Neste ano de 2002, a Campanha da Fraternidade tem como tema: ‘Fraternidade e os povos indígenas‘ e como lema: ‘Por uma terra sem males‘.
Há dois anos o Brasil celebrou os 500 anos de sua evangelização, e o Papa João Paulo II, em uma de suas mensagens para a quaresma, afirmava ‘que a presença do Evangelho no Continente (americano) não conseguiu ainda oferecer uma eqüitativa distribuição dos bens da terra’. E prosseguiu dizendo que ‘isto é particularmente doloroso quando pensamos nos mais pobres dos pobres: os povos indígenas e com eles muitos camponeses feridos na sua dignidade, por serem postos à margem do exercício inclusive dos direitos mais elementares, que também fazem parte dos bens a todos destinados. A situação destes nossos irmãos clama pela justiça do Senhor’. (Mensagem para a Quaresma 1992).
Ao refletir sobre a realidade dos povos indígenas, a Igreja convida a todos, governo e sociedade, à solidariedade para com os nossos irmãos e irmãs indígenas, e ao resgate da dívida social que temos para com os primeiros habitantes de nosso país. Estas conquistas seriam alcançadas combatendo toda forma de discriminação e marginalização contra eles, defendendo o seu direito à terra e atendendo às suas legítimas necessidades sociais e culturais.
O tema e o lema da Campanha da Fraternidade lançam novamente o desafio a todos nós brasileiros: construir uma sociedade onde todos e cada um, criados à imagem de Deus e com destino eterno, sejam respeitados nos seus direitos tendo condições de vida conforme sua dignidade de filhos de Deus e irmãos em Jesus Cristo.
A Campanha da Fraternidade 2002 ao tratar dos povos indígenas recorda-nos que nós podemos também aprender das culturas indígenas como, por exemplo, o sentido comunitário da vida, a valorização da terra como fonte de recursos para a sobrevivência humana, o estilo de vida sóbria e solidária. Isso implica e clama pela libertação de outros males, de ordem cultural, econômica, social e política, que derivam do pecado.
Esta Campanha da Fraternidade tem como objetivo motivar a conversão das pessoas, da sociedade e da própria Igreja para a solidariedade, a justiça, o respeito e a partilha, dando especial destaque, desta vez, aos povos indígenas. O Concílio Vaticano II nos alerta: Não podemos invocar a Deus, Pai de todos os homens, se nos recusamos a comportar-nos como irmãos para com alguns homens criados à imagem de Deus (NA N.º 5 a).
É um convite a todos os cristãos para engajarem-se na esperançosa luta pela conquista e garantia dos direitos dos povos indígenas. É também uma oportunidade para compartilharmos valores, sabedoria, conhecimentos e formas de ver a realidade. Ao refletirmos sobre a causa indígena, vamos assumir um compromisso concreto com suas lutas, promovendo o cumprimento do artigo 231 da Constituição Federal, que reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam.
Padre José Adalberto Vanzella
Secretário executivo da Campanha da Fraternidade