

Extraído da Revista O Pão da Vida nº 54 Jan/Fev 2005