Cristo, Rei do universo

Homilia do secretário-geral da CNBB, na Missa em Aparecida, neste domingo, dia 26

Saudações.
Na Solenidade Litúrgica de Cristo Rei do universo, a Igreja se alegra e suplica: venha a nós o vosso reino, Senhor! Reino eterno e universal, reino de paz e de justiça; reino de amor e de verdade! Venha o vosso reino, Senhor, e restaurai todas as coisas, libertai-nos das escravidões e violências, transformai nosso velho mundo em mundo novo.

Hoje desejo saudar de maneira especial todos os cristãos leigos e leigas, no dia dedicado a eles. Eles são a grande maioria da Igreja, Povo de Deus, que receberam o dom inestimável do Batismo e da consagração a Deus, no dom do Espírito Santo, para viverem conforme o dom da fé, da esperança e da caridade e para serem “cidadãos do reino de Cristo”.

A Igreja reconhece a importância da ação dos leigos na comunidade eclesial, nos diversos ministérios e serviços próprios deles. Mas reconhece e destaca especialmente a importância de sua missão de “servidores do reino de Cristo”, sendo cidadãos deste mundo. Atuando em todos os âmbitos da vida e das atividades da sociedade, os leigos realizam sua vocação cristã, participando da construção deste mundo, atentos para que ele se edifique de acordo com a lei de Deus e os valores do reino de Cristo, que é reino de perdão e de graça, reino de vida e santidade.

Neste domingo de Cristo Rei, a Igreja Católica inicia em todo o Brasil mais uma Campanha para a Evangelização. Lançada pela CNBB em 1998, a Campanha tem a finalidade de despertar e manter sempre viva a consciência de todos os batizados sobre a comum responsabilidade pela missão do anunciar o Evangelho. A Campanha vai até o 3° Domingo do Advento. Naquele fim de semana, de 17 de dezembro, ela se concretiza num gesto de solidariedade eclesial e missionária, a coleta para a evangelização, em todas as comunidades, capelas e igrejas católicas do Brasil.

O fruto dessa coleta tem três destinações: 45% ficam nas próprias dioceses, 20% vão para os Regionais da CNBB e 35% vão para a CNBB nacional. Os fundos assim constituídos destinam-se à sustentação do trabalho evangelizador da Igreja em nosso País, à preparação de pessoas para a missão (seminaristas, padres, leigos, catequistas e outros agentes de pastoral), à sua digna sustentação, ao financiamento de ações voltadas para a evangelização (cursos, encontros de formação e capacitação etc) e à cobertura das numerosas despesas necessárias à vida e à missão da Igreja.

Com o dízimo ofertado regularmente nas comunidades católicas, são sustentadas as iniciativas das comunidades locais (Comunidades de Base, Paróquias, Dioceses). Mas o dízimo não é a única forma de contribuir para a sustentação da Igreja: Diversas campanhas e coletas são promovidas ao longo do ano para a sustentação dos diversos níveis da vida eclesial, como as dioceses, a Conferência Episcopal e a ação missionária e caritativa da Igreja no mundo inteiro. As coletas são uma forma de comunhão de bens, que já vem dos tempos apostólicos, conforme lemos nos Atos dos Apóstolos (cf At 3,42-45; 4, 32-37) e na Segunda Carta aos Coríntios (cf 2Cor 8-9): “Os primeiros cristãos tinham tudo em comum e não havia necessitados entre eles”.

A grande maioria das dioceses e organizações da Igreja católica no Brasil não dispõe de patrimônios rentáveis para a sua sustentação, dependendo inteiramente das doações dos fiéis, ou de ajudas externas. De fato, ainda hoje muitas dioceses do Brasil, e a própria CNBB, dependem muito das ajudas dos católicos alemães, italianos, austríacos, espanhóis, americanos e outros. Essas ajudas, porém, estão diminuindo, por vários motivos, especialmente porque existem no mundo outras áreas mais necessitadas que o Brasil; nosso País já é considerado economicamente forte; infelizmente, aqui a riqueza ainda é pouco partilhada e a generosidade e a cultura da solidariedade precisam ser mais estimuladas na sociedade e também no interior da comunidade eclesial.

Cabe perguntar se já não é tempo de dependermos menos de recursos externos para a sustentação do trabalho e da vida da nossa Igreja. A partilha e a “comunhão de bens” entre todos os católicos brasileiros poderia suprir as necessidades da Igreja no Brasil, dando socorro também às comunidades das regiões e áreas mais pobres. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil crê que isso é plenamente possível; por isso lança mais uma vez a Campanha para a Evangelização, apelando para a generosidade do povo católico e para a responsabilidade que todos os membros da Igreja têm na promoção da evangelização e na missão pastoral da Igreja.

Em 2005, a Campanha para a Evangelização recolheu, ao todo, aproximadamente 6 milhões de Reais; ainda é muito pouco, se considerarmos que o Brasil tem cerca de 130 milhões de católicos. Se, para cada católico brasileiro, fosse ofertado apenas um Real na coleta do dia 17 de dezembro,, o sustento da Igreja no Brasil estaria garantido para o próximo ano, e ainda poderíamos ajudar outros países mais pobres.

A Campanha para a Evangelização deste ano recorda que somos todos “discípulos e missionários de Jesus Cristo” e nos faz pensar no grande evento eclesial do próximo ano, aqui mesmo em Aparecida: a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe reunirá aqui junto do Santuário de Nossa Senhora Aparecida representantes dos bispos de todos os países da América, para tratarem sobre a missão evangelizadora da Igreja, no meio de nossos povos, em nossos dias.

Ser cristão é ser discípulo e missionário de Jesus Cristo; ser membros da Igreja é uma graça e nos deve encher de gratidão a Deus. A alegria de crer nos deve levar a apoiar generosamente o trabalho evangelizador e pastoral da Igreja. A Boa Nova do amor misericordioso de Deus, que veio ao mundo através de Jesus Cristo, “rosto humano de Deus e rosto divino do homem”, precisa ser anunciada ao mundo, a fim de que todas as pessoas possam aproximar-se de Deus através de Jesus Cristo, “caminho, verdade e vida”, e encontrar nele vida plena.

Venha a nós o vosso reino, Senhor! Dai-nos a graça de sermos cidadãos agradecidos e participativos do vosso Reino, cumprindo bem nossa missão. Ajudai-nos, Jesus Cristo, Rei e Senhor da Igreja, Pastor de nossas almas, nosso Salvador e companheiro de caminhada! Fazei que, obedecendo aos vossos mandamentos, possamos um dia viver eternamente convosco no reino dos céus. Amém!

Fonte: CNBB