Infância espiritual

Jesus se enfada com os discípulos quando estes tentam afastar as crianças que vão ao seu encontro. Ele sente-se à vontade com as elas. Devemos achegar-nos a Belém com a mesma disposição das crianças: com simplicidade, sem preconceitos, com a alma aberta. E mais, é necessário fazer-se como crianças para entrar no Reino dos Céus: “se não nos forem como crianças não entrarão no Reino dos Céus” (Mt 18, 3), dirá o Senhor em outra ocasião. Jesus não recomenda a grandeza, mas a inocência e a simplicidade.

A criança carece de todo sentimento de suficiência, necessita constantemente de seus pais, e os conhece. Assim deve ser o cristão diante de seu Deus Pai: um ser que é todo “necessidade”. A criança vive plenamente o presente e nada mais; o adulto vive com excessiva inquietude pelo “amanhã”, deixando vazio o “hoje”, que é o que deve viver com intensidade por amor a Jesus.

Ao longo do Evangelho encontramos a escolha do pequeno, para confundir o que é grande. Dá voz aos que menos sabem, e cala os que parecem sábios. Nós, ao conhecermos Jesus na gruta de Belém como o Messias Prometido, temos de fazê-lo com a mesma simplicidade e a audácia dos pequenos. Fazer-se interiormente como crianças, sendo maiores, pode ser uma tarefa árdua: requer disposição e fortaleza na vontade, e um grande abandono em Deus. Este abandono, que traz consigo uma imensa paz, obtemos somente quando nos submetemos ao Senhor. “Ser pequeno exige abandonar-se como as crianças se deixam abandonar, crer como crêem as crianças, pedir como pedem as crianças” (J. Escrivã de Balaguer, – “Cristo que passa”).

Esta vida de infância espiritual é possível se tivermos enraizada nossa consciência de filhos de Deus. O mistério da filiação divina, fundamento de nossa vida espiritual, é uma das conseqüências da Redenção. Por sermos filhos de Deus, somos herdeiros da glória. Procuremos ser dignos de tal herança e ter com Ele um fervor filial, terno e sincero.

As crianças não são demasiado sensíveis ao ridículo, nem têm esses temores e falsos respeitos humanos, que engendram a soberba e a preocupação pelo “que dirão”. Elas caem freqüentemente, mas se levantam com prontidão e rapidez, e escutam com facilidade as experiências negativas. Simplicidade e docilidade é o que nos
pede o Senhor: trato amável com os demais, e a sempre estarmos dispostos a sermos ensinados ante os mistérios de Deus. Aprenderemos a ser crianças quando ontemplarmos o Menino Jesus nos braços de Sua Mãe!