Cardeal brasileiro prega retiro em Roma

Dia 23 de fevereiro deste ano encerraram-se os exercícios espirituais da Cúria Romana, com a participação pessoal do Papa João Paulo II. O eixo do retiro foi sobre “o discipulado de Cristo”. Ao agradecer, o Papa afirmou que “o discipulado de Cristo constitui o elemento fundamental da nossa vida”.

O que chamou muito atenção foi o próprio pregador: meu conterrâneo do então Município de Montenegro, Dom Cláudio Hummes, Cardeal Arcebispo de São Paulo. Os vaticanistas não deixaram de notar que despontava um “papável” do 3° mundo. Ele mesmo, perguntado sobre quem deveria ser eleito Papa, deu três critérios: Os Cardeais deverão auscultar a vontade de Deus; os ilustres eleitores devem examinar as necessidades atuais da Igreja; os purpurados hão de perscrutar os sinais dos tempos, a conjuntura do mundo.

No mesmo dia 23 de fevereiro, desta vez em Castel Gandolfo, residência de verão dos Papas, teve início um outro retiro para 80 Bispos de todos os continentes da terra, sob a coordenação do Cardeal Miloslav de Praga. Quando sacerdote, Miloslav foi perseguido pelo comunismo. Por oito anos o doutor em filosofia e pesquisador científico percorreu as ruas de Praga para limpar as vitrines e janelas das casas. Fez assim uma experiência profunda dos problemas do povo e do Evangelho vivido em meio à perseguição.

Escolhi o retiro do “limpador de vidros” por dois motivos: Primeiro, pelo tema: A espiritualidade de comunhão, a nova evangelização e a cultura da unidade. Em meio ao esfacelamento das instituições e da própria cultura ocidental, a Igreja é chamada a ser “o lar da comunhão” e “escola de comunhão”. Para que se possa dizer, como no início da era apostólica: “Vede como se amam”.

Em segundo lugar, uma partilha sobre a vida da Igreja. Por exemplo, os católicos em meio ao fundamentalismo islâmico, conforme nos contou Dom Warduni, Arcebispo de Bagdá; ou em Madagascar, segundo testemunho de Dom Romanarivo; ou ainda a tragédia de Goma (Congo), engolida por um vulcão; a situação dos católicos na China, na Tailândia, na Oceania, na Europa, nas Américas. Muito me ajudou para renovar o ardor missionário.

Mas mergulhamos também no mistério do amor divino, que chegou ao auge na cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste”? Deste amor crucificado nasceu a nova humanidade. A Igreja também deve se colocar sob a cruz, em amor à humanidade. E dar o dom de si mesma, para ser em meio aos caminhos das pessoas, a pupila dos olhos de Deus.

Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul – RS