Celebração

Há cinco anos (19/04/2005) o então Cardeal Joseph Ratzinger era eleito Papa pelos cardeais da Igreja, num dos conclaves mais rápidos da história da Igreja. Embora ele já tivesse uma idade avançada, 78 anos na época, os cardeais não duvidaram em escolhê-lo para substituir João Paulo II; uma tarefa muito difícil. Pela rapidez da eleição ficou claro que ele era o Papa desejado por Deus para a Igreja neste século. Certamente, os prelados entenderam, assistidos pelo Espírito Santo, que não havia outro melhor do que ele para conduzir a “barca de Pedro” nesses tempos tão difíceis para a Igreja e para o mundo.

Bento XVI começou seu pontificado com uma frase que expressa bem a sua pessoa: “Um humilde servo da vinha do Senhor”. Nesses cinco anos, o Sumo Pontífice mostrou que realmente é um homem humilde e servidor fiel de Jesus Cristo. Anunciou a verdade de Cristo por toda a terra de maneira humilde, mas firme, denunciando desde o início a “ditadura do relativismo”, que deseja, segundo ele, banir a verdade de Deus e lançar a humanidade no caos do niilismo. Numa frase ele resumiu tudo: “O homem moderno criou um mundo que já não tem mais lugar para Deus”. Corajosamente ele tem dialogado com o mundo, especialmente com os homens ligados à cultura, à mídia, entre outros, sem medo de apresentar a proposta salvífica de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por defender, de maneira humilde, mas corajosa, a verdade do Evangelho, ele tem sido odiado, ofendido e caluniado em muitos lugares. Sua luta em defesa da vida, contra o aborto, a eutanásia, a manipulação de embriões, a camisinha, entre outros, faz dele uma permanente vítima daqueles que perderam o valor transcendente da vida humana.

Diante das denúncias de pedofilia no clero o Santo Padre tem agido com firmeza, deixando claro, como fez João Paulo II, que não há lugar na Igreja para religiosos que maltratam os jovens e as crianças. Uma onda tremenda da mídia se abate sobre ele nesse aspecto com a intenção de desmoralizá-lo juntamente com a Igreja, mas os católicos sabem que ele é inocente. Sobre esse assunto Sua Santidade escreveu a “Carta aos católicos da Irlanda” (19 de março de 2010), coibindo toda forma de pedofilia.

É importante lembrar que o Papa Bento XVI foi um importantíssimo auxiliar de João Paulo II, por 25 anos foi Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, que cuida da pureza da “sã doutrina” em toda a Igreja. E, por ele ter feito um trabalho sério nesse sentido, coibindo os erros e heresias, como por exemplo, a teologia da libertação, foi alvo de muitas críticas, o que infelizmente ainda existe fora e dentro da própria Igreja.

Quando ele foi eleito Papa, um cardeal do Vaticano disse que uma das grandes missões de João Paulo II foi lutar contra o comunismo no Leste Europeu e que a grande missão de Bento XVI seria agora lutar contra o ateísmo e o laicismo anticatólico dos nossos tempos. E isso tem se concretizado; ele tem sido hostilizado por enfrentar o ateísmo moderno.
Embora os dois Papas [João Paulo II e Bento XVI] sejam diferentes em seus perfis pessoais, ambos se identificaram sobre a missão da Igreja no mundo. O Pontífice atual deu sequência ao trabalho de João Paulo II; continuou as inúmeras visitas aos países, inclusive ao Brasil, onde esteve presente no V CELAM, presidido por ele. Nessa oportunidade, o Papa deu um impulso enorme à evangelização na América Latina com o tema “discípulos e missionários de Jesus Cristo”.

Na mesma linha de João Paulo II, ele tem dado ênfase ao saudável e correto ecumenismo e ao diálogo ecumênico com as outras religiões, sem aceitar o irenismo de uma “unidade a qualquer preço”. Neste sentido ele tem dialogado permanentemente com as Igrejas ortodoxas e com as comunidades eclesiais dos anglicanos, luteranos e presbiterianos, nas quais o ecumenismo está mais adiantado. Como fazia João Paulo II, Bento XVI continua com a Semana de Orações pela unidade dos cristãos, e não cessa de ensinar que a oração é a mola propulsora do ecumenismo.

Destacamos também as inúmeras audiências do Santo Padre com os bispos de todo o mundo que vão a Roma a cada cinco anos na visita “Ad limina apostolorum” (Ao túmulo dos Apóstolos). Nela ele conversa individualmente com cada bispo (são cerca de 4.000 no mundo todo). Neste ano ele está recebendo os bispos do Brasil. Aos bispos do Sul (RS e SC) ele fez uma enérgica e inequívoca condenação da teologia da libertação marxista que, segundo ele, provocou e provoca ainda “rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia e fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas.” (acidigital.com – 05 /12/2009). Por outro lado, falando aos bispo da Regional Nordeste II, reprovou o sincretismo religioso na liturgia; ele disse: “[…] em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa (cf. Redemptionis Sacramentum, 79)”!

Bento XVI já fez 17 viagens apostólicas pela Itália – ele é o Bispo de Roma – e visitou 16 países: Chipre (4-6 de junho de 2010); Portugal (11-14 de maio de 2010); Malta (17-18 de abril de 2010); República Tcheca (26-28 de setembro de 2009); Terra Santa (8-15 de maio de 2009); Camarões e Angola (17-23 de março de 2009); França – 150° aniversário das Aparições de Lourdes (12-15 de setembro de 2008); Sidney (Austrália) – XXIII Jornada Mundial da Juventude (12-21 de julho de 2008); Estados Unidos da América e Organização das Nações Unidas (15-21 de abril de 2008); Áustria – 850° aniversário da fundação do Santuário de Mariazell (7-9 de setembro de 2007); Brasil – V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (9-14 de maio de 2007); Turquia (28 de novembro – 1º de dezembro de 2006); München, Altötting e Regensburg (9-14 de setembro de 2006); Valência – V Encontro Mundial das Famílias (8-9 de julho de 2006); Polônia (25-28 de maio de 2006); JMJ – Colônia, Alemanha (18-21 de agosto de 2005).

Em apenas cinco anos ele escreveu três importantes encíclicas: “Deus caritas est” (25 de dezembro de 2005); “Spe salvi” (30 de novembro de 2007) e “Caritas in veritate” (29 de junho de 2009), apontando caminhos para a Igreja hoje, denunciando os erros da sociedade, iluminando as nações com a luz de Cristo. São encíclicas abrangentes que não se limitam à Igreja, mas a toda a humanidade. Na primeira delas ele mostra a prevalência do amor na obra de Deus; na segunda, mostra a importância da esperança na salvação; e na terceira, mostra que a caridade deve ser feita na verdade; sem verdade não existe verdadeira caridade nem salvação. São encíclicas nas quais Bento XVI mostra toda a potencialidade de seus conhecimentos filosóficos, teológicos, antropológicos e científicos. Além das encíclicas o Papa nos deu a “Sacramentum Caritatis”, uma Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja (22 de fevereiro de 2007).

Nesses cinco anos, apesar de sua idade (83 anos) Sua Santidade atendeu inúmeras audiências, pronunciou muitos discursos, escreveu vários Moto Proprios, Homilias, Cartas, Cartas Apostólicas e várias Constituições Apostólicas. É de se destacar a “Anglicanorum coetibus” sobre a instituição de Ordinariatos Pessoais para os Anglicanos que entram em plena comunhão com a Igreja Católica (4 de novembro de 2009). Com isso, milhares de anglicanos de todo o mundo estão regressando ao seio da Igreja Católica.

Precisamos destacar ainda as belíssimas Catequeses das quartas-feiras no Vaticano, nas quais ele tem enfocado importantes assuntos ligados à vida da Igreja, sua história, moral, espiritualidade, entre outros. São ensinamentos e exortações riquíssimas que edificam toda a Igreja.

Há que se destacar duas inspiradas iniciativas do Papa nesses anos: o Ano Paulino e o Ano Sacerdotal. Pelo primeiro, ele revelou à Igreja a necessidade de dar sequência ao que João Paulo II tinha pedido: “uma nova evangelização”, com “novo ardor, novos métodos e nova expressão”; com a coragem e o zelo apostólico de São Paulo. Com o Ano Sacerdotal, ele está renovando a vida dos presbíteros; mostrando e incentivando-os a viverem o exemplo de São João Maria Vianney, o seu patrono, numa vida de total dedicação ao Reino de Deus, sem questionamentos ao Magistério, na obediência ao Papa, sem exigências descabidas como a eliminação do celibato, proposta de sacerdócio feminino e outras coisas que só perturbam a vida da Igreja e dos fiéis.

Por tudo isso, e muito mais, o Papa Bento XVI já mostrou muito bem por que o Espírito Santo o colocou na Cátedra de Pedro. É um gigante que não tem medo e que tem força suficiente para carregar o cajado do Bom Pastor e que sabe defender as ovelhas que o Senhor lhe confiou.

Santa Teresa d’Ávila recomendava que é preciso ter um diretor espiritual “sábio, douto e santo”, para não errar o caminho da santidade. Demos graças a Deus que deu à Igreja esse homem. Rezemos por ele e por suas intenções e que não lhe falte saúde e paz.

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Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino