Com a estratégia do “olho por olho”, também neste caso do ataque terrorista, condenável ao máximo, pode-se correr o risco de se criar uma cultura da vingança com ar de justiça. É um dos pontos da reflexão do padre Arturo Sosa, provincial dos Jesuítas da Venezuela.
“A defesa da liberdade humana – sublinha entre outras reflexões padre Sosa – é possível só se intimamente ligada à misericórdia e o perdão, expressões sublimes do amor e único fundamento das decisões humanas que tornam verdadeiramente livres. Os ataques terroristas de Washington e Nova York de 11 de setembro p.p., foram ataques dirigidos contra a vida; visam não só golpear, mas matar indiscriminadamente para criar o medo de viver em liberdade.
O que fizemos para que a injustiça, a guerra e o terrorismo se tornassem moeda corrente em nossa civilização, cuja glória é a liberdade como autêntica forma e substância da vida humana? Cada um deve se questionar. Em primeiro lugar, os norte-americanos, que podem tirar vantagens do terrível evento para aprender algo sobre si mesmos e o mundo em que vivem.
Devem fazê-la também os inimigos dos EUA, aqueles que improvisaram festas, sem conhecer o verdadeiro peso das causas e dos efeitos da tragédia. E cada um de nós, como pessoas e como povo, porque fazemos parte neste momento da história humana. Os autores diretos e aqueles que os protegeram deverão responder pelos seus crimes.
Uma resposta inspirada ao perdão, a dimensão mais divina do amor misericordioso – acrescenta o jesuíta -, pode ser o melhor modo não só para defender a liberdade, mas também de abrir um caminho novo de libertação na história humana. A justiça e a liberdade não se conseguem com a estratégia do olho por olho”.
Foi demonstrado outras vezes na história social e nos acontecimentos pessoais, mas o mundo não aprende a lição e volta-se a confiar no poder das armas diante dos eventos coletivos e aos conflitos interpessoais, escreve ainda o jesuíta.
“Produzimos uma cultura da vingança camuflada de justiça. A Justiça do Deus da Vida, que muitos citam diante dos fatos de 11 de setembro, começa com o abraço do perdão para abrir o caminho do amor que reconstrói as pessoas e as civilizações.
Será possível, nesta ocasião, romper o círculo vicioso do dente por dente para nos abrir à dinâmica da liberdade conquistada através da justiça que nasce do perdão, da misericórdia e do Amor ? A porta deste caminho encontra-se aberta, o convite a atravessá-la é dirigido a cada um de nós, a todos os povos e a todas as culturas do mundo.
Demos o primeiro passo rumo a uma mudança profunda neste momento crucial das nossas culturas e do nosso modo de reagir. Olho por olho deixa todos cegos, dizia Gandhi”.
Fonte: NS