Eis que faço obra nova

É constante a insatisfação com a vida. Muitas vezes nem percebemos, mas já se tornou um hábito murmurar, reclamar e, principalmente externar para os outros essa espécie de indignação. Expressões frias, do tipo “eu vou indo” ou “está tudo na mesma”, quando alguém tenta se aprofundar sobre como nós estamos, acabam sendo costumeiras. Mas será que nos comportando assim estamos assumindo a nossa identidade de cristãos? Será que estamos testemunhando a beleza da dignidade de filhos de Deus, que nos foi confiada?

Deus, ao criar o homem, teve um êxtase de amor, se maravilhou com a sua criação. Tanto que concedeu a ele o domínio sobre toda a natureza. O homem era íntimo de Deus: conversavam todas as tardes e se conheciam bem. Com certeza o homem e a mulher admiravam muitíssimo o Senhor e desejavam ser como Ele, pois o Mal, quando os seduziu, disse a eles que se comessem do fruto que o Senhor os havia proibido de comer, seus olhos se abririam e eles seriam como Deus. O desejo puro do coração humano não era ruim, muito pelo contrário, era ser como Deus: ser perfeito, bom, pleno… Mas a serpente indicou o caminho errado, trilhado pela murmuração interior e pelo desejo de ser mais do que Deus — soberba, o que eclodiu na desobediência. Por causa do pecado foi rompida a intimidade profunda que tinham com o Senhor. E o homem se afastou cada vez mais de Deus.

Ao enviar Jesus, o Pai teve um objetivo concreto: mostrar ao homem a Sua face, para que ele, enfim, pudesse ser semelhante a Deus, visto ser esse o primeiro e mais importante desejo do coração humano. Jesus, o homem perfeito, o verdadeiro Deus, despojou-se e, por amor, aceitou viver como homem, para dar-nos o exemplo e para salvar-nos. É importantíssimo sabermos que o mistério da encarnação recuperou para nós a dignidade de filhos de Deus, que havia sido corrompida pelo pecado. Pois Jesus, sendo Deus, ao assumir um corpo de homem santificou a natureza humana e, ao sofrer a morte de cruz a salvou de todos os pecados.

Jesus realizou isso para nós e voltou para junto de Deus, com o objetivo de nos enviar o Espírito Santo, o nosso Advogado, Aquele que intercede por nós, que vem em socorro da nossa fraqueza, para que conseguíssemos levar à frente o nosso objetivo de ser como Deus: santos. O Espírito Santo é quem renova: “eis que faço novas todas as coisas”. Nada fica fora da renovação quando nos abrimos à ação do Espírito. Por isso, precisamos ter a visão de que, a cada dia, tudo é novo. Tudo é diferente, porque diariamente Deus nos renova através de Seu Espírito Santo, que habita em nós desde o nosso batismo.

O trabalho do Espírito Santo em nós é o de tornar-nos semelhantes ao Homem Perfeito, Jesus. Só que o Espírito Santo é discreto no seu trabalho e não nos viola. Ele simplesmente vai, aos pouquinhos, mudando todas as coisas, se nós Lhe dermos essa abertura. Por exemplo: antes pensávamos algumas coisas que já não pensamos mais; tínhamos comportamentos e posturas que hoje já não mais existem; nos voltamos de forma diferente para as pessoas, especialmente as que nos são mais difíceis de lidar, como antes não seríamos capazes, superamos problemas que aos nossos olhos pareciam impossíveis… Muitas vezes, dizemos que mudamos, porque amadurecemos. Mas, não: foi o Espírito Santo quem fez isso em nós! Ele nos leva a saber falar, saber calar, como reagir… Ele tudo faz em nós e nem sempre percebemos!

O que Ele está fazendo hoje? “Eis que eu faço Obra Nova. Eis que já surge, não a vedes?!” Ter a consciência de que essa Obra em nós está acontecendo faz uma grande diferença! Precisamos enxergá-la, pois Deus mesmo nos questiona: “não a vedes?” Se vemos, nos alegramos, porque a sua Obra em nosso interior é sempre boa. Se nos alegramos, entendemos que a nossa vida não é uma rotina, uma mesmice… Ela é espiritualmente ativa, é repleta de novidades! Notar isso é um ato transformador: nos faz passar de murmuradores e insatisfeitos a filhos felizes, porque sabemos, então, que na alegria ou na tristeza, o Pai está cuidando de nós, sempre fazendo novas todas as coisas, pelo Espírito Santo. Diariamente o Espírito nos assemelha mais e mais a Deus e, isso é uma grande graça! É maravilhoso!