Corrupção

Dolorosas ocorrências, reveladoras de corrupção, têm chegado, com freqüência, ao conhecimento público. Na verdadeira acepção da palavra, corrupção significa a paulatina desintegração do ser, mediante ação de fatores internos e externos, ocasionando a depravação de costumes, o que pode levar à destruição do indivíduo e afetar a vida nacional. O homem traz em si tendências variadas, positivas e negativas. A simples lei, ao ser elaborada, não traz consigo a força necessária para superação de uma inclinação ou de um procedimento que leva ao mal. A liberdade humana, quando erroneamente utilizada, escraviza e leva ao desregramento. Entretanto, não nos faltam os meios para superar o que nos conduz à decomposição moral. A doutrina cristã nos ensina que o pecado deformou a criatura humana. Conseqüentemente, caso não sejam tomadas as medidas necessárias, anunciadas pela obra redentora de Cristo, caminhamos inexoravelmente para um desastre. Somente pelo fortalecimento espiritual e moral pode-se vencer a sedução que certos instintos trazem consigo e que terminam por induzir à corrupção.

O caminho para o mal se inicia pelo abandono de princípios absolutos, fundamentados em valores autênticos. Todo procedimento que encaminhe para esses desvios começa aos poucos, substituindo o bem comum por interesses egoístas e pessoais; a criatura se afasta do Criador e de suas diretrizes.

A Sagrada Escritura, em relação a esse assunto, tem palavras de veemente repúdio, como por exemplo na Epístola de S. Tiago, capítulos 4 e 5.

O Pontifício Conselho para a Justiça e a Paz, no documento “A serviço da comunidade humana: uma consideração ética da dívida internacional” (nº 16) ensina: “As estruturas instauradas para o bem das pessoas são, por si mesmas, incapazes de alcançá-lo e garanti-lo. Prova disto é a corrupção que, em certos países, atinge os dirigentes e a burocracia do Estado destruindo toda a vida social honesta. A retidão de costumes é condição para a saúde da sociedade. É necessário, por conseguinte, atuar, tanto para a conversão dos corações como para a melhoria das estruturas”.

Citei um problema e acenei para as causas que o geram. Há inúmeros outros. Trago uma reflexão, ou melhor, uma diretriz que se aplica a muitos fatores, ingredientes da crise que afeta a humanidade. João Paulo II, tratando da vocação sacerdotal e religiosa, nos proporciona ricas meditações sobre a situação generalizada no mundo. Faz-se mister reagir em favor do bem comum e pessoal. Com efeito, ele, a 26 de fevereiro de 2004, enviou uma Mensagem ao Superior Geral dos Padres Rogacionistas do Coração de Jesus, reunidos no X Capítulo Geral dessa Congregação religiosa. Os participantes conservavam bem viva na memória as cerimônias ocorridas por ocasião da canonização do Fundador, Santo Anibal Maria Di Francia.

Diante da crítica situação do mundo, disse o Santo Padre: “Hoje (…) a ‘aldeia global’ em que se transformou o planeta, oprimido por uma rede de comunicações e de interesses políticos, econômicos e sociais, não raro em conflito entre si, revela uma necessidade extremamente urgente de trabalhadores da reconciliação, testemunhas da Verdade que salva e construtores da única paz verdadeira e duradoura, fundamentada sobre a justiça e o perdão” (Mensagem,3). E o mundo moderno não quis acreditar no seguinte: “o pão da justiça e da paz só pode advir do Alto”. Para que isso seja obtido, faz-se mister “transmitir ao mundo a Palavra de vida, chamando os corações à conversão, oferecendo a dádiva da graça para construir pontes de solidariedade e condições de justiça, em que possa expressar-se a dignidade integral de toda a existência humana” (ibidem). E chega ao seguinte: “Hoje em dia, após a falência das ideologias totalitárias da época moderna, a fé manifesta-se cada vez mais claramente como âncora de salvação, mais necessária e urgente do que nunca” (ibidem).

Uma conclusão proposta pelo Santo Padre é a importância das vocações religiosas para levar ao mundo, distanciado de Deus, a Mensagem do Evangelho. Constata-se o crescimento de uma oposição à integralidade dos ensinamentos do Senhor. Surge uma religiosidade com traços de cristianismo mas, que formam algo fundamentalmente diverso. Cresce a exaltação dos instintos, colocando-os nos pedestais ocupados pelas virtudes. Vê-se freqüentemente a divulgação bem articulada de falhas de uma minoria na Igreja, sem a contrapartida do imenso trabalho que ela realiza em favor da Humanidade. Lembro, ainda, a importância do ensino religioso confessional nas escolas públicas, conforme a crença de cada um. Ele dá sua válida contribuição aos jovens na formação do caráter. Cada geração que surge sem Deus e sem religião contribui para reforçar o que vemos e sofremos em nossa Cidade. O enfraquecimento da prática religiosa provoca, em conseqüência, o aumento da droga e da violência.

Certamente, é viável mudar o mundo em que vivemos. Não ignoro as dificuldades. Embora permaneçam tantos aspectos negativos, devemos reconhecer que há um período da história antes de Cristo e outro após a vinda do Redentor. Houve uma substancial mudança. As mazelas que subsistem são uma conseqüência de ainda estar incompleta a evangelização. A responsabilidade de fazê-la não cabe apenas aos pastores, mas a todo o Povo de Deus. Diante da corrupção administrativa e de tantos outros fatores, faz-se mister recordar a cada um o dever de uma conversão pessoal, a necessidade de um exame de consciência sobre o comportamento e a opção diante da sociedade em que estamos inseridos. Homens novos, que sejam veículos da propagação de uma outra mentalidade. Manter viva e ativa a esperança. Assumir nossa parcela de responsabilidade e não simplesmente transferi-la aos outros. E isso é possível, com a graça de Deus!