Buscai primeiro

Quando a gente põe um pouco mais de atenção no noticiário dos jornais, das emissoras de rádio e televisão, o desânimo, quando não o medo, nos domina.
Não é fácil viver num mundo assim.

Cataclismas metereológicos e catástrofes sociais, atentados à propriedade e à vida atingindo inocentes.

Há, nas guerras, princípios que são mais ou menos seguidos, hoje menos seguidos, como o respeito aos alvos civis e o tratamento humanitário aos prisioneiros, mas, na guerrilha urbana ou rural nem isso há, senão a destruição de toda a ordem.

Aparecem, então, e proliferam os cientistas sociais de todas as emissoras, de todas as escolas e os políticos oportunistas, inclusive aqueles que oferecem ajuda ostensivamente, mas são incapazes de se reunirem, como líderes responsáveis, e traçarem uma estratégia objetivando o bem comum.

A situação não é única na história da humanidade e de cada povo. Sempre ocorreu, quando cansados de um modelo de civilização ou de uma ordem social que se tornaram ou se tornam incapazes de solucionar os anseios humanos, pessoais e coletivos, o grupo corre atrás do novo ou fabrica para si “mestres à feição dos seus desejos”, como expôs São Paulo ao seu discípulo e “filho muito amado”, Timóteo.

Agostinho, Ambrósio, Jerônimo que assistiram a derrocada do Império, com os “Bárbaros” batendo às portas de Roma, tiveram a coragem profética de denunciar as causas, enquanto implantavam na Cruz de Cristo os fundamentos de uma nova era que Bento e seus filhos levaram adiante na evangelização da Europa medieval.

No século XVI, quando se rompeu a unidade da fé no Ocidente Europeu, implantando-se os fundamentos do individualismo, muito mais que na cultura, onde tem seus méritos, mas também na fé, o Concílio Tridentino, talvez com um pouco de excesso no regulamento comunitário, firmou os princípios doutrinários decorrentes do Evangelho.

Dada a evolução técnica e cultural, o crescimento vertiginoso da população que em pouco mais de cinco décadas triplicou, os movimentos migratórios, a concentração da renda em parcela mínima da sociedade que se espraia na miséria, a crise que subjaz em todos os acontecimentos de hoje é muito mais grave.

As sugestões violentas, como a pena de morte e a eliminação da vida pelos abortos, a força das armas e do poderio militar têm demonstrado sua ineficiência. Recebem até, pelo contrário, a contradita com agressão mais violenta.

Há também, as paliativas, como o empenho na educação e maior atenção do Poder pelos mais pobres e necessitados que, infelizmente, soam mais como politiqueiras, pois já há muito deveriam ter sido implantadas.

Em obediência ao preceito paulino ao mesmo Timóteo no texto citado –de pregar a palavra “opportune et inopportune” temos de inocular a fé na cultura que vivemos.
Esta é a missão do cristão, que pelo batismo é apóstolo, é enviado.

Nada há que possa orientar uma nova civilização que está a nascer dos escombros de um individualismo que atingiu as raias do ateísmo e, conseqüente, da negação da própria dignidade do homem senão o Evangelho.

O jurista Fábio Comparato, em seu livro sobre a Ética, diz que encontramo-nos numa encruzilhada nos albores deste século XXI. O individualismo que nasceu no meio escolástico medieval e foi levado à prática com a Reforma e movimentos posteriores representa uma evolução. O homem tornou-se o centro do Universo e, com o dom da sua liberdade, cabe-lhe ordenar o destino do mundo ou segundo a ordem divina ou levando-o a “cidade dos homens”, oposta à “cidade de Deus”, parafraseando Agostinho. Está, pois, em nossas mãos.

Abrindo o Evangelho temos a aula inaugural de Cristo no Sermão da Montanha. Ali está realmente o que pode nos ajudar a sair do marasmo dos dias atuais e fincar os alicerces de uma nova era: a abertura de nosso coração à simplicidade da vida, à pureza, ao ósculo da paz. Será uma traição ao Evangelho se deixarmos passar esta oportunidade rara na história, de poder marcá-la com o sinal redentor de Cristo para as gerações futuras, gozando desde agora as riquezas evangélicas. “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será acrescentado”.