Liberdade Interior

Dizes isto por ti mesmo, ou outros o disseram de mim? (Jo 18,34)

Esta pergunta de Jesus é importante no tempo em que vivemos.

A cidade santa de Jerusalém se agitava. Todo o mundo tinha falado deste profeta
poderoso em obras e palavras e, em vão, havia esperado que restaurasse, enfim, o
Reino de Israel. Mas o sonho tinha acabado. Os chefes do povo o haviam entregue à autoridade de Roma.

Diante de Pilatos, O Senhor está sozinho. Em sua impotência e seu silêncio, ele sabe
manifestar sua autoridade. É o poder deste mundo, as legiões de Roma, ante a
debilidade e grandeza simples deste homem. E frente ao mistério de Deus…

Como em nenhuma parte, ali se manifestam a força da verdade e a dignidade da pessoa. Era , porém, necessário ter os olhos limpos e penetrantes para perceber, aí, a humanidade. Pilatos era incapaz disso. Tinha de conservar seu posto, resguardar sua autoridade, defender a dignidade do Império perante os fanatismos.

No olhar deste prisioneiro humilhado, fracassado e impotente, brilha, para quem
soubesse ver, a profundidade do mistério. Falta fineza ao governador para perceber
diante de quem ele está. Como tantos, ele se julga importante por causa do cargo que
ocupa.

Por desgraça, ele é apenas uma vítima de um jogo de paixões, influências e
medos, que não sabe enfrentar com liberdade. Entre os mármores do seu palácio é um
pobre escravo. Fala, mas é um eco do que outros dizem.

Disseram-lhe que este Galileu tinha pretensões a rei. Para Pilatos, isto era um caso
político, que poderia deixá-lo mal com Roma.

Mais por curiosidade, do que por desejo de saber a verdade, ele se vira para o pobre
infeliz: És tu o rei dos judeus? Jesus não lhe responde diretamente. Procura situar
o diálogo num nível que ultrapassa as palavras em moda.

Quando uma pessoa se move no terreno da moda, amesquinha sua liberdade e não consegue abrir-se à verdade: Tu o dizes por ti mesmo ou outros o disseram de mim? Isto é: És capaz de uma palavra honesta e pessoal quando falas com Deus? Queres, de verdade, escutar a resposta? O pobre prisioneiro quer libertar o governador da prisão secreta em que ele mesmo se encerra. Convida-o a que tenha uma opinião enquanto pessoa.

Num mundo como o nosso, onde a publicidade cria a moda, onde as ideologias de classe social e as “certezas” da ciência nos impedem de ter um juízo livre e pessoal sobre os fatos, é interessante perguntar-me até que ponto sou influenciável. Até que ponto repito o que andam dizendo.

Tenho coragem de pensar com independência? Sou capaz de aceitar Jesus Cristo e de escutar sua chamada ainda que a imensa maioria das pessoas tenha opinião diferente?

Muitas pessoas vivem amedrontadas diante da idéia de perder seu trabalho. Precisam
dizer o que agrada a quem está no poder. Como Pilatos, tememos os chefes dos judeus
e o César de Roma. Com quanta freqüência se perscrutam os levantamentos de opinião
pública para não ficar por fora, para sermos gente de nosso tempo. Ser modernos,
estar atualizados se converte na norma de moralidade e de vida.

A maioria! Podem encarcerar-nos numa massa anônima e irresponsável. Mas esta massa,
para que seja humana, deve estar formada por pessoas, não determinada por números.

A pessoa humana, nesta época, busca apaixonadamente a liberdade. Mas corre o risco
de estar “programado” por outros. A moda e a propaganda vão nos nivelando por dentro e apertando os limites de nossa prisão.

É necessário chegar-se a Jesus com o coração aberto, para ser capazes de escutar de
sua boca a verdade do homem e a verdade de Deus. Há que se ter uma sadia liberdade
frente ao meio ambiente, o qual pode nos impedir de ter uma decisão pessoal.

Pilatos era daquele tipo de pessoas, que repetem as opiniões alheias. Era incapaz de indagar pessoalmente até encontrar a verdade. Por isso Jesus chamou-o à responsabilidade com a pergunta: Dizes isto por ti mesmo ou outros te disseram de mim? O mesmo nos pergunta Jesus, convidando-nos à liberdade interior.

Fonte: www.vilakostkaitaici.org.br