O Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia (nº 111) reconhece: A Igreja, segundo a sua tradição, venera os santos. O Rio de Janeiro, ao celebrar festivamente, no dia 20 de janeiro, a figura do seu Padroeiro, São Sebastião, se associa a esse milenar costume cristão. Trata-se de uma manifestação religiosa de tal porte, que ultrapassa os limites da Fé católica e se inclui entre as manifestações populares. Isso explica o clima de alegria a que nem sempre os não-crentes permanecem alheios.
A doutrina sobre o culto aos santos exclui, obviamente, qualquer ato de adoração. Em sua obra Contra Faustum (XX, 21), assim se expressa Santo Agostinho: Não aos mártires, mas ao Deus dos mártires é que dedicamos altares, ainda que os façamos em memória dos mártires. O Concílio Vaticano II (Idem, 104) diz: No aniversário dos santos (…) a Igreja proclama o mistério pascal realizado nos santos que sofreram com Cristo e com Ele são glorificados. Além de exaltar a santidade de Deus, presente na vida de seus servos, essas solenidades nos ajudam no plano espiritual como diz o Missal Romano no Prefácio I dos Santos: Nos vossos Santos e Santas ofereceis um exemplo para nossa vida, a comunhão que nos une, a intercessão que nos ajuda. Assistidos por tão grandes testemunhos, possamos correr (…) no certame que nos é proposto e receber, com eles, a coroa imperecível. A devoção a esses servos de Deus, de modo muito particular em suas festas onomásticas, que se identificam com a data da morte, no caso dos mártires, oferece excelente oportunidade para o crescimento na vida cristã.
Assim, a festa de São Sebastião é um convite à correção enérgica de algumas mazelas que tanto afligem nossa sociedade. Em vez de, comodamente, apelar para o Governo ou esperar que outros ajam na supressão desses desvios, devemos começar por nós mesmos, na escolha dos nossos dirigentes políticos, responsáveis pelo bem-estar público.
Em uma democracia, esse dever é dividido entre os eleitores e os candidatos eleitos e o foram, para servir a comunidade e não, servir-se da coisa pública em proveito pessoal.
O Catecismo da Igreja Católica trata, com grande lucidez da relação entre a atividade política e a religiosa. Na festa do nosso Padroeiro São Sebastião é conveniente refletir sobre o assunto e daí passar a conclusões concretas. Como exemplo, cito o mesmo Catecismo da Igreja Católica (nº 2.242): O cidadão é obrigado, em consciência, a não seguir as prescrições das autoridades civis, quando contrárias às exigências de ordem moral, aos direitos fundamentais e aos mandamentos do Evangelho. O Concílio Vaticano II, na Constituição Gaudium et Spes (nº 42), nos ensina: A missão própria, confiada por Cristo à sua Igreja, não é de ordem política, econômica ou social: o fim que lhe propôs é, com efeito, de ordem religiosa. Entretanto, faz parte de sua missão religiosa emitir um juízo moral quando as circunstâncias o exijam ou o bem público o solicite.
A festa de São Sebastião nos oferece a oportunidade para refletir sobre essa matéria. Ele é nosso Patrono ou, pelo menos, o da grande maioria dos cariocas. Deu-nos exemplo admirável e eloqüente testemunho público de Fé. Ele tinha uma grande paixão: desejava que todos conhecessem e amassem a Jesus, inclusive em meio às famílias patrícias de Roma. Anunciava a Boa Nova nas prisões, cuidando dos encarcerados e convertendo o carcereiro. Pregou a Palavra de Jesus até no palácio do Imperador.
Ele é um exemplo para todos, de manifestação de nossa Fé; um incentivo, particularmente, aos católicos que militam na vida pública, quando são chamados a opor-se aos que ferem ou ignoram a lei natural que se fundamenta na Lei de Deus.
Por isso, é de grande importância o testemunho individual e coletivo dos políticos, particularmente dos católicos. Em nossa Arquidiocese, há um trabalho pastoral com os Políticos Católicos. Há o acompanhamento da atuação do Poder Público como os de Vereadores, Deputados, Governantes em pronunciamentos e leis a favor ou contra a Doutrina da Igreja. Trata-se de um serviço muito útil aos fiéis e a todos os cidadãos, pois alerta as consciências sobre a conformidade da ação ou omissão de nossos representantes frente aos ensinamentos cristãos.
O objetivo é o tempo presente mas, também a preparação de futuras eleições, pois, alertando para os exemplos de hoje, os males serão corrigidos nos dias vindouros. Assim, é possível evitar reconduzir os indesejáveis, os ineptos aos postos que exercem hoje. Com efeito, a Igreja não opta por um partido, nem indica nomes, mas lembra o dever de votar e de fazê-lo em favor daqueles que dão testemunho da luta em prol dos que respeitam o plano de Deus e promovem o bem comum. E, sem dúvida, que tenham condições de exercer frutuosamente a elevada missão de políticos.
Fonte: Arquidiocese do Rio de Janeiro