Ganhar para perder

Há alguns dias, escrevi um texto com o título “Perder para Ganhar”, e um amigo sugeriu que eu escrevesse sobre “Ganhar para Perder”. Quando li o seu e-mail, senti-me incapacitada e pensei: “Acho que ele escreveria melhor do que eu sobre esse tema”. Mas como palavra de padre, para mim, é uma ordem, vamos lá! Fui ruminando no meu interior essa frase, para que o Espírito Santo pudesse me inspirar. Comecei refletindo sobre nossa dificuldade em aceitar as perdas porque temos o olhar fixo somente no que podemos ganhar. As nossas vitórias conquistadas não são sinônimos de que ganharemos sempre. É uma ilusão pensar que na vida devemos viver somente em função de ganhar e que não perderemos nada do que já conquistamos! Agindo dessa maneira, não aprenderemos a arte de viver bem as fases da nossa vida. Vejamos as estações do ano, acolhem com docilidade as mudanças do verão, outono, inverno até chegar a tão esperada primavera. Cecília Meirelles diz: “Aprendi com a primavera a me deixar cortar e voltar inteira”. E como aprendemos com a natureza, durante as estações do ano, aqui nos Estados Unidos!

Essa frase levou-me a meditar sobre três aspectos intrínsecos da nossa vida:

1. Ganhar a vida para perdê-la para a vida eterna.

2. Ganhar bens do mundo e perdê-los por um Bem maior.

3. Ganhar a vida para perdê-la pelo outro.

O primeiro aspecto nos fala a respeito do essencial de nossa vida, ao nascermos recebemos a maior dádiva de Deus: a vida. Existe uma mentalidade no mundo, hoje mais notável, que nos seduz a pensarmos que viveremos para sempre aqui na terra. Gastamos as nossas energias, estudando e trabalhando para termos um bom futuro e assim sermos felizes. Não quero dizer que isso não é bom, mas o problema é que enganamos a nós mesmos, pensando que a nossa felicidade está no ter, na posse das coisas e até das pessoas. Perdemos de vista a mais bela definição da vida, que é um círculo: viemos de Deus e voltaremos para Ele. A força da vida, sentida no âmago de nós mesmos como a nossa primeira realidade remete a Deus, fonte de vida. Infelizmente, muitos, jovens, adultos e anciãos, vivem como alguém que não descobriu o sentido da vida. Por quê? Lutam, disputam e até se digladiam por ideais humanos e menosprezam o mais importante: ganhar o Céu!

O segundo ponto nos leva a refletir sobre a mudança que ocorre em nossas vidas quando encontramos o Senhor de todas as coisas, o Rei Senhor Jesus Cristo e rendemo-nos a Ele. Por Ele somos capazes de perder tudo que ganhamos de bens neste mundo, como nos relata o Evangelho em Mateus 13,45: “O reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que procura perolas preciosas. Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui, e a compra”. Eu trabalhei em um banco inglês por 13 anos, eu já participava da Igreja, mas o mundo me seduzia, e queria ter e ter. Na época o meu primeiro filho tinha 2 anos, e perguntei para Deus: “O que queres que eu faça?” Ele pediu para eu deixar o meu emprego. Foi muito difícil tomar essa decisão, mas depois de 21 anos, olhando para trás, eu posso tocar nos frutos que colhi a partir da minha demissão do banco; e a minha consagração na Canção Nova é um deles. Naquela época, [no banco] ganhei um ótimo trabalho, cresci na empresa, cheguei a ser secretária executiva do primeiro homem da filial São Paulo. Mas, encontrei a felicidade no “Ganhar para Perder”. Quando trocamos a “corrida do ter para a corrida do ser”, encontramos a chave da felicidade. Não é fácil a troca de um bem por um Bem Maior, mas é possível.

O terceiro aspecto nos fala de ganhar a vida para perdê-la pelo outro. Somente o amor que vai além do sensível nos faz viver para os outros. Fico edificada quando uma mulher deixa a sua realização pessoal, os seus desejos, o seu emprego, os seus sonhos… por causa do amor aos seus filhos. A mãe verdadeira é aquela que dá a sua vida pelos seus filhos. Que é capaz de ficar à noite inteira sem dormir, ao lado de um filho doente, de ter gestos de amor para com o filho ou o marido viciado nas drogas ou no álcool. A mulher de verdade é aquela que vive para o bem-estar da sua família. Louvo a Deus por ter conhecido mulheres que foram capazes de renunciar-se a si mesmas por causa da construção de um lar sólido! Elas deixaram marcas profundas em minha vida. Pena que o mundo moderno escasseou essas mulheres! Quantos pais suam a camisa, trabalham e gastam todas as suas energias para o bem-estar da sua família, e depois de um dia, extenuados, ainda brincam e conversam com seus filhos. Quantos jovens deixam suas famílias e seus projetos pessoais para entregar a sua vida para Deus, para resgatar almas! Isso denota que há amor em nós, pois aprendemos a amar com o Mestre. Jesus deu a Sua vida por cada um de nós porque o Seu mandamento é o amor. Um amor gratuito e incondicional. A razão de seu ser e de seu viver são os outros: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). “Deus é amor”, é doação. Deus se dá a nós a todo tempo, por amor, e ao se dar, nos dá a vida, minuto a minuto.

Vamos gastar as nossas energias para ganharmos o Céu, o nosso lugar definitivo.

Juntos no Coração de Jesus,