Aprender a amar

Se não aprendemos de Jesus, não amaremos nunca. Se pensássemos, como alguns, que conservar um coração limpo, digno de Deus, significa não modifica-lo, não contamiá-lo com afetos humanos, então o resultado lógico seria tornarmos insensíveis diante da dor dos demais. Seríamos capazes somente de uma caridade oficial, seca e sem alma, não da verdadeira caridade de Jesus Cristo, que é carinho, calor humano. Com isso não apoio falsas teorias, que são tristes fugas para desviar os corações – afastando-os de Deus – e leva-los a más ocasiões e à perdição.

É preciso pedir ao Senhor que nos conceda um bom coração, capaz de compadecer-se das penas das criaturas, capaz de compreender que, para remediar os tormentos que acompanham e angustiam as almas neste mundo, o verdadeiro bálsamo é o amor, a caridade: todos os demais consolos apenas servem para distrair um momento, e deixar mais tarde amargura e desespero.

Se queremos ajudar aos demais, temos de amá-los com um amor que seja compreensão e entrega, afeto e voluntária humildade. Assim entenderemos por que o Senhor decidiu resumir toda a Lei nesse duplo mandamento, que é, na realidade, um mandamento só: o amor a Deus e o amor ao próximo, com todo nosso coração.

Talvez pensais agora que às vezes os cristãos – não os outros: você e eu – nos esqueçamos das aplicações mais elementares desse dever. Talvez penseis em tantas injustiças que não se remediam, nos abusos que não são corrigidos, nas situações de discriminações que se estendem de uma geração a outra, sem que ponha em caminho uma solução desde a raiz.

Não posso, nem tenho por que, propormos a forma concreta de resolver esses problemas. Mas, como sacerdote de Cristo, é dever meu recordar-lhes o que a Sagrada Escritura diz. Meditai na cena do juízo, que o mesmo Jesus descreveu: apartai-vos de mim, malditos, e ide ao fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; fui peregrino e não me recebestes; estive nu, e não me vestistes; enfermo e encarcerado, e não me visitastes.

Um homem ou uma sociedade que não reaja ante as tribulações ou as injustiças, e que não se esforce por alivia-las, não são um homem ou uma sociedade à medida do amor do Coração de Cristo. Os cristãos – conservando sempre a mais ampla liberdade à hora de estudar e pôr em prática as diversas soluções e, portanto, com um lógico pluralismo –, têm de coincidir no idêntico afã de servir a humanidade. De outro modo, seu cristianismo não será a Palavra e a Vida de Jesus: será um disface, um engano de rosto a Deus e de rosto aos homens.