Clamor pela Paz

Nestes dias o mundo vive de novo os sobressaltos da guerra. Em mensagem urgente, endereçada a todos os bispos do mundo, neste final de semana Bento 16 pediu que todas as dioceses rezassem pela paz na Terra Santa e no Oriente Médio.

Enquanto sentimos aqui por perto o apavoramento da violência, vemos no horizonte se levantar de novo as nuvens da guerra.

O envolvimento aberto do Líbano no conflito entre Israel e os Palestinos traz consigo o perigo iminente do alastramento das ações nos outros países árabes, desencadeando de novo a guerra generalizada, que já aconteceu várias vezes pelo mesmo motivo nas últimas décadas.

Daí a urgência de uma ação internacional, que pressione as partes envolvidas a um imediato cessar fogo, para que se restabeleçam as condições de diálogo, indispensáveis para ao menos se evitar a guerra aberta, que só leva ao agravamento da situação.

Toda a questão do Oriente Médio é muito complexa, de qualquer lado que for analisada.
Ela envolve a situação do povo palestino, que tem direito à sua pátria, a se constituir em estado soberano, ser reconhecido como país independente e ter um governo próprio.

Envolve por outro lado o Estado de Israel, criado pelas Nações Unidas em 1948, que tem direito à sua existência e à sua segurança, dentro de fronteiras estáveis e definidas.

Envolve a cidade de Jerusalém, que por sua significação histórica necessita de um estatuto especial, que estabeleça a sua relação política com a região mas resguarde também o simbolismo que ela carrega em decorrência de sua trajetória histórica.

Estas questões já são difíceis em si mesmas. Foram agravadas por outros fatores, que acabaram complicando ainda mais o difícil relacionamento entre judeus e palestinos. Os dois povos possuem laços históricos comuns. Mas vicissitudes políticas contrastantes os colocaram num intrincado conflito, que agora necessita da solidariedade internacional para ser superado.

A situação do Oriente Médio acaba se tornando espelho da humanidade. De um lado, ela deriva de impasses anteriores, cujas conseqüências ainda permanecem. Se não tivesse acontecido o terrível holocausto do povo judeu, certamente não teria resultado o contexto político que levou as Nações Unidas a criar o Estado de Israel.

Na década de noventa as esperanças de paz foram crescendo. Parecia que finalmente se chegaria a um entendimento básico, que possibilitasse a criação do Estado Palestino, com o conseqüente reconhecimento mútuo entre as duas nações, a fixação clara de fronteiras, e definição do relacionamento entre os dois países.

Mas infelizmente as esperanças esvaíram, diante de resistências que acirram os ânimos, desencadeiam reações violentas, e restabelecem o clima de guerra. Quando parecia que se caminhava para a solução definitiva do impasse, recrudescem as hostilidades.

Agora existe outra circunstância, que preocupa e entristece. Neste início de novo milênio, pesa negativamente o precedente da guerra no Iraque. Ela se constituiu em clara manifestação da lei do mais forte. Ninguém se atreveu a contestar o poderio militar dos Estados Unidos. E infelizmente a porta ficou aberta, para que agora o poder das armas se sobreponha à força da razão.

Toda guerra nos acabrunha e nos envergonha. Precisamos, sempre de novo, aprender os caminhos do entendimento e da paz, que só pode existir como fruto da justiça.