Como chegar a divina vocação?

A percepção, o conhecimento e a consciência da vocação são como elementos inseparáveis da própria vocação. Porém não devemos confundi-los e tomá-los como se fossem a própria vocação, à qual, no final das contas, não são essenciais. Poder-se-ia dizer que a percepção e a consciência da vocação sejam, pelo menos em princípio, como que os acidentes inseparáveis da substância e que manifestam tal substância, mas sempre acidentes que não se deve confundir ou identificar com a substância.

Do mesmo modo, não devemos confundir ou identificar com a vocação outros elementos, os quais nada mais são que pressupostos e preparação à vocação ou efeitos e conseqüências da mesma na criatura. Porém eles não são a vocação!

A divina vocação essencialmente não é este ou aquele sentido de inclinação para as coisas de Deus e da Igreja; não é esta ou aquela idoneidade especial ao serviço de Deus e da Igreja; não é este ou aquele grau de retidão de intenção no culto de Deus e ministérios da Igreja! Como pode ser fatal para as pessoas confundir e trocar as aparências dos acidentes com a realidade da substância!… A Divina Vocação é, portanto, um ato distinto, explícito, particular, da vontade divina que chama as pessoas. Chamado de Deus, não chamado do homem!…

A essência da vocação encontra-se no seu lado ativo, isto é, do lado que se refere a Deus, pois ela é um ato distinto, explícito, particular da vontade divina que chama; ela é essencialmente e exclusivamente o chamado de Deus!… A divina vocação não é um convite, não é um conselho, não é uma ordem, mas, em si mesma, é simplesmente um chamado com o qual o Senhor atrai a minha atenção e deseja orientar-me para Ele, a fim de escutá-lo, de tal modo que, depois de realizada, a vocação poderá ser destinada por Deus para comunicar um convite, dar um conselho ou uma ordem, dialogar com as pessoas, oferecer um dom, confiar uma missão…

De um modo geral tudo é divina vocação no mundo. Vocação à vida, vocação à fé, vocação à santidade. Cada ser e cada estado digno do ser, corresponde a uma divina vocação… No mundo dos seres inteligentes e livres, o seu estado será digno do seu grau, o seu operar digno do seu estado, somente quando com as suas mentes compreenderão e com vontade seguirão a própria vocação divina.

Pe. JUSTINO RUSSOLILLO,
Fonte: Livro Sobre a Divina Vocação, 1928